Fusão Ibama e ICMBio é 'desmonte de políticas ambientais', diz Ascema
Enquanto aguardam novos concursos, Ibama e ICMBio podem ser fundidos, mas para Associação isso é desmonte das políticas ambientais.
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Publicado em:04/12/2020 às 10:15
Atualizado em:04/12/2020 às 10:15
Até o início de fevereiro o grupo de trabalho formado quase que completamente por militares deverá decidir o futuro do Ibama e do ICMBio. Ambos os órgãos com expectativa para realização de novos concursos.
É que em outubro o Governo Federal anunciou a intenção de fundir as estruturas do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Mas a ideia não agrada a categoria. Em nota divulgada em seu site oficial, a Ascema – Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente – afirma que a medida “segue rumo ao desmonte das políticas ambientais”.
“A criação de um Grupo de Trabalho para estudar a extinção do Instituto Chico Mendes e sua incorporação ao Ibama é totalmente inoportuna e problemática. O GT é composto por policiais militares e indicados políticos ligados à bancada ruralista que não têm conhecimento da temática ambiental.”
Segundo informações publicadas no site da ONG Associação O Eco, o grupo de trabalho já teria se reunido seis vezes desde que foi criado. Por isso, a entidade acredita que uma conclusão sobre os estudos pode ser cumprida com folga, ou seja, antes de fevereiro.
Mas o Governo Federal e nenhum dos membros do grupo que estuda a fusão se manifestaram a respeito disso ainda. Vale lembrar que o Governo Federal também estuda a realização de concursos para o Ibama e o ICMBio.
Com a possibilidade de fusão desses órgãos em vista, é provável que uma decisão a respeito dos novos editais seja tomada após a conclusão dos estudos (a partir de fevereiro).
A Folha Dirigida procurou o Ministério do Meio Ambiente e a vice-presidência da República para saber como andam esses trâmites e se há previsão de resultados, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria.
Para Ascema, governo que militarizar a política ambiental
Na nota divulgada em seu site, a Associação dos servidores ainda denuncia que todas as ações que o governo vem adotando nos últimos tempos enfraquecem e deslegitimam os órgãos de Meio Ambiente. Medidas que vão desde diminuir o orçamento até desqualificar as ações dos servidores.
“A estratégia declarada do governo é militarizar a política ambiental, através do decreto de Garantia da Lei e da Ordem.”
Sobre este tema, a Ascema ainda cita um relatório recente do Tribunal de Contas da União (TCU), que constatou o desvio de finalidade em 80% dos recursos empregados na intervenção militar no Rio de Janeiro, em 2018.
“Um espetáculo de mau uso de recursos públicos e desvios de finalidade. O mesmo pode ser observado no emprego de militares para a aplicação das leis ambientais.”
De acordo com a entidade, um mês de garantia da lei e da ordem ambiental equivale a quase um ano da fiscalização do Ibama. E dois meses de GLO pagariam mil fiscais do Ibama durante um ano.
Governo Federal quer economizar dinheiro do orçamento
A ideia do Governo Federal com a fusão do Ibama e do ICMBio é acabar com estruturas que estariam duplicadas nas duas autarquias, economizando dinheiro do Orçamento. Ou seja, unir áreas dos dois órgãos que tenham sobreposição de tarefas, como trabalhos administrativos, por exemplo.
Por isso, se a fusão for concretizada, acredita-se que poderá impactar na estrutura de algumas carreiras e, consequentemente, nos próximos concursos públicos.
Vale destacar, contudo, que se a proposta do MMA for para frente, ainda precisará ser aprovada no Congresso Nacional, provavelmente na forma de um projeto de lei. Mas ainda não se sabe como os trâmites seguirão.
A ideia de fundir os dois órgãos ambientais já havia sido tema do Governo Bolsonaro, mas tinha sido rejeitada até o ano passado. Agora, com o ministro Ricardo Salles, ela voltou para a agenda.
Apesar de parecer distante, a abertura destes concursos se torna uma possibilidade após o Governo Federal ter sofrido pressão de investidores para políticas de combate ao desmatamento mais eficientes.
Assim como os demais órgãos vinculados ao Poder Executivo Federal, Incra, Ibama, Funai e ICMBio precisam de autorização do Ministério da Economia para contratar servidores e devem encaminhar suas demandas ao Governo Federal.
Segundo Mourão, os ministérios responsáveis por cada um desses órgãos estudam como poderá ser viabilizada a reposição dos quadros. Depois disso, ainda será necessário o aval do ministro Paulo Guedes.
A seguir confira mais informações sobre os pedidos de concurso que foram encaminhados pelos órgãos ambientais ao Ministério da Economia, antes do anúncio do vice-presidente Hamilton Mourão.
Concurso Ibama
Este ano, o Ibama não informou quantas vagas solicitou. O que se tem por base é o pedido de concurso feito anteriormente, em 2019, quando foi solicitado o aval para preencher 2 mil vagas em carreiras de níveis médio e superior, com ganhos de até R$8 mil. Confira:
CARGO
ESCOLARIDADE
REMUNERAÇÃO
VAGAS
Técnico administrativo
Nível médio
R$4.063,34
847
Analista administrativo
Nível superior
R$8.547,64
313
Analista ambiental
Nível superior
R$8.547,64
894
A carreira de técnico administrativo exige o nível médio. Já para analistas é preciso ter o nível superior. Os vencimentos são de R$4.063,34 e R$8.547,64, respectivamente. Os valores incluem o auxílio-alimentação de R$458 e, no caso de técnico, a Gratificação de Desempenho de R$1.382,40.
Concurso ICMBio
Para o ICMBio, o último pedido de concurso que se tem notícia foi protocolado em 2018 para o preenchimento de 1.179 vagas, sendo 524 para cargos de nível médio e 655 para o nível superior.
CARGO
ESCOLARIDADE
REMUNERAÇÃO
VAGAS
Técnico administrativo
Nível médio
R$4.063,34
457
Técnico ambiental
Nível médio
R$4.408,94
67
Analista administrativo
Nível superior
R$9.389,84
94
Analista ambiental
Nível superior
R$9.389,84
561
Todos os valores mencionados na remuneração já incluem os R$458 de auxílio-alimentação.
De acordo com a Assessoria de Comunicação da Funai, o pedido encaminhado visa para o preenchimento de 826 vagas. As oportunidades abrangem carreiras de níveis médio e superior, conforme listado abaixo.
As lotações previstas estão distribuídas entre as unidades descentralizadas em todo o Brasil; além do Museu do Índio, no Rio de Janeiro; nas Frentes de Proteção Etnoambiental; e na sede da fundação, no Distrito Federal.
Para o nível médio, as vagas solicitadas são para o cargo de agente em indigenismo. A remuneração inicial, segundo dados de junho de 2019, é de R$5.349,07 mensais.
Já para o nível superior as vagas solicitadas são nos seguintes cargos:
Administrador
Antropólogo
Arquiteto
Arquivista
Assistente Social
Bibliotecário
Contador
Economista
Engenheiro
Engenheiro Agrônomo
Engenheiro Florestal
Estatístico
Geógrafo
Indigenista Especializado
Médico Veterinário
Pesquisador
Psicólogo
Sociólogo
Técnico em Assuntos Educacionais
Técnico em Comunicação Social e Zootecnista.
Para essas carreiras, segundo dados de junho de 2019, o ganho mensal é de R$6.420,87. A Funai não divulgou a distribuição das vagas entre os cargos.
Concurso Incra
O Incra não informou se enviou novo pedido de concurso este ano. No início do ano passado, o Tribunal de Contas da União (TCU) reconheceu a baixa eficácia do órgão e recomendou que fosse realizado um novo concurso.
O último pedido que se tem notícia foi de 2015, quando o órgão demandava o preenchimento de mais de 800 vagas. Os cargos que compõem o quadro da autarquia são:
técnico administrativo e técnico de reforma e desenvolvimento agrário, de nível médio; e
analista administrativo, analista de reforma e desenvolvimento agrário e engenheiro agrônomo, de nível superior.
Por enquanto, não há previsão oficial de abertura de concurso para nenhum desses órgãos ambientais. Mas todos eles têm a reposição da força de trabalho no radar do Governo Federal, de modo que os interessados devem ficar de olho.
Futuro servidor, confira o material de preparação da Folha Dirigida e comece já os estudos para o seu concurso!