Qual o impacto econômico deixado pelo home office?
Quais consequências a substituição do modelo de trabalho presencial pelo home office pode trazer para o mercado? Entenda!
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Publicado em:10/11/2020 às 14:00
Atualizado em:10/11/2020 às 14:00
Mesmo antes da pandemia do novo Coronavírus, o conceito de "working from anywhere" (trabalhe de qualquer lugar) vem ganhando cada vez mais adeptos. Durante a quarentena, muitas empresas adotaram esse sistema para continuarem suas atividades mesmo com as regras de distanciamento social.
Mas, qual é o desencadeamento econômico provocado pela adoção do home office no mercado de trabalho?
Quando se fala em centros comerciais, costuma se pensar apenas nos escritórios. Mas, ao redor há uma série de outros serviços que dependem da circulação de pessoas para funcionarem. Entre eles: limpeza, segurança, cartórios, salões de beleza, farmácias, papelarias, jornaleiros, restaurantes, muitas vezes médicos, autônomos e o mercado informal.
Marcelo Reis, especialista em gestão empresarial e vendas explicou que, com o início da pandemia e milhares de funcionários sendo transferidos para o home office, esses centros empresariais tiveram o fluxo diminuído repentinamente.
"O grande problema de todos os serviços mencionados que são ligados aos locais comerciais é que eles não são projetados para visitas turísticas e eventuais, são fora dos bairros residenciais, de difícil acesso e complicados de se parar. Geralmente são pequenas empresas que têm o seu giro de caixa curto e que dependem de um fluxo constante de clientes. Logo, quando o fluxo trava, automaticamente os clientes somem e o dinheiro desaparece."
Negócios locais são responsáveis pela geração de milhares de empregos
Em contrapartida, esses pequenos empreendimentos garantem milhares de empregos, que ficam ameaçados com a falta de clientes. "De março para cá, vimos o impacto de um número interminável de estabelecimentos fechando. Veja que a equação é maior do que apenas lojas baixando as portas, os transportes público e privado sem clientes também não se sustentam."
Os impactos afetaram toda a cadeia, considerando a diminuição no número de pedidos aos fornecedores, por exemplo.
Apesar da retomada gradual das atividades presenciais após o período mais crítico da pandemia, pesquisas apontam que muitos profissionais não desejam voltar à rotina de se deslocar todos os dias para o local de trabalho.
Isso porque a qualidade de vida desses colaboradores aumentou durante esse período. Muitos alegam que o tempo antes gasto com deslocamento, agora vem sendo substituído por mais tempo com a família ou até mudança de residência para bairros cujo custo de vida é mais baixo.
"A tecnologia nos últimos meses se provou e foi possível ver que a maioria das empresas conseguiu sobreviver de maneira remota. O que se sente falta é do relacionamento mais próximo e da colaboração presencial", destacou Reis.
Para as empresas, a mudança também foi vantajosa. As companhias puderam perceber uma redução em seus custos, principalmente com as economias em infraestrutura.
Algumas empresas já anunciaram que não devem voltar com as atividades presenciais este ano. Outras pretendem manter seus colaboradores em home office, definitivamente.
Por isso, os impactos nos serviços locais ainda continuarão sendo percebidos por um tempo.
"Creio que no curto prazo ainda veremos muitos estabelecimentos tradicionais fechando, pois além do fluxo ainda longe do que havia há alguns meses, o receio da contaminação pelo Covid-19 ainda faz com que as pessoas não se arrisquem" apontou Reis.
Especialista imagina dois cenários para o mercado no futuro
O especialista ainda prevê dois cenários possíveis para o futuro:
A recuperação da cadeia a longo prazo
Nele os escritórios voltariam a ficar cheios de segunda a sexta, com os serviços, aos poucos, ganhando tração novamente. Dessa forma, a cadeia de valor se estruturaria e, em alguns anos, seria semelhante ao que era antes da quarentena.
Transformação
Já neste segundo cenário, o modelo de trabalho se transformaria completamente, virando 100% virtual ou híbrido, com pessoas dividindo seu tempo entre escritórios e home office.
Neste caso, a tecnologia terá um papel fundamental nas interações profissionais e as pessoas ficariam livres para viverem longe do trabalho.
Além disso, a área de serviços também acompanharia a transformação, através do delivery. Para isso, seria ampliada a oferta de serviços digitais, que, antes eram realizados presencialmente.
"O revés deste cenário é que grandes corporações passarão a competir com os negócios antes pequenos e familiares e estes últimos precisarão se adequar para encantar os clientes de maneira personalizada e pró-ativa."
Para o especialista, o segundo cenário apresenta uma perspectiva de inúmeras oportunidades, especialmente para quem souber entender as mudanças e se tornar protagonista desse processo.