Entenda como a automação afeta o mercado de trabalho
Qualificação na área traz oportunidades de emprego em vários setores
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Publicado em:18/03/2020 às 09:03
Atualizado em:18/03/2020 às 09:03
Aquela realidade hollywoodiana de um futuro em que os seres humanos são dominados por robôs não chegou. No entanto, a Inteligência Artificial (tecnologia capaz de simular o raciocínio humano) já está presente em nosso cotidiano.
"Essas tecnologias permeiam cada vez mais as nossas vidas em diversos aspectos como segurança, saúde e consumo, e, isso ocorre, quer a gente perceba ou não", explica Yuri Lima, coordenador do curso de Ciência da Computação da UNIVERITAS – Centro Universitário Universus Veritas Rio de Janeiro.
Yuri dá como exemplo a utilização da Intelegência Artifical (IA) na identificação de pessoas através de câmeras de segurança. "Isso é algo que podemos nem perceber que está acontecendo, mas tem impacto imenso sobre a nossa vida em sociedade", conta.
Além disso, "temos exemplos mais visíveis como a utilização de robôs cirúrgicos em alguns hospitais ou de agentes inteligentes no atendimento aos consumidores", completa.
A IA também está presente em pequenas ações do seu dia a dia. Aplicativos de rota, como Waze e Google Maps, utilizam dessa tecnologia. Até a própria pesquisa na internet utiliza da Inteligência Artificial para oferecer respostas que "combinam" com você.
E essas tecnologias acabam afetando o mercado de trabalho. "A 4ª Revolução Industrial traz, como as anteriores também o fizeram, um certo temor com relação ao desemprego", conta Yuri. Quanto a essa preocupação, o coordenador alerta:
"O impacto das novas tecnologias sobre o emprego será grande, mas não podemos ver a automação apenas como a substituição dos humanos pelas máquinas".
Segundo ele, na maior parte das vezes, há o deslocamento de atividades das pessoas para as máquinas. "Com isso, dificilmente teremos alguma profissão que não terá que interagir com as novas tecnologias no futuro e essas tecnologias têm, em quase sua totalidade, como base a computação", explica.
A indústria automotiva é um dos exemplos de mercado que demandam cada vez mais os robôs. De acordo com a Associação Brasileira de Automação, o avanço no setor saltou 8% entre os anos de 2017 e 2018.
Outro ponto é a mudança no modo de se trabalhar, como nas áreas de engenharia, onde a computação e automação industrial ganham cada vez mais espaço nos processos de produção. Neste caso, se torna necessário engenheiros capacitados para organizarem esses processos e otimizarem o trabalho dos robôs.
Yuri diz que, uma vez que a tecnologia dá suporte em algumas atividades, o profissional poderá focar seus esforços em atividades que tenham maior valor agregado. Além disso, o coordenador fala sobre a automação das profissões.
Segundo estudo realizado pelo Laboratório do Futuro da COPPE/UFRJ, no qual Yuri faz parte, 60% das pessoas empregadas no Brasil estão em ocupações que têm alto risco de automação (probabilidade de automação maior do que 70%) nas próximas décadas.
Além do impacto da tecnologia sobre o emprego, o coordenador explica como a tecnologia acaba afetando outros fatores, como o surgimento de novos tipos de trabalho que não imaginamos hoje em dia.
"Apesar de a história demonstrar que as revoluções industriais criam empregos em certos setores e destroem em outros, a mesma história nos conta que, no curto/médio prazo, muitas pessoas podem perder seus empregos até que a situação se normalize", observa.
"Como a tecnologia, principalmente, a computação, está cada vez mais imbricada com todos os aspectos da nossa vida, as pessoas que não possuem nenhum conhecimento sobre a tecnologia terão cada vez mais dificuldade em se destacar no mercado de trabalho", comenta o coordenador.
Com a utilização de robôs nos processos, o número de cargos voltados para a manutenção das tecnologias tende a crescer. Por isso, cada vez mais, é importante se manter atualizado. E, a área de robótica pode abrir muitas oportunidades desse tipo.
Para quem quer entrar nesse mercado, conhecimento é fundamental. O profissional capacitado tem grandes chances para conseguir vagas de emprego em setores diversos que vão desde a saúde à indústria.
Na hora da escolha de uma graduação, segundo Yuri Lima, antes de tudo, é necessário compreender o cenário tecnológico e social de maneira ampla. "Assim sendo, quem deseja atuar na robótica deve ver a qualificação em Ciência da Computação com bons olhos", ressalta.
"Essa formação permite aprender sobre temas fundamentais como: programação, gestão de projetos, Data Science, Machine Learning, Inteligência Artificial, Big Data, entre tantos outros", explica o coordenador.
"Além disso, são estudadas questões relativas à sociedade contemporânea, como ética, sustentabilidade e empreendedorismo. Afinal, é impossível falar de novas tecnologias e robótica sem alinhar a tecnologia à realidade do mundo em que vivemos", completa.
Sobre a remuneração, Yuri afirma que a Inteligência Artificial é uma das áreas mais procuradas e bem pagas por empresas: "Pessoas que sabem atuar como desenvolvedoras de IA têm mais destaque, uma vez que, tal tecnologia insere uma característica 'humana' à máquina".
O professor e coordenador conclui, dizendo que a Inteligência Artificial faz com que a tecnologia tenha autonomia para tomar decisões estratégicas. "A exemplo, podemos citar um robô que sabe exatamente a hora certa de encaixotar produtos ou, ainda, um que interage com um ser humano com base nas preferências dele", exemplifica.
"Atualmente e, cada vez mais, no futuro, a graduação precisa ser entendida como uma primeira formação no mundo profissional que será complementada por uma série de outras formas de aprendizagem ao longo da carreira", opina o coordenador.
A partir daí, segundo ele, a escolha por uma nova graduação vai depender do nível de conhecimento que a pessoa deseja adquirir. "Para ter um conhecimento mais aplicado e pontual, existem vários cursos de curta duração até mesmo online", pontua.
E completa: "caso a pessoa deseje realmente mergulhar no mundo da tecnologia e entender a teoria que suporta esses conhecimentos mais práticos, é mais aconselhável uma pós-graduação ou até mesmo uma outra graduação na área de tecnologia".
Para os profissionais de outras áreas, o coordenador conta que a tecnologia pode ser vista como uma aliada. Ele explica que o conhecimento sobre tecnologia ajudará a identificar oportunidades para usar diferentes ferramentas no ambiente de trabalho.
Diante do grande desafio atual de recolocação no mercado de trabalho, o coordenador diz que é preciso entender as necessidades do mercado de trabalho e buscar a formação, seja ela acadêmica ou não, para obter as habilidades em alta.
"A principal dica que podemos dar, de forma bem geral, é que as pessoas busquem entender o que está ocorrendo no mercado de trabalho e as tendências para os próximos anos para que possam planejar suas carreiras profissionais", salienta.
Com relação à preocupação com o desemprego tecnológico, Yuri sugere que as pessoas pensem nos três gargalos da tecnologia: criatividade, relação interpessoal e movimentos motores finos.
Essas são as áreas onde a tecnologia (ainda) não foi capaz de substituir o ser humano com sucesso e podem ser oportunidades para se manter ou entrar no mercado de trabalho", finaliza.