Cresce a dificuldade de acesso a crédito entre empreendedores negros

O número de empreendedores negros que buscou empréstimo em banco, durante a pandemia, passou de 38% (maio) para 50% (agosto). Confira outros dados!

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Publicado em:24/11/2020 às 12:00
Atualizado em:24/11/2020 às 12:00

A diferença do acesso a crédito entre empresários negros e brancos ficou ainda mais acentuada. É o que mostra pesquisas realizadas pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV) desde o início da pandemia do Coronavírus.

Apesar do índice de solicitação de empréstimos ter apresentado uma melhoria, os levantamentos apontam que os empresários brancos tiveram mais êxito na hora da aprovação do crédito.

enlightened Participaram da última pesquisa 7.586 empreendedores de todos 26 estados e do Distrito Federal.

Os dados mostram que entre a segunda quinzena de maio e o final de agosto, a proporção dos empreendedores que tentaram crédito em banco, e efetivamente conseguiram, passou de 5% para 8%, no caso dos negros; e, de 7% para 14%, no caso dos brancos. 

Ainda de acordo com as pesquisas, caiu a diferença entre os dois grupos quanto ao uso das redes sociais como ferramenta de vendas, bem como no nível de empresas endividadas. 

A comparação entre os levantamentos realizados pelo Sebrae mostrou que, no caso dos brancos, a proporção de empreendedores que buscam empréstimo em banco, durante a pandemia, passou de 30% (maio) para 51% (agosto). No entanto, apenas 17% dos que procuraram até maio e 27% dos que procuraram até agosto conseguiram. 

Já no caso dos negros, a proporção de negócios que buscou empréstimo em banco, durante a pandemia, passou de 38% (maio) para 50% (agosto). Mas, apenas 14% dos que procuraram até maio e 16% dos que procuraram até agosto conseguiram. 

Os dados do Sebrae ainda revelam que 65% dos empreendedores negros que solicitaram empréstimos tiveram o crédito negado em agosto, contra 58% dos brancos. 

 

Empreendedor
Pesquisa do Sebrae e FGV entrevistou mais de 7 mil empreendedores
em todo o país (Foto: Pixabay)


O que + você precisa saber:


Políticas públicas para incentivar empreendedores negros e mulheres

De acordo com o presidente do Sebrae, Carlos Melles, é preciso pensar políticas públicas que atendam às particularidades de alguns segmentos de empreendedores, como negros e mulheres, em especial na melhoria do acesso a empréstimos. 

Entretanto, Melles comemora o avanço registrado por empresários negros no uso das redes sociais ao longo dos últimos meses. 

"No levantamento feito em maio, 57% desses empreendedores usavam as mídias sociais para fazer negócio. Já na última pesquisa feita essa proporção cresceu para 66%. Essa evolução aproximou empreendedores negros e brancos, onde 69% usam essas ferramentas online", analisa o presidente do Sebrae.

A comparação entre as pesquisas do Sebrae também mostrou redução no percentual de empresas com dívidas em atraso, para ambos os perfis. Entre maio e agosto, a proporção de negros com dívidas em atraso caiu de 46% para 37%. No caso dos brancos, a proporção caiu de 38% para 30%. 

Desafios do afroempreendedorismo

Adriana Moreira, criadora da Feira Preta (evento que reúne empreendedores e consumidores majoritariamente negros) lembra que, em 2019, foi realizado um estudo sobre as dores e amores do empreendedorismo negro no Brasil. 

Segundo Adriana, o estudo identificou a ausência de um número maior desses empreendedores nas áreas da tecnologia e da indústria, que têm a maior possibilidade de crescimento e escala. 

"Em função do contexto histórico da escravidão, a população negra teve menos acesso à educação e renda, ocasionando percentuais elevados de subemprego e de desemprego, fazendo também com que essas pessoas empreendessem principalmente motivadas pela necessidade", comenta Adriana.

Confira outros dados apresentados na pesquisa

Taxa de desocupação no 2º trimestre de 2020

  • Por raça ou cor: pretos e pardos (15,8%), brancos (10,4%);
  • Por sexo: mulheres (14,9%), Homens (12%). 

Outros dados

  • Empresários negros estão trabalhando mais em casa (34%) do que os brancos (30%);
  • Empreendedores negros estão trabalhando mais com produtos e serviços essenciais (30%), contra 23% dos empresários brancos;
  • Empresários negros estão ligeiramente mais otimistas quanto ao tempo total para o retorno ao normal. Para empresários negros, a normalidade será retomada em 10,9 meses, contra 11,7 meses na opinião dos brancos;
  • Empreendedores pretos e pardos têm menos escolaridade que os brancos - 47% dos negros têm superior incompleto/completo contra 66% dos brancos;
  • Os empreendedores brancos utilizaram mais as medidas de suspensão de contrato de trabalho, redução de jornada/salários e férias coletivas.

 

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