Por um ambiente mais inclusivo, empresas apostam na diversidade

Processos seletivos conduzidos às cegas e vagas reservadas a candidatos negros têm sido algumas das alternativas.

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Publicado em:26/09/2020 às 09:00
Atualizado em:26/09/2020 às 09:00

Segundo uma pesquisa realizada pelo site VAGAS.com, pessoas negras são maioria apenas em vagas operacionais, onde são 47,6%, e técnicas, onde ocupam 11,4% das posições. Conforme o nível do cargo aumenta, também é visível a redução da participação de pessoas negras. Na direção das empresas, por exemplo, há apenas 0,7% de negros, enquanto brancos, amarelos e indígenas ocupam 2% cada.

É visando igualar essa estatística que diversas empresas vêm buscando formas de contratar pessoas das mais diversas raças, gênero e orientação sexual. Essa atitude tem se refletido principalmente nos processos seletivos de estágio e trainee na busca pelo ambiente mais diverso.

Empresas como a Magalu, Bayer, Accenture e Diageo, por exemplo, decidiram esse ano fazerem seus programas de trainees voltados apenas para candidatos negros, enquanto a Vivo se comprometeu a uma reserva de 30% das vagas para esses candidatos. A Elanco foi pelo caminho de promover a diversidade não só por criar uma programa de estágio exclusivo para negros, mas também para profissionais PCD (pessoas com deficiência).

Já a Pepsico, Creditas e B2W não estão levando em consideração requisitos como Inglês ou Inglês fluente ou curso específico para tornar a contratação o menos elitista possível, visto que fatores como acesso à educação está diretamente vinculado às condições socioeconômicas. Com o mesmo foco inclusive, a 3M fez uma parceria com a TransEmpregos para o seu programa de estágio.

“É preciso derrubar o pensamento comum de que um bom currículo tem uma universidade elitizada, cursos específicos, fluência em idiomas e outros fatores que invariavelmente nos levam a candidatos pouco diversos”, afirma a diretora de Recursos Humanos da Pepsico, Thaisa Thomaz.

“Ninguém é igual a ninguém”, diz diretora de Recrutamento e Seleção, Voluntariado
e Diversidade e Inclusão, Carla Catelan, da Cognizant (Foto: Freepik)

Por que ainda falta diversidade nas empresas?

A Cognizant foi eleita pela Great Place to Work (GPTW) como a 4º melhor empresa do mundo para mulheres trabalharem e 7º lugar  para LGBTQI+. A diretora de Recrutamento e Seleção, Voluntariado e Diversidade e Inclusão, Carla Catelan, acredita que viver com pessoas diferentes entre si é uma oportunidade de ter perspectivas múltiplas que impulsionam a inovação. 

“Ninguém é igual a ninguém”, ressalta a profissional. “Todos nós trazemos diferentes aspectos culturais, de etnias diversas, fomos criados por famílias diversas e com histórias muito diferentes e é isso que nos torna únicos.”

Para ela, alguns dos aspectos que perpetuam um mercado de trabalho ainda tão desigual são:

  • Falta de infraestrutura arquitetônica nas escolas de ensino básico, fundamental e universidades, impossibilitando que os estudantes com deficiência fossem/sejam capacitados adequadamente;
  • Super proteção das famílias, que desestimula a independência dos profissionais para ocuparem posições no mercado de trabalho;
  • Exclusão de grupos minoritários nos recortes sociais para garantir incentivo de estudos;
  • Viés inconscientes dos times entrevistadores;
  • Vagas postadas com pouca atratividade para grupos minoritários, como por exemplo: vagas de engenheiro com anúncios com linguagem predominantemente masculinizadas;
  • Falta de incentivo aos times de recrutamento para buscarem fontes de buscas especializadas em atrair grupos diversos.

Tanto para Carla Catelan quanto para Thaisa Thomaz, empresas que não conseguem se atualizar e se alienam a questões como a necessidade de uma maior diversidade, tornam-se obsoletas. “Uma empresa com maior representatividade e inclusão é uma empresa que está em sinergia com a sociedade e com os consumidores – que, para nós, são o centro do nosso negócio”, acrescenta a diretora de RH da Pepsico.

Como aumentar e incentivar o crescimento de minorias nas grandes empresas?

Não basta apenas contratar estagiários e trainees de características diversas - segundo a pesquisa do VAGAS.com, as diferenças entre raças começam a ser mais discrepantes conforme crescem os cargos na hierarquia -, é preciso manter essas pessoas nas empresas e criar um ambiente confortável para que evoluam.

Reconhecida pelo Prêmio WEPs Brasil 2019 (Empresas Empoderando Mulheres) da ONU Mulheres, a Pepsico tem como objetivo ter 50% de representação feminina, em todos em cargos de liderança até 2025, estatística que atualmente se encontra em 44%. Também foi assinado o acordo de princípios “He For She” da ONU, em 2017, para a equidade de gênero.

A empresa tem se fundamentado em cima de três pilares:

  • Aumentar a diversidade;
  • Promover um ambiente inclusivo; e
  • Investir estrategicamente na comunidade.

Tem sido realizados diversos programas e parcerias, como o Programa Ready to Return, para profissionais que tiveram que pausar a carreira por algum motivo e desejam retornar ao mercado, o Programa Doce Começo, para uma licença-maternidade de seis meses e acompanhamento durante a gravidez, parceria com a Comunidade Empodera, a campanha Doritos Rainbow e o Programa Golden Years, voltado exclusivamente para profissionais acima de 50 anos, entre outros.

Estar preparada para receber essa diversidade também é um ponto chave da Cognizant. Para isso, há o projeto Completely Cognizant – Advancing Diversity and Celebrating Inclusion, que consiste no apoio e na criação de oportunidades e empregos para mulheres, pessoas com deficiência, diversas etnias e LGBTI+.

Outras ações para atrair mais diversidade são o programa Generation Cognizant, para a capacitação de estudantes da área de tecnologia, o Women Empowered (WE), com o compromisso de recrutar mais mulheres em todos os níveis de atuação, parceria com a Casa Florescer para ajudar mulheres transexuais no processo de capacitação profissional, dentre outros.

Um outro objetivo também tem sido a expansão do trabalho remoto, de forma a expandir as contratações para qualquer região do Brasil. “Esse movimento nos trará muito mais diversidade, principalmente no aspecto de diversidades culturais, já que pessoas de todas as outras regiões terão acesso às nossas oportunidades”, explica Carla Catelan.

A possibilidade do home office, para a Pepsico, também tem sido um fator relevante para a criação de um ambiente mais diverso e que proporcione mais equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Mas Thaisa Thomaz completa que isso não é tudo: “o ambiente inclusivo precisa ir além do home office e chegar às nossas fábricas e times de vendas, para que eles e elas também se sintam acolhidos e representados”.

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