Empreendedorismo: inspire-se na trajetória de quem já faz sucesso

Dois jovens empreendedores no Rio de Janeiro contam como fizeram sucesso, mesmo em meio a uma pandemia.

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Publicado em:17/01/2021 às 08:00
Atualizado em:17/01/2021 às 08:00

O Brasil é um país de empreendedores. Isso já deixou de ser uma simples expressão ou falácia e se comprova em números.

Um estudo feito em 2019 pela consultoria McKinsey, em parceria com o evento Brazil at Silicon Valley, apontou que 39% da população brasileira economicamente ativa era dona do próprio negócio.

E mesmo em meio à crise, essa é uma realidade. Talvez pela escassez de vagas formais no mercado de trabalho somada ao fato de que o brasileiro valoriza muito ter um empreendimento.

Só até a terceira semana de dezembro de 2020, 11,2 milhões de CNJPs estavam registrados no regime Microempreendedor Individual (MEI), segundo a Receita Federal. 

Mas esses números têm nomes e rostos. São milhões de brasileiros, muitos deles ainda jovens, batalhando para conquistar seu espaço no mercado e um futuro promissor em meio às incertezas que o país enfrenta.

Um deles é Leandro Vianna, jovem com 26 anos e morador da Zona Norte do Rio de Janeiro. Com apenas 23, em 2017, ele largou o sonho de ser jogador de futebol para iniciar seu empreendimento com o sócio Pablo Vinícius no ramo alimentício, hoje com quase 2 mil seguidores nas redes sociais.

Outro exemplo é o de Thaís Costa, 27 anos, produtora cultural e artesã. Ela iniciou o negócio a partir da tradição de crochetar em sua família e já tem mais de 3 mil seguidores no perfil do negócio na internet.

De jogador de futebol a dono da 'melhor esfiharia do RJ'

Leandro era jogador de futebol, esporte que praticava desde pequeno, e sonhou em seguir essa carreira. Acabou escolhendo outro tipo de empreendedorismo para alcançar a vida que queria.

Mas a experiência no esporte teve grande influência na sua trajetória de empreendedor iniciada mais tarde, já que, como ele conta, o futebol o ensinou “a ser livre, não ter uma rotina comum”, coisa que ter um negócio exige.

“Construir meu sonho, mostrar para todos que é possível vencer! Hackear uma etapa da vida para ter minhas conquistas.”

Essas foram as motivações do jovem empreendedor para abrir seu negócio atual, a Esfirraria Original, a “melhor esfiharia do RJ”, com seu sócio Pablo Vinicius. 

 

Leandro e Pablo já têm a primeira unidade do restaurante no Rio
(Foto: Reprodução/ Instagram)

 

Tradição familiar foi pontapé para o negócio de Thaís

No caso de Thaís, que é da Baixada Fluminense, também no Rio de Janeiro, o empreendedorismo nasceu de uma paixão familiar: o crochê. Artesanato que foi ensinado pelas últimas gerações de mulheres de sua família. 

“Desde criança busquei negócios que pudessem me dar um retorno, tanto financeiro quanto de realização pessoal, por isso sempre me direcionei para o ramo do artesanato. Cresci numa família de mulheres artesãs e isso foi moldando minha personalidade e direcionando minhas escolhas.”

A marca Nós Crochê nasceu a partir da ideia de unir a sabedoria e a prática da avó e da mãe de Thaís com os seus conhecimentos de mercado cultural. Porém, as circunstâncias acabaram mudando um pouco o plano inicial.

Atualmente Thaís gerencia a marca sozinha, em todos os processos, desde a confecção até o envio. Mas algumas peças são confeccionadas pelas três em conjunto. 

“Em alguns momentos tenho o auxílio do meu marido, principalmente na fase atual de pandemia em que precisamos repensar muitas coisas e reestruturar a organização da marca.”

Jovem abriu negócio com a mãe e a avó
(Foto: Reprodução/ Instagram)

 

Desafios em meio à pandemia demandaram resiliência

A pesquisa ‘O impacto da pandemia de coronavírus nos pequenos negócios’, realizada pelo Sebrae em abril do ano passado, mostra como as formas de atuar dos pequenos empreendedores precisaram evoluir já no início da crise sanitária. 

Entre as empresas que continuaram funcionando, 41,9% ficaram, naquela época, realizando apenas entregas via atendimento online. Outros 41,2% ficaram trabalhando com horário reduzido, enquanto 21,6% realizando trabalho remoto.

Esse momento, particularmente desafiador para pequenos empreendedores demandou atitude rápida e boas estratégias para sobreviver. Como destaca Leandro, a palavra de ordem foi “resiliência”.

“Tive alguns problemas no caminho, mas para empreender precisa ser resiliente. E o segredo do sucesso é o processo!”

A palavra do jovem empresário tem grande valor para aqueles que também têm um negócio para sustentar: processo. Pois em meio a novas demandas e novos contextos, a forma de trabalhar , ou seja, os processos internos, também precisam acompanhar o ritmo. 

A Thais também precisou enfrentar desafios com a chegada do novo vírus no Brasil. A começar por adaptar o trabalho de sua mãe e sua avó, que passaram a não poder sair mais de casa durante a quarentena. 

“Meu maior desafio foi, e tem sido, passar por essa pandemia. Com a escassez e o alto preço das matérias-primas, a incerteza de vendas, a instabilidade econômica e o acúmulo de funções (pois minha avó e minha mãe não podiam sair de casa), tive muito receio de como seria passar por esses meses.”

Embora essa série de fatores fossem preocupantes, ela conta que teve uma experiência positiva que a fortaleceu. A procura pelos produtos e as vendas aumentaram consideravelmente. 

“Acredito que, por muitas pessoas passarem mais tempo em casa, cuidar do seu espaço passou a ser visto com maior importância. Peças decorativas em crochê foram as mais vendidas, seguidas de acessórios.”

O que + você precisa saber:

Empreendedores destacam aprendizados e projetos futuros

Leandro, que já foi jogador de futebol, trabalhou com conserto de celulares e hoje foca no ramo alimentício, dá uma visão para quem também quer empreender: aprender a ser organizado financeiramente, ser independente, saber lidar constantemente com as mudanças.

Esses são os aprendizados que ele destaca para quem também planeja abrir o próprio negócio. Além, é claro, de entender o nicho onde se quer atuar e ter paciência para o progresso.

“Quando você começa na academia não pega o peso mais forte. Primeiro pega o fraco para, quando chegar no forte, estar preparado. Empreender é isso, passar por cada etapa até vencer!”

Para o futuro o jovem empreendedor já projeta crescimento. A ideia para os próximos anos é abrir mais restaurantes de esfiha artesanal no Rio de Janeiro, além da primeira que já funciona na Zona Norte. E depois abrir mais franquias em São Paulo. 

Além das dificuldades, há inúmeras vantagens em empreender. Para Thaís, os maiores benefícios são a realização pessoal e a independência financeira, além de poder ter autonomia e traçar novos rumos. 

“A Nós Crochet tem sido a prova de que é possível conciliar uma paixão e um negócio, mas acho que se tratando de crochê isso ainda é mais profundo, porque tento ressignificar o tempo todo a ideia de que o crochê é ‘coisa de velho’.”

A empreendedora agora trabalha na ideia de lançar um curso básico para quem quer aprender e não tem noção nenhuma. Essa é uma de suas principais metas atualmente, além de continuar com a produção, é claro.

“Se fosse aconselhar alguém sobre como começar um negócio, acredito que buscar algo que se goste é um ponto muito relevante na hora de se impulsionar a seguir com novos planos de crescimento. Além disso, uma boa pesquisa de nicho é essencial.”

O sonho de empreender é grande no Brasil, ficando atrás apenas de comprar a casa própria e viajar, como mostram diversas pesquisas. E transformar uma ideia em realidade é desafiador.

Mas basta olhar para histórias como as de Leandro e Thais para ver que é possível com planejamento, estratégia e confiança. 

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