Coronavírus: profissionais relatam o impacto no mercado de trabalho

Perda de empregos, redução do salário e de oportunidade. Conheça os reflexos da pandemia

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Publicado em:02/04/2020 às 15:30
Atualizado em:02/04/2020 às 15:30

A pandemia do novo Coronavírus trouxe impactos significativos no mercado de trabalho brasileiro. Enquanto alguns setores estão aquecidos e aumentam suas contratações, outros têm a necessidade de demitir ou reduzir o salário dos seus empregados.

O reflexo já pode ser sentido em diversos segmentos. De acordo com o CEO da Gi Group Brasil - multinacional de Recursos Humanos, Carlos Martins, muitos negócios continuarão a ser impactados com o isolamento social e o pico da doença no país, previsto para este mês de abril e início de maio. 

"Uma vez que temos impactos nessa parte dos negócios e da população, isso gera uma reação em cadeia, pois o sistema econômico é interligado. Então, teremos menor poder de consumo, e, isso continuará afetando a maioria das empresas nacionais e globais", diz. 

Mesmo com dados negativos, em uma análise, Carlos Martins afirma que algumas áreas terão resultados positivos nesse momento, principalmente com a geração de empregos.

Para ele, as áreas que sofrerão menor impacto na geração de empregos são as que estão diretamente relacionadas a serviços essenciais, como:

  • Indústrias farmacêuticas e químicas - voltadas ao setor de saúde;
  • Dispositivos e aparelhos médicos;
  • Serviços de saúde, alimentos e bebidas;
  • Varejo alimentício (supermercados);
  • Varejo de medicamentos (redes de drogarias);
  • Logística;
  • Indústria de embalagens;
  • Tecnologia.

 

Na área da Saúde, por exemplo, foram abertas mais de 3,7 mil vagas na plataforma da Catho na última semana. 

"Um aumento de 500% em relação ao mesmo período do ano passado", diz a diretora de Operações da Catho, Regina Botter.

Por outro lado, outros segmentos não terão tanta sorte. Segundo o CEO da Gi Group, estes setores terão mais impacto ou levarão mais tempo para se recuperar, sendo eles:

Turismo: impacto direto com o fechamento dos hotéis; empresas aéreas afetadas pelos cancelamentos, fechamento de fronteiras e distanciamento;

Varejo (exceto os supermercados) - com o fechamento dos shoppings, lojas de vestuários, calçados, cosméticos e demais foram altamente impactadas;

Real estate (mercado imobiliário) - diminuição drástica de locações e fechamento de imobiliárias;

Eventos e entretenimento - com o isolamento social, eventos, feiras, shows, entre outros foram cancelados e esse setor sofre forte impacto, pois com a falta de circulação de pessoas acontece uma desaceleração natural;

Restaurantes e bares - fechados totalmente até liberação do governo. No geral, o delivery corresponde de 20 a 25% da receita e muitos funcionários podem ser impactados se não houverem medidas de resgate da economia pelo governo.

Coronavírus impacta o mercado de trabalho (Foto: Governo do Brasil)
Entenda os impactos do Coronavírus no mercado de trabalho
(Foto: Governo do Brasil)

 

Dívidas e incertezas, os desafios dos brasileiros

Em menos de um mês, o brasileiro viu sua vida virar de ponta-cabeça. Em 11 de março, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou a pandemia de Coronavírus e todos os governantes iniciaram os protocolos para aplicar um estágio de quarentena aos cidadãos.

Diversas empresas precisaram fechar seus estabelecimentos e os empregados foram mandados para casa. Com isso, além da saúde, muitos brasileiros se preocupam com suas contas e itens básicos de sobrevivência.

Aluguéis e alimentação ainda precisam ser supridos, além das cobranças de luz e água que continuam chegando. Os profissionais autônomos, microempreendedores individuais (MEIs) e os informais são os mais afetados neste momento. 

Para a autônoma e artesã, Teresa Inacio, de 31 anos, em menos de um mês sua vida mudou completamente. O isolamento social e a pandemia impactaram fortemente o mercado de eventos no qual trabalha.

"Como artesanato é item supérfluo, as pessoas procuram evitar gastos com coisas não necessárias . Sem vendas não posso comprar materiais novos e investir em produção de novas peças, ocasionando na falta de produto para vender. Por fim, não tem entrada de dinheiro", diz.

Ainda segundo a artesã, só neste período, já foi necessário usar o cheque especial, criando dívidas e, possivelmente, gerando até um futuro empréstimo.

Já para a analista de comunicação e marketing, Deborah Ferreira, o impacto foi forte na sua agência. Mesmo trabalhando com home office desde setembro de 2018, os clientes tiveram suas atividades suspensas neste período e, por isso, o trabalho de comunicação foi suspenso. 

"Meus clientes são dos setores de Cultura, Entretenimento e Beleza, todos serviços não fundamentais. Com isso, estou negociando com todos o pagamento de março e, para abril, não tenho clientes", disse a empresária.

Por ter uma "reserva de crise", como chama, Deborah acredita que vá conseguir passar por esta fase. "Guardo para esses momentos adversos, pois, aprendi que nós que somos autônomos, precisamos sempre cavar nossa própria renda todos os dias e guardar algo para os dias de baixa", relata.

 

 

"Coronavoucher" ajuda, mas não resolve 

Tanto Teresa Inacio quanto Deborah Ferreira estão esperando pelo pagamento do "Coronavoucher". O auxílio emergencial foi sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro na última quarta-feira, 1, e promete ajudar trabalhadores informais, desempregados e MEIs.

O valor de R$600, no entanto, não resolve o problema dos trabalhadores brasileiros, mas serve para auxiliar nas despesas essenciais nesse momento de crise. 

"O Coronavoucher irá ajudar com as contas importantes, como internet e telefone, mecanismos fundamentais para a busca de trabalhos na minha profissão e também para a alimentação", diz Deborah.

A expectativa é que o benefício comece a ser pago já na próxima semana. Por isso, o Governo Federal está trabalhando para regulamentar a lei o quanto antes. Para a autônoma Teresa, o auxílio é necessário nesse momento.

"Não será uma solução, mas será uma pequena ajuda para suprir necessidades básicas como alimentação e itens de higiene", diz.

Profissionais de RH estão confiantes

Com o objetivo de compreender os impactos da pandemia do novo Coronavírus (Covid-19) nos processos seletivos, a Catho realizou uma pesquisa com 800 recrutadores para mapear as perspectivas de contratação em tempos de quarentena.

Segundo o levantamento, 57% dos profissionais de RH estão confiantes em uma retomada positiva nos próximos dois meses.

Ainda segundo a pesquisa, 50% dos profissionais de RH acreditam na efetividade do processo seletivo virtual durante a quarentena. Dentre os métodos utilizados para realizar o recrutamento estão videochamada (79%), ligações (63%), e-mail (33%), SMS (7%) e WhatsApp (2%).

Exemplo disso são as vagas que já estão abertas. De acordo com a Associação Paulista de Supermercados (APAS), em abril, 5 mil vagas temporárias devem ser abertas em toda a Grande São Paulo.

Em comparação ao mesmo período do ano passado, foram registrados 500 novos postos. A maioria das vagas são para os postos de operador de caixa e repositor.

Em nota, a APAS informou que os supermercados realizarão os processos seletivos de forma online, de acordo com medidas de prevenção ao Covid-19.

Em função da pandemia do novo Coronavírus também houve aumento na oferta de empregos na área da Saúde.

A Rede D'Or São Luiz, por exemplo, abriu 3 mil oportunidades divididas em mais de 200 funções, nas seguintes cidades: Rio de Janeiro, São Paulo, Santo André, Brasília, São Caetano do Sul, Recife, Osasco, Salvador, Carapicuíba, São Bernardo do Campo, Ribeirão Pires e São Luiz.

Segundo a diretora de Operações da Catho, Regina Botter, ainda que pareça difícil, é preciso manter o otimismo. Para ela, certamente a crise será superada, assim como tantas outras foram.

"A retomada vai acontecer e o mercado como um todo vai, aos poucos, aquecer e refletir diretamente na economia, na criação de novas vagas e, muito provavelmente, novas funções", diz.