O que é uma empresa familiar e o que fazer para dar certo?
Mário Rocha, diretor comercial da Engemec, fala sobre os diferentes modelos de gestão de uma empresa familiar e dá dicas para separar o profissional do pessoal.
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Publicado em:25/03/2021 às 09:00
Atualizado em:25/03/2021 às 09:00
A expressão popular "amigos, amigos, negócios à parte" geralmente é utilizada quando queremos deixar claro que, em negociações profissionais, o nível de amizade não influencia nas decisões. Em outras palavras, explica que não se deve misturar amizades com os negócios.
Mas, o que fazer quando se trata de família e empresas familiares? Como separar o negócio do pessoal?
O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) define um negócio familiar como a interação e dois sistemas separados, mas conectados: a família e o negócio. E essas empresas podem incluir diversos membros da família, tanto na parte administrativa quanto como acionistas e membros da diretoria.
Sabendo que em uma empresa familiar pode estar incluída diversos membros de uma família, imagine a situação:
Você e sua mãe fazem a gestão de uma empresa familiar. Acontece uma briga pessoal entre vocês e, no dia seguinte, precisam se reunir para tomar uma decisão séria que poderá mudar os rumos da empresa. Ih, rolou um climão, né?
A situação é hipotética, mas não impossível. Por isso, é preciso saber separar o lado pessoal do profissional. Mário Rocha, diretor comercial da Engemec, explica que, de maneira geral, é muito difícil fazer essa separação, principalmente quando esse parente está ligado à alta direção da empresa.
Entretanto, o executivo dá algumas dicas para quem está passando por essa situação:
Manter distância no período de trabalho;
Ter feedback de atuação através do RH; e
Mensurar através de metas de atendimento o desempenho do parente.
"Um tabu muito comum se refere a forma na qual os outros colaboradores veem a atuação do parente, visto que família teria uma vantagem ou mesmo um espião. A melhor forma para quebrar este paradigma é que a função deve ser compatível com o perfil profissional", ressalta Rocha.
Ele ainda acrescenta ser importante deixar claro que "todos são colaboradores", desde o dono até o faxineiro. Dessa forma, toda e qualquer distinção tem que ser incentivada pela meritocracia e desempenho, e não por laços familiares.
"Todo e qualquer negócio é movido pela vontade de crescimento profissional lastreado na rentabilidade do negócio. Torná-lo próspero com crescimento constante deverá ser a meta de todos os colaboradores e especial do parente. Portanto, o engajamento do parente deve ser ainda maior que os outros porque os laços de relacionamento se estendem de forma mais contundente."
Quem está abrindo uma empresa ou já está nesse ramo há algum tempo sabe da importância de ter uma equipe alinhada aos valores e cultura da organização. E quando falamos de uma empresa familiar, essa situação não é diferente.
Atualmente, há muitas debates no mercado de trabalho sobre as competências de uma boa equipe, principalmente no que se refere a posições estratégicas em uma empresa.
Rocha comenta que existe uma tendência de o empresário buscar segurança em pessoas de seu convívio próximo. E essa é a principal vantagem de ter uma empresa familiar. "É uma pessoa que você conhece seja por convívio próximo, seja pela proximidade da convivência familiar", ressalta.
Em contrapartida, por conta das questões de proximidade e confiança, o executivo explica que há um sério risco de que faltem a esse familiar as competências técnicas exigidas ao cargo.
Rocha deixa os seguintes insights. Fique atento!
O parente pode ser uma mão de obra mais barata, mas não mais eficiente;
O parente pode ser leal, mas não tem o mesmo apreço pela empresa;
O parente pode ser o mais confiável, mas geralmente não possui as competências necessárias para o desempenho do cargo.
"Para que realmente haja uma avaliação criteriosa para o desempenho, faz-se necessário que este parente passe por um processo seletivo com demais candidatos, ou seja, a sua empresa precisa possuir critérios de contratação, critérios de qualificação, habilidades e conhecimentos."
Modelos de gestão de uma empresa familiar
Se você tem o desejo de começar uma empresa familiar e não sabe muito bem por onde começar, saiba que o caminho pode não ser simples, mas com alguns cuidados o seu negócio poderá ter bons frutos.
Segundo Rocha, o primeiro passo seria implementar um processo seletivo com o objetivo de fazer o familiar concorrer e lutar pela oportunidade. Outro conselho dado pelo executivo é ter em cada cargo ou função o profissional que supere as competências necessárias para tal. Por fim, sempre acompanhe o desempenho e efetividade do parente com metas claras.
Confira, abaixo, os modelos de gestão de empresa familiar e suas principais características:
Empresa familiar tradicional
São consideradas as mais comuns. Em regra, elas possuem capital fechado e o controle administrativo e financeiro é feito exclusivamente por familiares.
"São empresas com maior controle dos proprietários e consideradas de pouca transparência", diz Rocha.
Empresa de trabalho familiar
Esse tipo de empresa familiar é muito semelhante ao anterior. Seu critério considera a combinação entre propriedade e gestão. Dessa forma, os membros da gestão da empresa são sempre da família, de modo que os filhos ou parentes de grau mais próximo ao do fundador são incentivados a trabalhar nela.
Empresa de administração familiar
Também é parecida com o tipo anterior e o tradicional. Porém, a principal diferença dessa empresa familiar é que, embora todos os membros exerçam controle sobre o negócio, aqueles que ocupam as funções de gestão são capacitados para isso.
"A Engemec, por exemplo, é uma empresa de administração familiar, pois conta com um dos sócios que é o Diretor Responsável Técnico de Engenharia - meu irmão - e eu, que sou o responsável pela Diretoria Comercial. Possuímos formação e capacitação curricular, bem como experiência para as atividades que ocupamos. A empresa conta com contratados que não são familiares nas funções de supervisão técnica para as áreas administrativa/financeira, RH e Operações."
Empresa familiar híbrida
Nesse caso, a empresa familiar apresenta um pouco mais de abertura em relação aos tipos de empresas familiares anteriores. Assim, o capital é aberto, o controle é exercido pela família, mas existe a presença de gestores profissionais, que não sejam necessariamente da família, em cargos de direção.
Exatamente por isso elas são consideradas um pouco mais transparentes e profissionais.