Classes DE utilizam mais o celular para estudo e teletrabalho, diz estudo
Painel TIC Covid-19 teve como parâmetros os indicadores da pesquisa TIC Domicílios, o que permitiu fazer comparação com dados coletados antes da pandemia.
Autor:
Publicado em:09/11/2020 às 10:00
Atualizado em:09/11/2020 às 10:00
Estudo feito pelo Painel TIC Covid-19 mostrou que, neste período de distanciamento social, o celular tem sido o principal dispositivo utilizado para acompanhar atividades de ensino remoto por usuários de internet com 16 anos ou mais, sobretudo nas classes DE.
Situação semelhante ocorre em relação ao teletrabalho, que teve a prevalência do uso de telefones celulares entre profissionais dessa classe social.
O levantamento faz parte da terceira edição do Painel TIC Covid-19, que foi realizado pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), ligado ao Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).
O Painel TIC Covid-19 teve como parâmetros os indicadores da pesquisa TIC Domicílios, o que permitiu criar uma base de comparação com dados coletados antes da pandemia.
Nessa terceira fase, as estimativas representam um contingente de, aproximadamente, 101 milhões de usuários de internet, o que corresponde a 83% dos usuários com 16 anos ou mais, público-alvo da pesquisa. A coleta de dados foi realizada entre os dias 10 de setembro e 1º de outubro.
101 milhões de usuários de internet fizeram parte do estudo
(Foto: Pixabay)
Barreiras tecnológicas encontradas no ensino remoto
De acordo com o levantamento, três quartos dos usuários de internet com 16 anos ou mais e que são das classes DE (74%) acessam a rede exclusivamente pelo telefone celular. Entre os usuários das classes AB, esse percentual é de 11%.
Entre os usuários de internet com 16 anos ou mais, que frequentam escola ou universidade, o celular aparece também como a ferramenta utilizada com maior frequência (37%) para assistir às aulas e atividades educacionais remotas.
A pesquisa identificou ainda que o uso do dispositivo como o principal recurso para participação nas atividades é maior entre os usuários das classes DE (54%), se comparado com o percentual daqueles das classes C (43%) e AB (22%).
Já o uso de computador (notebook, computador de mesa e tablet) como o principal recurso para acompanhamento do ensino remoto é maior nas classes AB (66%), sendo menos acessível aos estudantes das classes C (30%) e DE (11%).
"A falta de recursos digitais para acessar as aulas e atividades remotas é um dos principais aspectos que podem afetar a continuidade das rotinas educativas durante a pandemia. As disparidades de acesso às TIC entre estudantes dos distintos perfis socioeconômicos também criam oportunidades desiguais para a aprendizagem", destaca Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br|NIC.br.
O ensino remoto ainda tem outras barreiras a serem enfrentadas, como:
a dificuldade de esclarecer dúvidas com os professores (38%); e
a falta ou a baixa qualidade da conexão à Internet (36%).
Essas foram as principais queixas atribuídas pelos alunos de 16 anos ou mais que frequentam escola ou universidade. Ambas foram as barreiras mais reportadas pelos estudantes das classes DE (41% e 39%, respectivamente).
Ainda fazem parte dessa lista, a baixa qualidade do conteúdo das aulas (31%) e a falta de acesso a materiais de estudo (25%).
Dentre os motivos mais citados pelos entrevistados para o não acompanhamento de atividades educacionais remotas foram:
a necessidade de buscar emprego (56%);
a necessidade de cuidar da casa, dos irmãos, filhos ou de outros parentes (48%); e
a falta de motivação para assistir às aulas (45%).
Entre os usuários das classes AB, os principais motivos foram não conseguir ou não gostar de estudar a distância (43%); cuidar da casa, dos irmãos, filhos ou outros parentes (38%) e falta de motivação (35%).
Já entre os indivíduos das classes DE, as questões mais apontadas foram a necessidade de buscar emprego (63%), de cuidar da casa, dos irmãos, filhos ou outros parentes (58%) e a falta de equipamentos para acessar as aulas (48%).
Ferramentas utilizadas no teletrabalho
Aproximadamente quatro em cada dez usuários de internet que trabalharam durante a pandemia realizaram o teletrabalho, o que corresponde a 23 milhões de pessoas. Essa situação ocorreu predominantemente nas seguintes situações:
indivíduos com ensino superior (65%);
indivíduos pertencentes às classes AB (70%); e
indivíduos com 60 anos ou mais (58%).
Perfil semelhante foi observado entre os que mais recorreram ao notebook para exercer suas atividades profissionais: 52% eram das classes AB; 56% tinham ensino superior e 67% estavam na mesma faixa etária descrita acima (60 anos ou mais)
Quando o dispositivo usado para trabalhar foi o celular, os resultados foram diferentes: 84% dos usuários de internet das classes DE fez uso de smartphones para atividades de trabalho; 70% com ensino fundamental, e 56% com idades entre 16 e 24 anos.
A pesquisa também identificou números relacionados ao apoio das organizações para os colaboradores que realizaram o trabalho remoto. Os usuários das classes AB foram os que mais receberam esse tipo de suporte, como notebooks, celulares ou suporte técnico.
Nas demais esferas sociais, menos de um terço recebeu suporte das empresas. De maneira geral, aplicativos de mensagens instantâneas foram as ferramentas mais utilizadas para realizar atividades de trabalho pela Internet (86%), seguidas pelas redes sociais (63%), plataformas de compartilhamentos de arquivos (63%) e plataformas de videoconferência (62%).
A pesquisa apontou também que redes sociais e aplicativos de mensagens tiveram papel estratégico na busca por fontes alternativas de renda durante a pandemia. O estudo verificou que o uso dessas ferramentas para a comercialização de serviços e produtos se intensificou no período.
Entre os que realizaram vendas de bens e serviços por aplicativos de mensagens ou por redes sociais, os maiores percentuais foram de mulheres (37% e 34%, respectivamente); com ensino médio (34% e 32%); e das classes AB e C (cerca de 30%).
Entre os que utilizaram aplicativos como fonte de renda, mais da metade (53%) informou que essa era uma atividade para complementar os rendimentos, enquanto cerca de um terço (32%) informou que era o único trabalho realizado durante a pandemia.
"Aliado às limitações que o acesso desigual a dispositivos digitais impõe, é fundamental considerar como as disparidades socioeconômicas entre indivíduos podem representar um aproveitamento menor de funcionalidades oferecidas pelas TIC para o teletrabalho", comenta Barbosa, gerente do Cetic.br.
Para o coordenador do CGI.br, Marcio Nobre Migon, "os esforços para a manutenção da coleta de dados durante a pandemia Covid-19 não somente mostram o compromisso do CGI.br e do NIC.br com a produção regular de estatísticas sobre a Internet no Brasil mas, sobretudo, trazem informações importantes sobre o impacto da pandemia nos hábitos de uso da rede, que são relevantes para os gestores públicos, para o setor privado e para a sociedade brasileira".