Com novo PDI, categoria cobra concurso Correios e denuncia desmonte

Dois dias após governo indicar a privatização dos Correios para 2021, empresa anuncia Programa de Desligamento e categoria cobra concurso.

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Publicado em:04/12/2020 às 18:20
Atualizado em:04/12/2020 às 18:20

Os Correios anunciaram nesta sexta-feira, 4, o seu novo Plano de Desligamento Incentivado (PDI 2020). O anúncio ocorre dois dias após o governo do presidente Jair Bolsonaro divulgar o plano de privatizações 2021.

As privatizações previstas para o próximo ano incluem nove empresas, entre elas Correios e a Eletrobras. Diante dos recentes acontecimentos, categorias denunciam um desmonte da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT).

Em resposta ao UOL, nesta sexta, 4, a presidente da Associação dos Profissionais dos Correios (ADCAP), Maria Inês Capelli Fulginiti, afirmou que o PDI é um "instrumento válido de gestão de RH", no entanto, ele deveria ocorrer junto a um novo concurso Correios.

"Simultaneamente a um PDI, os Correios deveriam estar anunciando um concurso público para contratar pessoal em início de carreira, de forma a cobrir as lacunas existentes e poder assegurar adequada prestação de serviços", afirmou a presidente à coluna de Carla Araújo no UOL.

A adesão ao PDI 2020 poderá ser feita entre os dias 4 e 15 de janeiro de 2021. Segundo a estatal, a medida representa uma oportunidade para aqueles que "desejam aproveitar a sua aposentadoria, investir em novos desafios ou dedicar mais tempo a sua família".

Poderão se inscrever os empregados que atendam aos seguintes requisitos principais:

  • estar aposentado;
  • estar enquadrado em cargo em extinção na empresa; ou
  • possuir tempo de efetivo exercício nos Correios maior ou igual a 15 anos na data do desligamento – entre outras condicionantes descritas no plano.

Para o presidente dos Correios, Floriano Peixoto, a iniciativa dá continuidade ao processo de fortalecimento dos Correios.

"Ao lançarmos este programa, buscamos atuar em duas frentes distintas, porém complementares a redução de despesas com pessoal e, mais importante, a adaptação do quadro funcional à realidade do mercado. Esperamos, ainda, promover um reconhecimento digno aos que labutaram por décadas em prol da empresa", afirmou o dirigente.

Mais cedo, o presidente da estatal disse que a iniciativa, ao contrário do propagado por alguns setores, não é um mero 'enxugamento" da empresa.

"Nem tampouco se trata de 'desmanche' ou 'sucateamento'. É uma adequação da força de trabalho ao contexto atual dos Correios. Por meio desse processo, tanto os empregados como a instituição serão beneficiados", disse Floriano Peixoto.

Categoria repudia PDI sem a realização de um novo concurso Correios (Foto: Divulgação)
Categoria repudia PDI sem a realização de
um novo concurso Correios (Foto: Divulgação)

 

PL de privatização dos Correios avança no governo

A privatização dos Correios deve ser proposta pelo governo do presidente Jair Bolsonaro nos próximos meses. Segundo reportagem de novembro do Exame, o Projeto de Lei, que facilita a venda da estatal, avança internamente.

Na ocasião, o PL era analisado pelo departamento de assuntos jurídicos da Secretaria Geral da Presidência, para que pudesse ser enviado para a assinatura do presidente Bolsonaro.

Em outubro, o secretário especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia, Diogo Mac Cord, disse que o serviço postal universal cria um mercado plenamente competitivo, cabendo à União apenas garantir que todos serão atendidos.

"Isso tirará um enorme peso do governo, que poderá focar sua energia na oferta (de serviço postal) a essas regiões específicas ou então oferecer o serviço 'em pacotes', como estamos fazendo com o saneamento, misturando áreas deficitárias com outras superavitárias", disse ao O Globo.

Ainda segundo a reportagem, Mac Cord afirmou que o governo vai manter o atendimento a todos os brasileiros, independentemente do modelo escolhido para a privatização.

Sindicalistas, no entanto, repudiam a venda da estatal. Conforme a Associação dos Profissionais dos Correios, a companhia está presente em todos os municípios do país.

"Se passar para a iniciativa privada, uma preocupação é que locais considerados pouco lucrativos não sejam mais atendidos", disse a Associação.

Inclusive, o princípio da universalização, que exige, constitucionalmente, que a empresa esteja presente em todo o país, e a pressão do funcionalismo público têm gerado problemas para o governo. 

"A empresa tem uma receita importante, mas com uma despesa muito elevada também, então sobra pouco recurso para reinvestir", disse a secretária especial do PPI, Martha Seillier, no último dia 2 à Veja.

De acordo com o cronograma oficial, o Ministério da Economia deseja encerrar o processo de concessão dos Correios no quarto semestre do ano que vem.

Último concurso Correios para carteiro foi em 2011

Cargo com maior necessidade de pessoal e maiores demandas nos Correios, o carteiro não tem concurso público há quase dez anos. A última seleção aconteceu em 2011.

Em 2012, os Correios pediram ao Ministério das Telecomunicações até 13.727 vagas, sendo 10 mil para uma nova seleção e as demais para chamar aprovados da seleção de 2011.

Anos depois, em 2016, sem essa promessa se cumprir, os Correios anunciaram cerca de 2 mil vagas.

As oportunidades seriam para agente de correios, de nível médio, nas atividades de carteiro e operador de triagem. Todas as 144 chances para o Rio de Janeiro seriam para carteiro.

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Além do Rio, as vagas seriam também para São Paulo, Minas Gerais, Amazonas, Bahia, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pernambuco, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Distrito Federal. 

A remuneração inicial de carteiro era de R$2.885,37 e a de operador, R$2.348,87, já incluindo benefícios e adicionais. Os valores seriam para trabalhar de segunda a sexta. Quem atuasse de segunda a sábado receberia R$3.017,42.

Os Correios chegaram a elaborar um projeto básico do concurso, ao qual a Folha Dirigida teve acesso. Nele, havia a previsão dos candidatos serem avaliados por provas objetivas de:

  • Língua Portuguesa;
  • Matemática; e
  • Conhecimentos Gerais.

Além de teste de esforço físico e exame médico admissional (para os convocados). A seleção, no entanto, não saiu do papel.

Em 2017, os Correios realizaram concurso para a área de Segurança do Trabalho. O resultado final dessa seleção saiu em janeiro de 2018.

Foram oferecidas 88 vagas em cargos de níveis médio/técnico e superior. As áreas contempladas eram Medicina, Enfermagem, Engenharia e Segurança do Trabalho.

Questionado sobre novos concursos públicos, a empresa não dá previsões. E a tendência é que não aconteçam, em virtude da privatização cada vez mais próxima.