Zup capacita PcDs em programação e oferece oportunidades de emprego
Inscrições são gratuitas e primeira turma começa já em setembro
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Publicado em:03/08/2020 às 14:30
Atualizado em:03/08/2020 às 14:30
Ensinar linguagem de programação e capacitar pessoas com deficiência (PcD) para o mercado de trabalho. Essa é a proposta do Programa Catalisa, promovido pela Zup - empresa de tecnologia - de São Paulo (SP), que está com inscrições abertas e gratuitas.
Lançado na data em que se comemora o Dia do Orgulho Autista (18 de junho), a iniciativa visa ensinar as linguagens Java, Kotlin ou React em projetos para clientes reais. Inicialmente, o treinamento aconteceria presencialmente, mas devido à pandemia de Coronavírus, ele será online.
Para participar do programa, os interessados devem fazer um pré-cadastro no site da Zupe depois responder um questionário enviado por e-mail. Segundo a empresa, os interessados devem ter familiaridade com programação, mas não necessariamente nas tecnologias do programa.
"É importante ter conhecimentos básicos de programação, saber programar em uma linguagem é diferencial. Estágios ou algum projeto na faculdade serão considerados diferenciais", explica.
De acordo com a companhia, após fazer a inscrição no programa e passar pelas etapas iniciais, os participantes serão contratados pela Zup, em regime temporário, por um período de três meses.
A primeira turma começará em setembro de 2020, com vagas limitadas. Mas, segundo a Zup, é possível que novas turmas sejam abertas em breve. Após os três meses, será feita uma avaliação de dedicação e potencial individual, que pode levar o participante a ser contratado definitivamente pela empresa.
Da experiência própria à criação do projeto
O Programa Catalisa é encabeçado por quatro integrantes da empresa que possuem deficiências ou limitações diversas. A UX designer, Joyce Rocha (que está no espectro do autismo), a lead de acessibilidade digital e UX, Jana Bernardino (deficiente visual), a talent acquisition Fernanda Oliveira (deficiente física) e a estrategista de diversidade e inclusão, Camila Bellato (que tem lupus).
Segundo a Zup, por esse motivo, todas compreendem as dificuldades de pessoas com deficiência em se estabelecer no mercado de trabalho.
No caso de Camila Bellato, há ainda outro empecilho: a lúpus não é considerada uma deficiência, o que fez com que empregadores, muitas vezes, a avaliassem como uma funcionária com saúde física e mental normal.
"Tenho lúpus há 18 anos, então já é mais da metade da minha vida convivendo com a doença e tive muitas complicações. Era difícil se manter no ambiente, que era muito incompreensível e explicar sempre pelo que eu passava, mas não ser julgada, avaliada de forma errada", diz.
A experiência a levou a ter outro ponto de vista desta situação e, por isso, seu projeto final em um curso foi justamente a empregabilidade de mulheres com lúpus.
"95% dos pacientes são mulheres, por influência hormonal, e eu via o quanto as mulheres sofriam para se manter empregadas tendo lúpus. É muito fácil dizer que as oportunidades são iguais para todos se eu não senti isso na pele", pontua Camila.
Já Joyce Rocha reforça o fato do autismo ser uma deficiência 'invisível', o que faz com que os processos inclusivos sejam mais difíceis. Segundo ela, esse foi um dos obstáculos mais complicados de lidar no mercado de trabalho, no qual já teve experiências negativas.
Agora como colaboradora da Zup e uma das responsáveis pelo Programa Catalisa, ela conta que uniu seus aprendizados ao de outras pessoas para pensarem e compartilharem ideias que vão ajudar Pessoas com Deficiência (PcDs) neste ambiente.
"Esse é nosso trabalho diário. Essa perspectiva de como é a nossa vivência. Nossa história individual é tão impactante para a gente pensar em relação a outras vivências mais significativas e positivas para toda essa galera que, muitas vezes, são excluídas, discriminadas", diz.
As dificuldades além do mercado de trabalho
Para pessoas com deficiência, as dificuldades vão além do ambiente de trabalho. Jana Bernardino, por exemplo, ressalta os desafios que foi preciso enfrentar em um curso online que fez recentemente.
"Precisei de 'buddy', um vidente, uma pessoa que ficasse comigo em tempo integral para me explicar todas as imagens que estavam na apresentação, tudo que estivesse sendo relatado que não estivesse na fala da professora e me explicar as dinâmicas, justamente porque o material não estava 100% acessível, e, dificilmente, estará em todas essas plataformas de educação online", explica.
Até recentemente, ela enxergava 100% com um dos olhos, mas ficou completamente cega depois de uma cirurgia para retirada de um tumor no cérebro. Vivendo agora dificuldades ainda maiores em razão da deficiência, ela afirma que a falta de adaptação em todos os ambientes contribui mais para a desigualdade.
"É um grande caminho a se perseguir ainda, tanto para o profissional do meio acadêmico quanto para a inserção no mercado de trabalho. Quanto mais alto o nível do cargo, mais se exige de experiência e, também, de atualizações de estudos. Então, é muito difícil concorrer de um pra um", avalia.
Criando oportunidades para PcDs
Atuando no setor de talent acquisition da Zup, Fernanda Oliveira se empenha constantemente em promover a diversidade dentro do próprio time, a fim de oferecer melhores oportunidades para todos.
Segundo a Zup, desta forma a iniciativa do Programa Catalisa visa alcançar estas pessoas e, principalmente, mostrar que todas podem aprender e se capacitar para estarem inseridas no ambiente de trabalho.
"A pessoa tem que ter vontade de aprender. Não importa se ela vai levar duas horas para responder um teste lógico enquanto outra pessoa responde em 30 minutos. A gente quer saber se ela tem capacidade de entender o conteúdo. Não queremos seguir a mesma lógica do sistema regular de ensino que existe na sociedade porque, de fato, a gente quer incluí-las, e nosso sistema é totalmente excludente da forma que ele é", diz.