Como o Le Wagon descobriu o Brasil (e a América Latina)

Pedro Meyer, Co-founder do Le Wagon LatAm, fala sobre como a startup conquistou os cinco continentes

Autor:
Publicado em:18/12/2020 às 12:07
Atualizado em:18/12/2020 às 12:07

* Por Pedro Meyer

Sou o Pedro, cofundador do Le Wagon América Latina. Há exatos cinco anos, eu estava apresentando meu aplicativo de final de curso do Le Wagon em Paris - no dia 20 de novembro de 2015.

O Le Wagon é o mais bem avaliado bootcamp de programação do mundo pelos últimos 4 anos consecutivos. Para quem não sabe o que é um bootcamp de programação, pode ler esse excelente artigo do meu sócio Fernando.

Nessa época, estávamos em cinco países. Hoje, estamos em 25 países, 40 cidades, quase 10 mil alunos formados e mais de 300 startups nascidas no Le Wagon, que levantaram juntas o equivalente a quase meio bilhão de reais.

Você consegue imaginar se espalhar pelo mundo dessa forma só com bootstraping? O único round de investimentos do Le Wagon Global aconteceu em janeiro de 2020, 7 anos depois de fundado, onde levantamos mais de R$100M.

Nós, do Le Wagon América Latina, cuidamos de quatro países e oito cidades. Neste artigo, vamos te contar um pouco dessa história: como o Le Wagon chegou na América Latina, como estamos conseguindo fazer parcerias com grandes empresas, universidades, governos e órgãos internacionais, como inauguramos bootcamps part-time e modelos de financiamento onde alunos que não tem meios só pagam sua formação quando conseguem um bom emprego.

Algumas pistas: tem a ver com muito trabalho, um time excelente e parceiros muito legais.

Alunos Le Wagon América Latina
Alunos Le Wagon América Latina (Foto: Divulgação)

Nasce um Wagon

O Le Wagon (pronuncia-se Lê Vagon) foi criado no segundo semestre de 2013 por dois irmãos, Romain e Boris Paillard. Romain era advogado, formado pela Sorbonne, e Boris, engenheiro formado pela Centrale, que trabalhava como analista quantitativo para o Banco HSBC.

Longe de serem Geeks como você e eu, foram picados pela mosquinha do empreendedorismo, largaram seus empregos e tiveram dois flops (um calendário inteligente e uma rede social de músicos) antes de decidirem lançar o Le Wagon - uma escola de programação suficientemente acessível para ensinar programação a empreendedores.

Depois da primeira turma e diante da necessidade de melhorar o currículo e desenvolver a plataforma de ensino, Sebastien Saunier, um programador ex-Google formado em uma renomada Grande École francesa (Polytecnique), se juntou a eles no começo de 2014 como CTO.

Participei da turma número 15 - chamaremos as turmas de Batch daqui em diante, como chamamos na nossa rede de alunos -, de setembro a novembro de 2015.

Depois de me formar em Relações Internacionais, seguidos de 12 anos de carreira em fotografia profissional, eu queria aprender a programar para mudar o mundo.

Mesmo durante a minha formação, já conversava com o Boris sobre a possibilidade de levar o Le Wagon para o Brasil. Quando terminei a formação, comecei a trabalhar com o Le Wagon como TA (Teacher Assistant). Primeiro em Paris, depois, em Amsterdam e Bruxelas.

O Vagão Tupiniquim   

De férias no Brasil em dezembro, esbarrei com um velho amigo com quem andava conversando sobre lançarmos uma plataforma de locação longo prazo, Fernando Americano, que trabalhava há mais de 10 anos com tecnologia (Cubo, Qualcomm, Startup Farm).

Na época, ele tinha acabado de voltar pra Belo Horizonte para empreender, estava fundando o FAZ, hoje principal maker space de BH. Falei com ele que queria muito levar o Le Wagon para o Brasil e ele ficou muito animado de participar dessa aventura.

Por coincidência, na mesma época, o Mathieu Le Roux, que tinha acabado de largar o cargo de VP América Latina da Deezer, contatou o Le Wagon Paris sobre a possibilidade de levar o Le Wagon para São Paulo.

Boris e Romain então nos apresentaram e Fernando e Mathieu desembarcaram em Paris, em março de 2016, para nos conhecermos todos pessoalmente e conversarmos com Romain, Boris e Saunier.

Pronto, estavam formados os 3 mosqueteiros do Le Wagon Brasil. Como éramos três, a ideia seria não só lançarmos no Brasil, mas também em outros países da América Latina.

Sócios Le Wagon BR
Mathieu, Fernando e Pedro, fundadores do Le Wagon Brasil (Foto: Divulgação)

Fernando ficou em Paris para fazer o Batch 24 e voltou para o Brasil para abrimos a primeira turma em São Paul,o em Julho de 2016. Na ocasião, Mathieu participou como Driver e como aluno da nossa primeira turma tupiniquim, o Batch 34.

Em 2017, abrimos Rio em Janeiro o Batch 50, seguido de Belo Horizonte em dezembro do mesmo ano. Caso queira conhecer as histórias de algumas vidas que ajudamos a mudar no Brasil, pode encontrar várias aqui!

O Le Wagon Brasil foi um dos principais responsáveis pela criação do nosso programa Part-time, uma demanda frequente de potenciais alunos que tinham que trabalhar e/ou estudar durante a formação.

Em parceria com a Provi, fintech de crédito educacional fundada por um aluno nosso, lançamos no Brasil financiamentos tipo ISA (Income Share Agreement).

A Revelo lançou em parceria com a gente o ReveloUp, no qual ajudam no parcelamento e depois recrutamento dos alunos formados.

Em parceria com a ENAP (Escola Nacional de Administração Pública) e com a Flacso Brasil, lançamos também o primeiro bootcamp de programação para funcionários públicos do mundo.

Desde julho deste ano, já formamos 40 funcionários públicos e estamos formando mais 40 no início de dezembro. A ideia é que eles voltem para seus órgãos depois da formação para acelerar a digitalização do governo federal do Brasil.

Já recebemos recentemente convites de importantes órgãos internacionais para colaborações com outros governos da região!

Los Wagons Hermanos

Em novembro de 2017 fomos apresentados pelo Boris para quem viria a ser nosso quarto mosqueteiro na expansão latino-americana do Le Wagon, Sebastian Sempe, aluno do Batch 75 do Le Wagon Barcelona.

Ele vinha de uma carreira na LAN linhas aéreas depois de formar como Engenheiro Industrial. Se tornou então o parceiro do Le Wagon Brasil para abrir o Le Wagon Argentina, nosso Messi!

A primeira turma Argentina foi o Batch 156, de maio a julho de 2018. Em 2019, enquanto na Europa lançávamos parcerias com universidades (HEC, WHU, LSE, IESEG), na Argentina lançamos nossa primeira parceria com uma Universidade na América Latina - a IAE Universidade Austral.

Lançamos o programa Bootcamp IAE, em que unimos o know-how em ensino de programação e a excelência da IAE em Business.

Também em 2018, abrimos o Le Wagon México, em parceria com Clement Picard-Zivy, que tinha sido aluno do Le Wagon Paris no Batch 83 e queria abrir na Colômbia. Como um dos nossos concorrentes acabara de abrir no México, demos prioridade.

Em 2019, depois de quase dois anos trabalhando juntos, o Clement teve que nos deixar, mas a aventura no México estava só começando.

Então contratamos a Andrea Bazan, aluna da primeira turma do Le Wagon México (Batch 180) como General Manager do México.

Santiago sempre foi uma das nossas prioridades na América Latina, mas a dificuldade em encontrar um parceiro local atrasou nossos planos.

Desde 2019 vínhamos sondando o mercado e entrevistando potenciais parceiros. Depois de muitas tentativas sem sucesso, nosso quarto mosqueteiro Sebastian se propôs mudar-se para a cidade para lançá-la.

A situação da pandemia, no entanto, por um lado nos fez adiarmos sua mudança, mas por outro, facilitou nossa abertura. Isso porque, durante as quarentenas, dependendo da regulamentação local, estamos fazendo batches remotos e batches híbridos (remoto e presencial ao mesmo tempo).

O governo do Chile tem incentivado muito iniciativas de treinamento digital e estamos conversando sobre uma possível parceria.

O que o futuro nos reserva?

Grande parte do nosso sucesso vem do nosso bootcamp full-stack web-development. Em 2019, lançamos um novo bootcamp, de Python & Ciência de Dados.

Caso queira ver o resultado das nove semanas de formação em período integral das nossas primeiras turmas, é só acompanhar o demoday - em inglês no Rio ou em português em São Paulo.

E estamos lançando o mesmo programa, mas em período parcial para aqueles que trabalham ou estudam. Em Janeiro, em inglês, no Rio e maio, em português, em São Paulo.

Estamos também ampliando nosso catálogo de ofertas de b2b, em que oferecemos treinamento executivo para empresas.

A América Latina é uma terra de imensas oportunidades, vamos listar algumas:

  • um mercado gigantesco altamente digitalizado;
  • compartilha o fuso-horário com os Estados Unidos;
  • aumento significativo da procura por nearshore outsourcing;
  • desvalorização do real diante do dólar
  • crescente deficit na oferta/demanda de desenvolvedores na América Latina e nos EUA;
  • crescente percepção dos governos locais e órgãos internacionais da necessidade de fomentar bootcamps de programação na região;
  • aumento substancial na procura de formação - remota, online e de mudança de carreira como consequência da pandemia.

Estamos vivendo uma espécie de tempestade perfeita positiva na região, e acreditamos que bootcamps de programação têm um lugar especial na formação rápida de mão-de-obra qualificada, tanto na área de programação quanto de ciência de dados para alimentar não só o mercado da região como de países desenvolvidos.

É uma oportunidade para diminuirmos o desemprego e a desigualdade regional, com a ajuda de parceiros de financiamento, governos, órgãos internacionais e a iniciativa privada.

Se me perguntassem o que tornou tudo o que vivemos até hoje e o que pretendemos viver possível, só temos uma resposta: colaboração e os colaboradores.

Para você ter uma ideia, só na America Latina, mais de 100 professores e Teaching Assistants passaram pelo Le Wagon ao longo dos quase cinco anos dessa jornada.

O primeiro professor de São Paulo e do Rio, Roberto Barros e Matheus Penchel, continuam conosco até hoje.

Quanto ao time, foi durante muito tempo só eu, Mathieu e Fernando, mas agora temos a sorte de termos Ana Riccetti, Fabiana Carvalho, Julia Mathias, Milene Cardoso, Rafael Alonso e Vitor Zucker conosco no Brasil, Nicolas Kennedy e Virginia Villar em Buenos Aires e Andrea Bazan, Ignacio Alonso e Tori Walker no Mexico!

A todos vocês, nossos mais profundos agradecimentos.

 

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Folha Dirigida.

Pedro Le Wagon

Sobre o autor

Formado em Relações Internacionais na PUC-MG, após 12 anos trabalhando como fotógrafo profissional, Pedro Meyer decidiu mudar sua vida e aprendeu a programar em 2015 no Le Wagon de Paris. Hoje, ele é um dos fundadores da Le Wagon na América Latina.
 

Carregando...