Após queda, mercado de trabalho dá sinais de recuperação, diz Ipea

Estudo do Ipea destaca o crescimento de 1,5 milhão da população ocupada no país entre os meses de julho e setembro.

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Publicado em:12/11/2020 às 15:04
Atualizado em:12/11/2020 às 15:04

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou na última quarta-feira, 11, um estudo que destaca o crescimento de 1,5 milhão da população ocupada no país entre os meses de julho e setembro

Os números demonstram o primeiro movimento de recuperação parcial do número de postos de trabalho perdidos desde o início da pandemia, segundo duas bases de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A pesquisa estimou de duas formas a redução da população ocupada ocorrida nos cinco meses anteriores, do nível observado em fevereiro até julho. Usando apenas a PNAD Contínua mensalizada, a queda estimada foi de 14,1 milhões de postos de trabalho.

Substituindo as variações pelos dados da PNAD Covid-19, desde que esse levantamento começou a ser feito pelo IBGE, em maio, a queda acumulada entre fevereiro e julho foi menor: 12,8 milhões de vagas. A retomada de 1,5 milhão de postos entre julho e setembro representou, portanto, de um oitavo a um décimo do que foi perdido nos cinco meses anteriores.

Os setores de serviços domésticos e o grupo de alojamento e alimentação foram os que mais sofreram redução de postos de trabalho entre fevereiro e setembro, o que representa uma queda de 32,1% e 34,5%, respectivamente.

Já os grupamentos de atividades que registraram crescimento no mesmo período foram: administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (+6,5%); e informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (+0,5%).

Ainda de acordo com o estudo, o total de horas trabalhadas tem se recuperado mais rapidamente que a população ocupada, o que já resulta em uma jornada de trabalho média mais longa que a observada antes da pandemia. Isso torna ainda mais pertinente a proposta de estimular novas contratações com jornadas mais curtas, para que a retomada reconecte o máximo de pessoas ao emprego formal, em vez de concentrar muitas horas de trabalho em uma minoria, como vem ocorrendo.

Na avaliação do Ipea, se o aumento dos postos de trabalho não for mais rápido, a taxa de desocupação tenderá a subir. Isso ocorre porque a flexibilização do isolamento social e a redução do valor do auxílio emergencial podem estimular as pessoas que tinham parado de procurar emprego durante a pandemia a tentar de novo uma posição no mercado de trabalho.

 

Mercado de trabalho
Mercado de trabalho apresenta sinais de melhoria
(Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)


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Negros com ensino superior têm menor presença em cargos qualificados

Nos últimos anos, o quadro de emprego no Brasil não esteve animador. De 2014 para 2017, o número de desempregados quase dobrou e se manteve alto, com pequena queda em 2019, mas crescente intensificada em 2020, principalmente por conta da pandemia.

Infelizmente, a situação não está fácil para ninguém, mas, em um país com desigualdades latentes, alguns grupos ainda precisam enfrentar maiores percalços em uma realidade que já é difícil.

Com a piora dessa realidade, trabalhadores negros acabam sendo mais penalizados e compõem o grupo com maior dificuldade para atuar em carreiras de ensino superior. Consequentemente, eles acabam exercendo ocupações de menor qualidade. 

Segundo estudo da consultoria IDados, entre o primeiro trimestre de 2015 e 2020, o número de profissionais negros sobre-educados (que cursaram ensino superior, mas atuam em cargos de nível médio ou fundamental) cresceu mais do que brancos na mesma condição.

O levantamento mostra que no primeiro trimestre deste ano, 37,9% dos homens negros e 33,2% das mulheres negras estavam trabalhando em posições com nível inferior. Em 2015, esses percentuais eram de 33,6% e 27,3%, respectivamente.

Já para os trabalhadores brancos, também foi observado um crescimento no grupo de sobre-educados, porém em menor grau. Entre homens, o percentual passou de 27,2% para 29,6%, já com as mulheres, essa variação foi de 24,9% para 27,8%.

"A discriminação é, sem dúvida, um dos motivos do aumento de sobre-educados entre os negros. Há inúmeras evidências de que existe discriminação na hora da contratação quando o funcionário é negro", explica Ana Tereza Pires, pesquisadora do IDados e responsável pelo estudo.

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