"Shecession": pandemia tirou mais oportunidades das mulheres

Desigualdade de gênero e acúmulo de funções deixa empregos das mulheres mais vulneráveis na pandemia.

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Publicado em:16/03/2021 às 16:00
Atualizado em:16/03/2021 às 16:00

Talvez você ainda não tenha ouvido falar sobre o termo 'shecession', que foi usado pela presidente do Instituto de Pesquisas sobre Políticas para Mulheres, uma ONG americana, C. Nicole Mason.

Ela usou o termo, em inglês - um neologismo derivado da palavra recession (que significa recessão em Português) - para se referir a uma crise de recessão feminina, durante entrevista ao jornal The New York Times

Não se trata de uma recessão qualquer, mas sim da forma como a pandemia reduziu de forma acentuada a diversidade de gênero no mercado de trabalho. Um cenário que já era delicado e que agora se desestabiliza diante da crise sanitária. 

Os dados não deixam mentir: estima-se que uma em cada duas mulheres, ou seja, metade delas, estão se sentindo inseguras com relação ao seu trabalho atual diante da pandemia. 

Além disso, 70% delas tiveram sua vida impactada pela crise, por terem filhos em casa ou alguém da família que precise de cuidados especiais. É o que demonstra pesquisa divulgada pela Todas Group, plataforma digital que acelera carreiras femininas. 

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Pandemia deverá provocar recessão feminina no mercado
Pandemia deverá provocar recessão feminina no mercado
(Foto: Reprodução/ Canva)

 

Homens x mulheres: impactos da pandemia no trabalho

É claro que essa preocupação com a pandemia e os seus impactos no emprego não é uma questão exclusiva da mulher. Afinal, a crise sanitária teve impactos em todo o mercado de trabalho

Mas há, sim, uma diferença de gênero quando o assunto é a vulnerabilidade do trabalho neste cenário. Isso porque, como já se sabe, a presença feminina no ambiente profissional é uma conquista recente e ainda delicada.

Segundo um estudo global da Mckinsey, consultoria empresarial americana, os empregos das mulheres são 1.8 vezes mais vulneráveis a esta crise que os empregos dos homens. Ou seja, o risco de serem afetadas no trabalho, para elas, é quase duas vezes maior.

No mundo todo, as mulheres representam cerca de 39% da força de trabalho atuante no mercado. Porém, de acordo com a mesma pesquisa, estima-se que elas já somam mais da metade (54%) dos empregos perdidos na pandemia. 

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Shecession: precisamos falar sobre o futuro

Se as mulheres estão mais vulneráveis no mercado diante da crise da saúde mundial, as perspectivas para o futuro não são tão positivas. Como visto, os dados atuais já apontam que houve uma perda de diversidade de gênero por causa disso.

Mas, afinal, por que para elas o impacto foi mais negativo? Para a cofundadora da Todas Groupe, Tati Sadala, a resposta está em dados que já eram evidentes antes mesmo da pandemia assolar o mundo.

“O principal fator para essa diferença de vulnerabilidade de emprego por gênero é a responsabilidade das tarefas da casa e da maternidade, que, antes da pandemia, já eram três vezes maiores para as mulheres, segundo a Organização Internacional do Trabalho.”

Com mais trabalho acumulado, somando as tarefas domésticas às responsabilidades corporativas, e com a discriminação de gênero, as mulheres, em muitos casos, acabam lidando com uma série de desafios a mais que os homens. 

Desafios esses que automaticamente as colocam em desvantagem. Além de 1 a cada 2 mulheres estarem se sentindo inseguras com relação ao seu trabalho diante da pandemia, 80% delas não estão se sentindo ouvidas pelos seus chefes.

A pesquisa da Todas Group ainda aponta a dificuldade que as mulheres estão sentindo em se posicionar no ambiente de trabalho, seja por medo de julgamento ou por medo de serem demitidas. 

Elas também mostraram preocupação do impacto da pandemia nas suas carreiras, por terem filhos em casa ou alguém da família que precise de cuidados especiais ao mesmo tempo em que atuam em home office. 

“A maior parte delas acredita que suas carreiras vão desacelerar ou que perderão oportunidades profissionais”, alerta Sadala. “A maioria se sente cansada e não realizada, 89% dizem que gostariam de estar mais realizadas profissionalmente”. 

Esse cenário coloca um desafio para gestores e gestoras que têm o compromisso de manter a diversidade: adotar posturas e práticas que contribuam para a permanência dessas profissionais no mercado.

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