Saúde psicológica e estudos na quarentena: como melhorar o desempenho?

Em tempos de pandemia a saúde psicológica fica altamente afetada e isso reflete nos estudos para concursos. Veja como lidar com a situação.

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Publicado em:11/05/2020 às 13:00
Atualizado em:11/05/2020 às 13:00

Além de dar dicas para melhorar o desempenho nos estudos durante a pandemia, a profissional conta por que, muitas vezes, as dicas e fórmulas de estudos ensinadas na internet não funcionam.

Psicóloga Juliana Gebrim
Psicóloga clínica e neuropsicóloga tem
20 anos de experiência (Foto: Divulgação)

Antes de qualquer coisa é preciso entender que o desempenho nos estudos tem relação direta e profunda com o estado psicológico do candidato, como explica a especialista.
 

“A saúde psicológica sempre impactou nos estudos, porque as nossas emoções gerenciam toda a nossa vida. Quem não tem equilíbrio emocional, fica prejudicado em vários níveis.” 

 

Fórmulas mágicas podem atrapalhar desempenho


Todo concurseiro certamente já se deparou na internet com pessoas oferecendo soluções mágicas para os estudos.

Mas saiba que, de acordo com Juliana Gebrim, alguns desses métodos não apenas são ineficazes como também podem atrapalhar a evolução nos estudos.

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A psicóloga faz uma crítica a pessoas que não têm a preparação necessária para falarem de determinados assuntos e acabam oferecendo fórmulas ruins para melhorar memória, foco, concentração ou acabar com a procrastinação. 

Mas a questão, ela explica, é que essas barreiras enfrentadas na hora de estudar para um concurso são, na verdade, sintomas. Por isso não podem ser tratadas como a causa do problema.
 

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“São questões prejudicadas pelas emoções”. Os concurseiros devem ficar atentos a “soluções” que apenas abrangem esses sintomas e não a causa, que é a emoção em si.
 

“Por exemplo, uma pessoa ansiosa poderá ter dificuldade de memorização, de concentração e de foco. Assim como uma pessoa depressiva pode não conseguir ter uma rotina para os estudos.”


Sendo assim, tratar diretamente da causa desses sintomas sentidos na hora de estudar é o primeiro passo para melhorar o desempenho. 
 

“É importante ir na causa. E não ficar cutucando sintomas.”

 

Psicóloga dá cinco dicas para enfrentar causas do baixo desempenho


Tendo compreendido que o baixo desempenho nos estudos pode ter causas mais profundas, a psicóloga Juliana indica aos leitores da FOLHA DIRIGIDA cinco dicas para sair desta situação. Confira:

1. Procurar ajuda especializada


Para identificar bem a causa dos sintomas que prejudicam os estudos, o candidato deve buscar ajuda profissional. Um psicólogo, por exemplo, poderá ajudá-lo a identificar qual é o real problema. E só então indicar caminhos para aliviar os sintomas.
 

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Para aqueles que não têm condições financeiras de arcar com consultas, uma alternativa é buscar psicólogos e voluntários. Principalmente agora durante a pandemia, vários deles prestam serviços online sem custo.
 

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2. Avaliar contexto a sua volta


Outro ponto destacado pela psicóloga é a questão familiar e das relações. É imprescindível que o candidato tenha um bom ambiente de estudos. Se ele notar algum problema dentro de casa, pode buscar alternativas.

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Em tempos normais, algumas soluções são estudar na biblioteca ou alugar um cantinho de estudos, como uma baya, por exemplo. Mas já que há a questão do distanciamento social, é fundamental conversar com quem mora na mesma casa. Ser claro sobre a necessidade de um tempo de silêncio e sossego para estudar.

Vale até mesmo fazer acordos como os familiares, organizando horas para ligar e desligar a TV, por exemplo.
 

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3. Buscar um método personalizado


O terceiro ponto é procurar um método de estudos que seja o mais adequado para si. A psicóloga relata haver diversos casos de concurseiros que gastam muito tempo correndo atrás e tentando aprender métodos de estudos que acabam não dando certo.

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Isso acontece porque cada aluno tem sua individualidade e precisa chegar à sua melhor técnica. Alguns vão aprender mais visualmente, outros lendo, outros fazendo resumos.
 

“O importante nessa hora é você detectar qual é o método que sempre funcionou para você (...). Não existe receita de bolo, apesar disso ser muito vendido. (...) Se o método deu certo com uma pessoa, não vai dar certo com você necessariamente.”


4. Buscar motivação corretamente


A psicóloga orienta os concurseiros a não perderem muito tempo com abstrações, mas sim a buscarem diariamente se nutrir de questões positivas. Isso é o oposto da chamada positividade tóxica, que desconecta a pessoa da realidade. 
 

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Ninguém precisa estar bem 100% do tempo. Todos nós temos dias bons e dias ruins. E a tristeza e a frustração são fatores muito importantes para o crescimento pessoal.
 

“As pessoas evitam esses estados, mas eles são completamente enriquecedores de experiência pessoal para a psicologia.” 


Sendo assim, busque a motivação tendo boas metas e objetivos claros, exercitando a gratidão e nutrindo-se das questões positivas que os estudos podem proporcionar. Mas não ignore seus estados emocionais e aprenda a lidar com eles.
 

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5. Respeitar os limites individuais


Infelizmente, é comum pessoas que estão estudando para concursos se cobrarem muito no aprendizado para dar tempo de estudar tudo antes do edital sair. Muitas vezes esse comportamento por indicar um quadro até mesmo ansioso, de acordo com Juliana. 

Para a psicóloga, que lida diretamente com questões relacionadas a concursos, buscar de forma excessiva esgotar o conteúdo do programa do edital, sem observar a saúde psicológica, pode resultar em um desempenho ainda pior.
 

“Ao estudar excessivamente, chega uma hora em que o cérebro não reage tanto se a pessoa não tiver uma hora de descanso. E aí muitas horas são jogadas fora. Porque você, na realidade, não estava concentrado.”


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Estudante cansada
Psicóloga também fala esgotamento e procrastinação
(Foto: Reprodução)


Candidatos devem evitar esgotamento emocional


Esse é mais um dos problemas que afeta o desempenho dos candidatos de concursos públicos. E geralmente ele está relacionado ao último tópico das dicas mencionadas acima: uma autocobrança muito grande para estudar muito.

Juliana Gebrim explica que esse exagero ansioso pelo estudo leva ao que se chama na psicologia de esgotamento emocional ou esgotamento mental. Uma questão que pode desenvolver uma série de outros sintomas psicológicos, como os já mencionados.
 

“O importante é o equilíbrio. Equilíbrio entre horas de estudo e horas de descanso. Normalmente essa pessoa tem um êxito maior e consegue abranger uma quantidade maior de material.”


Como enfrentar a procrastinação nos estudos


Quando estamos emocionalmente abalados, a concentração, o foco, a atenção, todos ficam altamente comprometidos. Acontece que, como explica Juliana, nessas situações o cérebro está em outras áreas, para resolver outras questões. 
 

“O seu corpo está criando defesas contra aquela emoção. Que alerta muitas vezes um estado de perigo, de luta, de fuga. É o que a ansiedade faz. Então é muito difícil naquele momento a pessoa estar concentrada nos estudos.”


E um dos sintomas enfrentados por muitos candidatos de concurso nesses quadros é a procrastinação. Assim como os outros citados, ela é sempre, de acordo com a psicóloga, um sintoma de um quadro emocional
 

“A pessoa pode estar procrastinando por uma ansiedade de planejamento. Pode estar procrastinando por um quadro depressivo, que afeta diretamente a rotina. Pode estar procrastinando por determinados traços de personalidade que são, muitas vezes, inflexíveis.”


Por isso, mais uma vez, ela destaca  a importância para o candidato buscar a causa do sintoma. E afirma serem impossíveis soluções mágicas que prometem “acabar com a procrastinação”. 

O que o candidato precisa, na verdade, é reconhecer o problema e aprender a lidar com ele. Ela lembra que o procrastinador vai estar sempre flutuando de acordo com o humor dele.
 

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Esse problema é uma questão instaurada desde a época das cavernas, em que o ser humano já tinha seus planos a curto prazo para sobrevivência. Logo, não é possível colocar um fim na procrastinação. 

Mas sim ter o controle desse tipo de estado, de acordo a emoção associada. 
 

“Nessa época de pandemia ocorre muito a procrastinação, porque as pessoas já tinham quadros emocionais anteriores. E quando ocorrem grandes mudanças, esses quadros ficam mais expostos.”


Por isso ela retoma a questão inicial. Para o candidato de concurso ter mais saúde psicológica em primeiro lugar ele deve tratar a causa. Não cutucar sintomas ou tentar acabar com determinadas questões emocionais. Isso não é correto e não ajuda.
 

“Muitas coisas são vendidas na internet que não têm resultado efetivo nenhum. E aí o aluno fica rodeando sintomas sem tratar a causa.”