Como os vieses inconscientes impactam a diversidade e inclusão?

Para a especialista em Diversidade, Cris Kerr, os vieses inconscientes são tão poderosos quanto imperceptíveis por nós mesmos.

Autor:
Publicado em:13/01/2021 às 14:40
Atualizado em:13/01/2021 às 14:40

*Por Cris Kerr

A pergunta é: será que você tem viés inconsciente? A resposta é sim! Todos temos vieses inconscientes e não temos como negá-los.

Os vieses não são intencionais, eles são baseados nos preconceitos, estereótipos e crenças culturais, no entanto eles formam uma barreira invisível e muito poderosa que dificulta o avanço da diversidade e da inclusão nas corporações.

Temos uma imensa dificuldade em perceber nossos próprios vieses inconscientes, é o que chamamos de ponto cego (blind spot). É mais fácil identificarmos quando alguém está sendo preconceituoso ou estereotipando outra pessoa, do que percebermos a nós mesmos.

Como o nosso cérebro tem que lidar com milhares de informações por segundo, para que consiga dar conta, ele procura por padrões que considera mais importantes e cria atalhos para reconhecê-los, como um piloto automático.

No entanto, esses atalhos têm uma desvantagem, eles são tendenciosos, pois são adquiridos ao longo da nossa vida, pelos nossos aprendizados e têm uma forte influência cultural.

Essa vivência forma um poderoso sistema de estereótipos e crenças, que ficam gravados em nosso inconsciente e afetam as nossas atitudes e comportamentos. Por isso, preferimos as pessoas que pertencem ao mesmo grupo que o nosso, e temos uma forte tendência a nos afastar das pessoas que são diferentes.

Um dos vieses que mais impactam as corporações é o viés de afinidade, que é uma forte tendência que temos em selecionar, promover e avaliar melhor as pessoas que se parecem conosco e por quem sentimos mais afinidade.

Essa afinidade pode ser: o gênero, a raça, a nacionalidade, a pessoa ter estudado na mesma faculdade ou ter o mesmo hobby que você, morar ou ser da sua cidade natal, ser da mesma religião, entre outros. Quando sentimos afinidade acabamos favorecendo a pessoa, sem que tenhamos esta percepção de forma consciente.

A interseccionalidade, que é quando a pessoa que se enquadra ao mesmo tempo em mais de uma categoria estereotipada (raça, etnia, gênero, orientação sexual, identidade de gênero, deficiência, classe social), acentua ainda mais ainda o viés inconsciente, levando a desigualdade nas corporações.

Como diz uma das maiores especialistas no tema, Mahzarin Banaji: "Nós preferimos acreditar que somos pessoas sem preconceitos, mas as pesquisas mostram o contrário. Esta é uma constatação desconfortável para a maioria de nós. O primeiro passo para derrotar nossos preconceitos inconscientes é ser honesto conosco sobre como realmente nos sentimos em relação aos outros grupos. Ter um viés não é o fim do mundo, a única vergonha é se você não fizer nenhum esforço para melhorar".

Leia também: Por que a diversidade também deveria ser um critério ESG?

O primeiro passo é criar um espaço de diálogo seguro e construtivo na sua corporação para a tomada de consciência sobre os vieses inconscientes. É fator chave na desconstrução dos preconceitos arraigados, tratar o tema com empatia para que as pessoas não entrem no modo defensivo.

Ampliar a consciência, combater o preconceito e multiplicar o conhecimento contribui não só para empresas mais justas e sustentáveis, como para um mundo que respeita e valoriza cada vez mais as diferenças.

*Este texto não reflete, necessariamente a opinião da Folha Dirigida.

Sobre a autora

Cris Kerr é CEO da CKZ Diversidade, Mestra em Sustentabilidade e Professora de Diversidade da Fundação Dom Cabral.