A saúde mental dos trabalhadores essenciais durante a pandemia

Especialista fala sobre os cuidados a serem tomados para preservar o psicológico

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Publicado em:26/05/2020 às 07:00
Atualizado em:26/05/2020 às 07:00

Os funcionários dos serviços essenciais trabalham, diariamente, na linha de frente no combate à Covid-19, doença provocada pelo novo Coronavírus. Seja na assistência direta ao paciente ou na prestação de serviços como motorista de ônibus, entregadores de delivery e funcionários de instituições financeiras, por exemplo, além do risco da contaminação, esses profissionais também colocam em risco a sua saúde psicológica

Além das responsabilidades inerentes aos seus ofícios, esses trabalhadores recebem, agora, diversas orientações específicas de como e onde tocar, o que podem ou não fazer, ocasionando um estado mental de alerta a todo momento.

Para a psicóloga, Elisabeth Hellen Pereira, esse estado de alerta pode trazer uma sensação de cansaço mental constante e prejuízos para o dia a dia desses profissionais. Por isso, nesse contexto, se manter psicologicamente saudável vem de um movimento de busca pelo bem estar, uma das características de uma mente saudável. 

"Algumas pessoas encontram bem estar praticando exercícios físicos, outras lendo, assistindo filmes ou séries, conversando com seus amigos e familiares, tirando um tempo para cuidar de si entre outras atividades. Sendo assim, cada profissional deve pensar no que lhe traz bem estar para decidir quais são atividades possíveis para colocar em prática", afirma.

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A psicóloga ressalta que, de acordo com alguns autores da Psicologia, as estratégias de enfrentamento podem ser focalizadas no problema, na emoção, além de busca por suporte social, espiritualidade e distração. Dessa forma, cada pessoa vai escolher as estratégias para lidar com o estresse que lhe seja mais pertinente.

"Por exemplo, uma pessoa que foca no problema vai se engajar em modificar a situação causadora de estresse, já quem foca na emoção pode ter atitudes de afastamento da fonte de estresse. Há também os que buscam suporte social entrando em contato com amigos e familiares; há quem busque conforto na espiritualidade, força e coragem através da fé; e os que usam de passatempos como leitura, séries e filmes e atividades manuais – desenho, pintura, bordado e outros", explica a especialista. 

 

mulher pensativa olhando a janela
Estado de alerta pode trazer cansaço mental constante e
prejuízos para o dia a dia (Foto: Pixabay)

 

Como identificar uma crise de ansiedade e o que fazer nesse momento? 

Elisabeth conta que muitos profissionais têm relatado o aumento dos casos de transtornos de ansiedade e depressão. A psicóloga explica que uma crise de ansiedade, por exemplo, tem vários sinais que podem se apresentar de maneiras diferentes em cada indivíduo. Dentre eles, a especialista destaca os seguintes: 

  • Em geral, pode se apresentar com taquicardia ou palpitações;
  • Dor ou desconforto torácico;
  • Sensação de falta de ar;
  • Desconforto respiratório;
  • Medo de perder o controle;
  • Medo de morrer;
  • Tremores; 
  • Formigamentos, entre outros sinais e sintomas. 

 

"O mais importante, quando perceber algum dos sintomas, é colocar os exercícios de respiração em prática, fazer o possível para trazer a atenção para o 'aqui-agora'. Além disso, procurar ajuda, num primeiro momento, de alguém de confiança que esteja perto no momento da crise e também procurar ajuda profissional", aconselha.

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Para os profissionais que estiverem passando por um grande momento de estresse e ansiedade, Elisabeth conta que os exercícios de respiração diafragmática podem ajudar a diminuir os sintomas. No entanto, a Psicologia e o autocuidado podem contribuir ainda mais para a saúde mental desses profissionais. 

"O autocuidado vem do movimento em busca de bem estar de uma mente saudável, então uma pessoa que não está com a mente saudável pode ter dificuldade para colocá-lo em prática e é nesse ponto que entra contribuição da Psicologia. A psicoterapia coloca a pessoa no lugar de protagonista de sua própria história e é o que pode fazer a diferença para que esse movimento em busca de bem estar possa começar."

Professores também precisam cuidar da saúde mental 

Além dos trabalhadores dos serviços essenciais, outros profissionais precisaram se reinventar para continuar realizando suas tarefas de trabalho de forma remota, como é caso dos professores, que passaram a ministrar suas aulas através da tela de um computador. 

Segundo Elisabeth, com a adoção da modalidade EaD, a maioria dos professores teve que aprender a usar todo o aparato necessário para as aulas online, como equipamentos, usar as redes sociais e aplicativos específicos para aulas, aprender a editar vídeos e criar cenários:

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"As circunstâncias trouxeram ainda mais desafios para essa classe profissional, pois a dinâmica de uma aula presencial onde é possível conversar com os alunos, fazer intervenções, esclarecer dúvidas e desenvolver vínculo que são importantes para a aprendizagem, foram substituídos pela presença de uma câmera e alguns outros recursos."

A psicóloga enumera o que pode ser feito pelos profissionais da educação frente ao atual cenário dos educadores de todo o país: 

  1. Não se cobre tanto (será que é possível dar conta de tudo?);
  2. Busque entender seu papel e fazer o que é possível para exercê-lo;
  3. Faça o que está dentro da sua possibilidade. Acolha o que está sentindo e se permita descansar, ler, estudar, trabalhar, fazer exercícios, passar um tempo com sua família, passar um tempo sozinho, dormir, assistir algo;
  4. Procure ajuda para lidar com isso.

"Estamos num cenário inédito que pode mobilizar diversos sentimentos e sensações desagradáveis trazendo angústia e medo. Sendo assim, procurar ajuda de um profissional de saúde mental pode fazer a diferença para lidar com tudo isso de uma maneira mais saudável. É importante lembrar que estamos todos juntos e que juntos iremos sair disso", comenta.

Por Cinthia Guedes - cinthia.guedes@folhadirigida.com.br

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