Mulheres quebram paradigmas e trilham carreira na área de Tecnologia

Em uma área predominantemente masculina, mulheres se desvinculam de estigmas e assumem posições de liderança.

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Publicado em:09/03/2021 às 16:00
Atualizado em:09/03/2021 às 16:00

É durante a infância que muitas pessoas começam a despertar interesse por suas vocações profissionais, como foi o caso de Pollyanna Gonçalves, que gostava de montar e desmontar brinquedos por curiosidade. “Era uma forma de descobrir como as coisas funcionavam”, lembra.

E foi isso que despertou nela o gosto pela tecnologia. “Um tempo depois, no final do ensino médio, lendo algumas publicações sobre carreiras eu me identifiquei com Ciência da Computação.” Ao iniciar o curso, ela percebeu que a área tinha mais a ver com Matemática do que com desmontar coisas, mas aquele universo a fascinava.

Atualmente, mestre em Ciência da Computação, Pollyanna trabalha como gerente de Data Science na Hotmart. Ela relata que as dificuldades para as mulheres entrarem nessa área começam antes mesmo da fase escolar. “Culturalmente e inconscientemente somos desestimuladas a seguir na carreira de tecnologia desde criança.”

“Brinquedos rotulados ‘de meninas’ dificultam o contato com áreas como Engenharia, Ciências e Matemática. Além disso, o curso tem uma baixa porcentagem de mulheres, o que faz com que muitas acreditem que aquele universo não é para elas.”

Segundo dados de 2018 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres representam apenas 20% dos profissionais contratados na área. Para Pollyana, o principal estigma é que esse mercado é feito somente para homens.

 

Pollyana Gonçalves | Hotmart
Pollyana Gonçalves é gerente de Data Science na Hotmart
(Foto: Arquivo Pessoal)

 

“Quando pensamos em tecnologia os primeiros nomes que vem à nossa mente são Steve Jobs, Bill Gates e Allan Turing”. Mas isso não é por falta de mulheres que tiveram grandes feitos na área.

Ela reforça que há anos mulheres vêm fazendo história, como é o caso de Ada Lovelace, que criou o primeiro algoritmo, e de Grace Hopper, uma das responsáveis pela criação de linguagem de programação para bancos de dados comerciais. 

Além da Karen Sparck Jones, uma das criadoras do conceito de sistemas de busca e localização de conteúdo. E mais recente, a primeira foto de um buraco negro só foi possível graças a Katie Bouman, que foi responsável por criar um algoritmo capaz de entender dados astronômicos. 

“Não podemos perder essas referências. É preciso encorajar e estimular mais mulheres a ingressarem no mercado. As mulheres precisam se sentir representadas. Embora a luta seja desafiadora, a cada dia que uma mulher se realiza, vence um desafio e derruba um tabu, ela inspira e encoraja outras.”

“É preciso reprogramar o mercado de tecnologia, para garantir que todas possam trabalhar cercadas pelo respeito e reconhecimento que merecem”, completa. Segundo ela, a participação de mulheres, seja nas faculdades ou em empresas, gera novos olhares, percepções e aprendizados. 

“A representatividade feminina tem o poder de inspirar outras mulheres a ocuparem lugares tradicionalmente masculinos”.

A gerente afirma que é extremamente necessário incentivar e apoiar iniciativas que promovam o avanço de mais mulheres na tecnologia. “É preciso abrir os olhos e as portas do mercado para a atuação feminina.” Na Hotmart, mais de 44% dos funcionários são mulheres e muitas delas estão em posições de liderança.

 

Mulheres em tecnologia
Mulheres quebram paradigmas e trilham carreira em Tecnologia
(Foto: Freepik)

 

Após ganhar primeiro computador, Márcia se interessou por programação ainda na infância

Amante da área de Exatas, Márcia Asano conta que cogitou várias carreiras antes de fazer o vestibular para Computação. “Pensei em estudar Física, Astronomia ou Engenharia Elétrica, mas desde cedo percebi que gostava de resolver problemas e adorava computadores”, conta.

Aos 12 anos, ela ganhou de seu pai um computador do modelo MSX. “Comparado aos modelos de hoje era um ancestral”, brinca. Caçula de três irmãs, Márcia lembra que foi ela quem ficou mais “viciada” no computador e teve a iniciativa para começar a programar. 

“Eu comecei a comprar revistas e livros que ensinavam a programar e criava meus próprios joguinhos. Lembrando que na época não havia internet. Lembro que o primeiro jogo que consegui fazer era o da minhoca, e fiquei fascinada com aquilo. Comecei a adaptar o jogo e em várias pequenas coisas para testar.”

Segundo a COO da WAVY Global, ainda existe um enorme preconceito para com as Ciências Exatas que é estimulado desde a infância. “Sempre parece algo difícil ou complexo e não prazeroso. Eu sempre gostei de resolver problemas, adorava jogos de tabuleiro, como xadrez, e achava as disciplinas de Exatas as mais divertidas.”

Sobre a baixa presença feminina no mercado, ela diz ser importante registrar que esse cenário não era assim: na década de 70, a primeira turma de Ciências da Computação do Instituto de Matemática e Estatística (IME), em São Paulo, era composta por 70% de mulheres; porém, em 2016, esse número caiu para menos de 15%.

Márcia é COO (Chief Operating Officer) da Wavy Global
(Foto: Arquivo Pessoal)

“Em 1980, começou a grande inversão, quando os computadores começaram a ser associados a jogos e uma das hipóteses é de que, a partir daí, a computação começou a ser associada à coisa de menino”, conta.

Além disso, ela pontua que existem outros fatores que explicam essa queda no interesse de mulheres pela área, como a influência familiar. “Na minha família, por exemplo, meu pai preferia que eu fosse médica, achava a profissão mais apropriada para mim, apesar de ele saber que não era minha vocação”.

Veja também: História e luta pela igualdade de gênero no mercado de trabalho

Ela também chama atenção para a falta de referências, tanto no núcleo familiar, como nas próprias instituições de ensino, com poucas professoras. Para ela, é importante demonstrar para as mulheres que elas têm potencial e habilidade para ocupar essa área.

“Existe uma escassez enorme de profissionais de tecnologia, e incentivar mulheres é uma das formas de diminuir esse gap.”

"Porém, considero que o mais importante é o impacto e a influência das mulheres na construção de tecnologias sem viés. Quando falamos de máquinas assistentes, sempre associadas e nomeadas no feminino, vemos como estamos longe de eliminarmos esse viés nas nossas tecnologias", completa.

Ela relata também outras situações que poderiam ser evitadas com um time diverso, como nos software de tradução de idiomas que mudam o gênero da frase porque a profissão é comumente associada a um gênero. 

No mercado de games também não é diferente, "jogos carregados de sexualidade e estereótipos femininos" ainda são um desafio que poderia ser vencido com a presença de mulheres na criação destes. 

"Já realizamos muito trabalho para incentivar o ingresso de mulheres na Wavy e lançamos na última semana o programa de recrutamento exclusivamente para mulheres e pessoas não-binárias. O objetivo é transformar o processo de recrutamento em um verdadeiro processo, inclusive de ensino."

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