Temos uma imensa dificuldade em perceber nossos próprios vieses inconscientes, é o que chamamos de ponto cego (blind spot). É mais fácil identificarmos quando alguém está sendo preconceituoso ou estereotipando outra pessoa, do que percebermos a nós mesmos.
Como o nosso cérebro tem que lidar com milhares de informações por segundo, para que consiga dar conta, ele procura por padrões que considera mais importantes e cria atalhos para reconhecê-los, como um piloto automático.
No entanto, esses atalhos têm uma desvantagem, eles são tendenciosos, pois são adquiridos ao longo da nossa vida, pelos nossos aprendizados e têm uma forte influência cultural.
Essa vivência forma um poderoso sistema de estereótipos e crenças, que ficam gravados em nosso inconsciente e afetam as nossas atitudes e comportamentos. Por isso, preferimos as pessoas que pertencem ao mesmo grupo que o nosso, e temos uma forte tendência a nos afastar das pessoas que são diferentes.
Um dos vieses que mais impactam as corporações é o viés de afinidade, que é uma forte tendência que temos em selecionar, promover e avaliar melhor as pessoas que se parecem conosco e por quem sentimos mais afinidade.
Essa afinidade pode ser: o gênero, a raça, a nacionalidade, a pessoa ter estudado na mesma faculdade ou ter o mesmo hobby que você, morar ou ser da sua cidade natal, ser da mesma religião, entre outros. Quando sentimos afinidade acabamos favorecendo a pessoa, sem que tenhamos esta percepção de forma consciente.
A interseccionalidade, que é quando a pessoa que se enquadra ao mesmo tempo em mais de uma categoria estereotipada (raça, etnia, gênero, orientação sexual, identidade de gênero, deficiência, classe social), acentua ainda mais ainda o viés inconsciente, levando a desigualdade nas corporações.
Como diz uma das maiores especialistas no tema, Mahzarin Banaji: "Nós preferimos acreditar que somos pessoas sem preconceitos, mas as pesquisas mostram o contrário. Esta é uma constatação desconfortável para a maioria de nós. O primeiro passo para derrotar nossos preconceitos inconscientes é ser honesto conosco sobre como realmente nos sentimos em relação aos outros grupos. Ter um viés não é o fim do mundo, a única vergonha é se você não fizer nenhum esforço para melhorar".
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O primeiro passo é criar um espaço de diálogo seguro e construtivo na sua corporação para a tomada de consciência sobre os vieses inconscientes. É fator chave na desconstrução dos preconceitos arraigados, tratar o tema com empatia para que as pessoas não entrem no modo defensivo.
Ampliar a consciência, combater o preconceito e multiplicar o conhecimento contribui não só para empresas mais justas e sustentáveis, como para um mundo que respeita e valoriza cada vez mais as diferenças.
*Este texto não reflete, necessariamente a opinião da Folha Dirigida.
Sobre a autora
Cris Kerr é CEO da CKZ Diversidade, Mestra em Sustentabilidade e Professora de Diversidade da Fundação Dom Cabral.