80% das mulheres não se sentem ouvidas pelo chefe, diz estudo

Mais de 80% das mulheres dizem não se sentirem ouvidas pelo chefe, segundo levantamento do Todas Group.

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Publicado em:09/03/2021 às 13:00
Atualizado em:09/03/2021 às 13:00

Uma pesquisa recente realizada pela Todas Group, plataforma digital voltada para acelerar as carreiras femininas, aponta que muitas mulheres no mercado de trabalho não se sentem ouvidas pelo chefe.

No levantamento foram entrevistadas quase duas mil profissionais e cerca de 80% delas responderam que enfrentam esse problema. Tati Sadala, cofundadora da plataforma, observa que, embora o termo empatia venha sendo muito empregado por líderes de todos os segmentos, ainda há uma dificuldade grande de colocá-lo em ação.

“Para os que acham que há um pouco de exagero, que não há tanta distinção, digo que trabalhei numa companhia onde respondia por cerca de 85% do faturamento, era gerente. Os outros três profissionais (homens) que respondiam pelo restante do faturamento, eram diretores", comenta Flávia Bittencourt, presidente da Adidas do Brasil e mentora do Todas Group.

Outro diagnóstico foi sobre a dificuldade que as mulheres estão sentindo em se posicionar no ambiente de trabalho, seja por medo de julgamento ou por medo de serem demitidas. Com o trabalho remoto, este número cresceu ainda mais: 50% das mulheres dizem ter ainda mais dificuldade em se posicionar em reuniões online. 

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Uma em cada duas mulheres está insegura no trabalho

Outro insight da pesquisa é que uma em cada duas mulheres, ou seja, metade delas, está se sentindo insegura com o seu trabalho atual. Com certeza, a insegurança não atinge somente elas diante da crise de saúde, mas basta olhar os dados sobre o mercado de trabalho para observar que a pandemia é apenas um agravante sobre um problema já existente. 

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De acordo com a Todas Group, elas também mostraram preocupação com o impacto da pandemia nas suas carreiras: 70% das mulheres que tiveram sua vida impactada pela crise - por terem filhos em casa ou alguém da família que precise de cuidados especiais - acredita que sua carreira irá desacelerar.

Não bastasse isso, a maioria se sente cansada e não realizada. Cerca de 89% das entrevistadas disseram que gostariam de estar mais realizadas profissionalmente. 

“De forma qualitativa, ouvimos diversos relatos de mulheres que estão repensando sua carreira, seja para desacelerar, sair do mercado de trabalho ou mudar de empresa - mulheres de diferentes níveis hierárquicos e estágios da carreira”, conta Tati Sadala, cofundadora do Todas Group.

Líderes e chefes devem combater falhas na comunicação

Para tentar entender de onde surge o problema apontado na pesquisa, Folha+ conversou com a cofundadora do Todas Group, Tati Sadala. De acordo com ela, antes de qualquer coisa, é preciso reconhecer que todos estão passando por momentos difíceis, diante das incertezas políticas e econômicas, e pressão por resultado dentro das empresas.

Tanto mulheres quanto homens, em todas as posições hierárquicas, estão passando por desafios. Mas, falando de liderança, Tati lembra que todos os dados relacionados às mulheres são significativamente mais devastadores.

Isso se deve, na maioria dos casos, ao fato de elas assumirem tarefas domésticas e, em certos casos, relacionadas à maternidades, que representam um trabalho part time a mais quando comparado às tarefas assumidas por homens. 

Outro dado destacado por ela, que explica em parte o gap na comunicação com colaboradoras, é que 41% dos homens em posições de alta liderança dizem estar exaustos. Quase 30% deles reconhecem estar à beira de um burnout, segundo dados de estudo realizado pela Mckinsey & Company durante a pandemia. 

“Sentindo-se pressionados e cansados, ouvimos que a maioria dos chefes não abrem espaço na agenda para ouvirem verdadeiramente o que as mulheres estão passando em suas casas, também não estão adaptando as reuniões e os pedidos de entregas delas às questões que estão enfrentando por estarem sobrecarregadas de trabalhos.” 

Não tendo esse espaço aberto, as mulheres se posicionam ainda menos por medo de terem avaliações negativas de performance, perderem oportunidades profissionais futuras, não serem vistas como colaborativas, serem prioridade em demissões, entre diversos outros medos apontados por elas.

Para dar voz, precisa-se dar ouvidos. É importante criar espaço para diálogo transparente, perguntar como as mulheres estão em casa e se o modelo atual de trabalho está funcionando. Escutar significa querer entender sem julgamento nem rótulos, entendendo que mulheres se encontram em posição de privilégio diferente especialmente neste momento.”

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Mulheres enfrentam interrupções e falhas na comunicação em empresas
Mulheres enfrentam interrupções e falhas na comunicação em empresas
(Foto: Reprodução)

 

Falhas na comunicação geram impactos negativos na equipe

Antes da pandemia, diversas pesquisas já apontavam que mulheres, em geral, se posicionavam menos no ambiente de trabalho. E quando faziam isso, eram mais interrompidas em suas colocações.

“Com isso, muitas vezes cria-se um círculo vicioso de gap na comunicação. O gap na comunicação se torna cada vez maior, mulheres sentindo que seus chefes não se importam com sua vida ou sua opinião, ficam menos dispostas a se exporem. Neste círculo vicioso, desmotivadas por não se sentirem ouvidas em seus trabalhos, se expõem e contribuem proativamente cada vez menos; enquanto outras se questionam se realmente está valendo a pena tanto esforço e renúncias”, avalia Tati. 

Os impactos desse círculo vicioso são diversos, avalia a cofundadora do Todas Group. A começar pela barreira de comunicação interna que afeta a diversidade de novas ideias e opiniões, e, consequentemente, inovação e resultado. 

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