Concurso Bacen: quadro de pessoal preocupa profissionais
Sem realizar concurso Bacen, Banco Central vê déficit aumentar nos últimos anos. Situação ainda pode se agravar até 2022. Confira!
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Publicado em:23/06/2020 às 04:30
Atualizado em:23/06/2020 às 04:30
O pior é que esse déficit ainda pode aumentar. Segundo Paulo Lino, há 600 servidores que poderão se aposentar até 2022, o que trará enormes problemas ao banco, caso não ocorra uma reposição.
“OBC possui 300 servidores em condições de se aposentar, podendo sair a qualquer momento e, até o final de 2022, mais 300 servidores vão adquirir o direito à aposentadoria. Quase 17% do quadro total. A saída desses servidores, sem reposição, talvez não signifique o colapso da instituição, mas trará consequências graves”.
Frente a esse cenário assustador, o BC encaminhou ao Ministério da Economia, no final do mês passado, pedido de concurso para 260 vagas, sendo 30 para técnico (nível médio; R$7.741,31), 200 para analista (nível superior; R$19.655,06) e 30 para procurador (graduação em Direito; R$21.472,49).
O presidente do Sinal, no entanto, não está otimista que o banco terá êxito em sua solicitação, pois acredita que o governo federal e a atual gestão do BC não estão preocupados em resolver o problema de pessoal da instituição.
“Não existe vontade política do governo federal e nem se vê uma motivação da direção do BC em usar a força da importância da instituição para solucionar esta questão, que aflige o sindicato e os servidores da Casa”, afirmou.
Veja a seguir a entrevista:
FOLHA DIRIGIDA - O BC encaminhou pedido de concurso ao Ministério da Economia para 260 vagas, sendo 30 de técnico, 200 de analista e 30 de procurador. Como o Sinal recebe essa notícia? Espera que dessa vez finalmente o banco tenha sua solicitação atendida?
Paulo Lino - O Sinal não tem grandes esperanças de que o concurso público para suprir os quadros das carreiras do Banco Central venha a ser convocado para este ano.
Não existe vontade política do governo federal e nem se vê uma motivação da direção do BC em usar a força da importância da instituição para solucionar esta questão, que aflige o sindicato e os servidores da Casa.
FOLHA DIRIGIDA - Essas 260 vagas não representam nem 10% da atual carência de pessoal, que é de 2.881 servidores. O senhor acha que o BC foi muito tímido em seu pedido ou acredita que o banco elaborou uma solicitação mais realista, de forma que o Ministério da Economia tenha condições de atender ao pleito?
Paulo Lino - Acho que a direção do BC cumpriu protocolarmente sua obrigação, solicitando concurso público para o preenchimento do mesmo número de vagas pedidas no ano passado, desprezando as mais de 150 aposentadorias que ocorreram entre esses dois momentos e as quase 100 que ainda poderão ocorrer em 2020.
Dizer que a direção foi tímida é pouco, já que desde 2013 não temos concurso. E nesse período de sete anos, deixamos de contar com quase 1.300 servidores, somente pela aposentaria.
FOLHA DIRIGIDA - O senhor já teve a oportunidade de conversar com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, sobre a situação do quadro de pessoal e da necessidade de se abrir concurso para o banco? Caso positivo, qual foi o retorno obtido? Considera que ele este empenhado nesse sentido?
Paulo Lino - A última vez que o Sinal conversou com o presidente do BC sobre o assunto foi no final do ano passado e a impressão que tivemos é a mesma que se nos apresenta atualmente.
O preenchimento de vagas por concurso público não parece ser uma de suas prioridades.
FOLHA DIRIGIDA - Como a falta de pessoal vem prejudicando o bom funcionamento do banco? Os servidores estão muito sobrecarregados?
Paulo Lino - Não considerando este período de trabalho remoto excepcional, em função da Covid-19, que obrigou o servidor do BC a se adaptar a um novo ritmo em suas tarefas, já de há muito que a falta de pessoal vem atingindo a todos os remanescentes.
O avanço tecnológico e as plataformas digitais, se por um lado agilizam e facilitam o trabalho do servidor, por outro impulsionam um sem número de novas formas de organizações e operações financeiras, que precisam ser reguladas e fiscalizadas como todas as demais.
FOLHA DIRIGIDA - O setor de Meio Circulante é que o demanda mais servidores? Como a falta de pessoal impacta essa área?
Paulo Lino - O Departamento do Meio Circulante, apesar de toda a sua importância para a sociedade brasileira, fazendo com que as cédulas e moedas cheguem em bom estado a todos os rincões do país, não é exatamente o que mais demanda servidores.
As áreas responsáveis pelas atividades ligadas à supervisão, regulação e fiscalização do Sistema Financeira Nacional, se somadas, utilizam quase a mesma quantidade de mão de obra e ambas, assim como as demais, com menor lotação de servidores, padecem igualmente da falta de pessoal.
Está chegando o momento em que se terá que discutir seriamente quais tarefas terão que deixar de ser feitas, mesmo que em detrimento da qualidade dos serviços prestados.
FOLHA DIRIGIDA - Quais são os estados onde o efetivo do BC está mais desfalcado?
Paulo Lino - Esta é uma pergunta difícil de se responder, pois temos sedes em nove estados e no Distrito Federal, diferentes entre si pelas características e pelas necessidades regionais.
Não conseguimos enxergar o Banco Central se não for como um todo, que se completa. Analisando unicamente os números, neste momento, a praça de Belém é a que conta com o menor efetivo de servidores, menos de 50.
FOLHA DIRIGIDA - Qual o cenário específico do Rio de Janeiro?
Paulo Lino - O Rio de Janeiro sofre o processo crônico de esvaziamento de quadros, similar ao que ocorre nas demais regionais.
Há um perigo muito grande nesta política de desidratação das sedes regionais, com grande concentração de recursos e servidores em Brasília, que é o de perder a identidade nacional do órgão.
Entendemos que esta é uma preocupação que deveria nortear a atuação da direção do BC.
FOLHA DIRIGIDA - BC possui ainda muitos servidores com idade para se aposentar? Ficar mais um ou dois anos sem contratar novos servidores poderá levar o banco ao colapso e afetar a política econômica do país?
Paulo Lino - Atualmente, o BC possui 300 servidores em condições de se aposentar, podendo sair a qualquer momento e, até o final de 2022, mais 300 servidores vão adquirir o direito à aposentadoria.
Quase 17% do quadro total. A saída desses servidores, sem reposição, talvez não signifique o colapso da instituição, mas trará consequências graves.
FOLHA DIRIGIDA - Qual o cenário que o senhor traça para a autarquia se não houver ingresso de novos servidores no ano que vem?
Paulo Lino - Certamente pior que o de hoje, que é pior que o do ano passado e assim vamos até 2013, ano do último concurso.
É preciso considerar, também, que a simples admissão de servidores não significa que os problemas serão sanados imediatamente, porque os admitidos precisarão passar por um período de aprendizagem e adaptação às tarefas exclusivas de Estado desenvolvidas no BC, que leva um tempo considerável em condições normais, mas certamente maior, em um momento de grande lapso entre concursos, que precisariam ser regulares para proporcionar uma sequência de transmissão de conhecimento.
FOLHA DIRIGIDA - O governo vem dificultando a abertura de concursos, alegando que os órgãos precisam primeiro se tornarem digitais. O senhor considera que o BC é uma autarquia que já atingiu seu ápice no processo de digitalização?
Paulo Lino - O processo de digitalização das tarefas parece ser inesgotável, diante das novidades tecnológicas que surgem no mercado quase que diariamente, mas não suprem a necessidade do ser humano.
Todos os insumos digitais que um servidor recebe das instituições financeiras, por exemplo, facilitam mas não substituem sua capacidade de análise decisória.
A competência do Banco Central do Brasil, reconhecida nacional e internacionalmente, os inúmeros prêmios ganhos por seus presidentes, sejam lá quais forem, não foram conquistados por nenhuma máquina, mas, sim, pela competência dos servidores, que constroem esta instituição há mais de 50 anos.
FOLHA DIRIGIDA - Qual a importância de ser aprovado no Congresso o projeto de lei que prevê a independência do BC? Acredita que isso seria fundamental para que o banco possa realizar concursos com mais regularidade?
Paulo Lino - Os projetos que preveem a autonomia do Banco Central, em tramitação no Congresso Nacional, estão focados principalmente nos mandatos do seu presidente e de seus diretores, não fazendo menção aos servidores e tampouco garantem a autonomia orçamentária e o poder de decisão quanto a concursos públicos.
A verdadeira solução para nossos problemas é a instituição de uma política governamental de valorização do Estado brasileiro, com concursos públicos regulares e específicos para o Banco Central do Brasil, condição necessária para a autarquia continuar prestando com excelência seus serviços à sociedade brasileira.