Cofundadora do Nubank diz ser 'difícil' contratar líderes negros
Durante entrevista no Roda Viva, Cristina Junqueira disse que não pode 'nivelar por baixo' para contratar minorias.
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Publicado em:21/10/2020 às 12:00
Atualizado em:21/10/2020 às 12:00
Durante entrevista no programa Roda Viva, da TV Cultura, Cristina Junqueira, cofundadora do Nubank, disse que é "difícil" encontrar negros para ocupar cargos de liderança dentro da sua empresa.
De acordo com ela, a fintech possui uma exigência muito alta para esses cargos, o que torna difícil a contratação de minorias. Nas palavras dela, esses profissionais não teriam condições de trabalhar com os outros funcionários.
“Não adianta colocar alguém pra dentro que depois não vai ter condições de trabalhar com as equipes que a gente tem. Depois não vai ser bem avaliado. A gente não está resolvendo um problema, está criando outro, né?”, disse.
Cristina também relatou que a companhia investe em programas de formação gratuitos, mas que não pode “nivelar por baixo”. Segundo a VP, o Nubank está há um tempo com vagas abertas para algumas posições e não consegue encontrar candidatos.
"Estamos procurando uma pessoa para ser nossa líder global de diversidade e inclusão. Já faz algum tempo, já faz algum tempo que a gente está buscando [candidatos para] várias posições. Inclusive, tem uma posição de vice-presidente de marketing para trabalhar comigo que já estou há bastante tempo procurando e é difícil. Eu acho que recrutar Nubank sempre foi difícil. O maior desafio do Nubank é gente. Não dá para nivelar por baixo ", completou.
Empreendedores negros comentam declarações
Com a repercussão da fala de Junqueira nas redes sociais, alguns empreendedores negros comentaram o que foi dito pela empresária. Para Maitê Lourenço, fundadora e presidente da BlackRocks Startups, sem o reconhecimento das injustiças cometidas com minorias no passado, a justificativa acaba sendo sempre a mesma.
"Quando não se reconhece que existe uma dívida histórica com grupos minorizados, a 'justificativa' é sempre a mesma: 'eles não chegam', 'não estão preparados', 'nivelar para baixo'", disse Maitê.
Nina Silva, presidente do movimento Black Money, explica que dizer que não se encontra profissionais negros capacitados para compor as vagas da empresa é reducionista e mostra a ineficiência do processo de atração de talentos do Nubank.
"A desculpa de que não se encontra ou não tem como suprir exigências com os candidatos negros é no mínimo reducionista pautada na ineficiência do processo de procura destes profissionais", afirmou Nina.
Após repercussão negativa, Junqueira pede desculpas
Em suas redes sociais, a cofundadora do Nubank publicou um vídeo em que pede desculpas pelas declarações feitas durante a entrevista no Roda Viva. "Teve um trechinho do que eu falei lá que infelizmente não repercutiu tão bem. E eu queria dizer que falar de diversidade racial, gente, não é fácil".
"Queria pedir desculpas, [porque] acho que não me expressei da melhor maneira. É super importante a gente ter uma comunicação clara. Queria agradecer todo o feedback que está vindo, a repercussão que isso está tendo porque todo mundo tem o que aprender", disse.