Em 28 de fevereiro de 2020, nós divulgamos as bancas com prazo de 90 dias para o edital. Já tinha prazo e veio o lockdown para o Coronavírus que infelizmente travou tudo. Cerca de três meses depois, eu saí da secretaria. No dia 15 de junho, houve um decreto que bloqueou as 864 vagas e em 5 de novembro uma nova autorização para o concurso.
FD: Quanto tempo o senhor estudou para ingressar na Polícia Civil?
MV: Eu estudei três anos da minha vida para passar em concurso público, eu passei em cinco concursos públicos. No meu caso foi um pouco mais dolorido eu tive alguns obstáculos pela frente. Eu entrei na faculdade com 19 anos, com 22 anos especificamente eu tranquei a faculdade no sexto período para focar na carreira atleta de futsal. Fui jogar Brasil afora, com 25 voltei a fazer a minha faculdade na Gama Filho e me formei com 27 anos.
Foi nesse período que eu comecei a estudar para concurso público. Eu devo muito a minha aprovação, obviamente a Deus, a minha família e meus professores da família Gleoschi. Com 30 anos, eu passei em cinco concursos públicos. Com 31, eu já estava tomando posse
Foram obstáculos que eu passei na minha vida, eu tive muito estresse, muita ansiedade. Então foi dolorido, mas valeu a pena eu passei três anos estudando sendo que dois eu estava desempregado sendo efetivamente sustentado pela família e eu fiquei muito tenso, muito nervoso.
Mas eu só queria uma coisa na minha vida: ser policial civil, especificamente delegado de polícia. Então eu só pensava nisso por 24 horas, eu dormia e acordava e pensava nisso. Eu não queria saber, eu tinha um foco de ser delegado de polícia. Eu pensava o seguinte ‘se tiver só uma vaga então ela é minha’.
Eu reprovei em três concursos de polícia, só passei no quarto. Mas a partir do momento em que eu passei para inspetor de polícia que foi o primeiro concurso que passei, foi uma honra danada. Depois, fui fazer prova para delegado no Paraná e passei.
Mas, continuei estudado para delegado do Rio de Janeiro. E a recompensa está aqui hoje, 03 de dezembro, dia do delegado de polícia, estou conversando com vocês. O que eu puder fazer para ajudar esses concurseiros até a posse, eu vou fazer.
FD: Qual foi sua estratégia de preparação para concursos públicos?
MV: Eu sempre fiz curso, sempre achei importante estudar com um professor. Eu não conseguia ser autodidata, eu sempre tive que fazer curso. Eu acho que o professor ilumina, ele abre os seus horizontes. Quando o professor fala, você pega aquilo ali, você lê, você compara porque o professor tira aqueles obstáculos que você não precisa. Ele mesmo vai te adiantando.
Eu reprovei em três concursos e passei no quarto. Esses quatro concursos, por incrível que pareça, foram feitos em dois anos e meio de 1999 a 2002.
FD: Qual o déficit funcional da Polícia Civil do Rio de Janeiro?
MV: É muito grande. Eu entrei em 12 de abril de 2002 como inspetor de polícia, quando tínhamos aí 12 mil policiais. Hoje, nós temos 9 mil policiais na ativa. Então é uma escassez muito grande. A lei fala em 20 mil, mas eu acho que isso aí nunca vai acontecer.
A gente precisa de muita gente, obviamente o estado não tem como contratar muito, mas se me perguntar sobre os históricos dos concursos sempre se chamou acima das vagas.
A Polícia Civil não pode esperar mais. Eu falo porque realmente a escassez policial é muito grande. Isso foi uma preocupação muito grande na minha época de secretário. Uma preocupação que eu batia sempre na tecla com o então governador Wilson Witzel.
Ele entendia a necessidade que era este concurso público. Em nenhum momento eu tive, por parte do governador qualquer entrave. Muito pelo contrário, eu só tive solução. O problema todo era realmente a questão da recuperação fiscal, isso foi muito problemático.
Se o estado está perfeito, eu não tenho dúvida, que ele iria autorizar 3000 vagas. Mas, infelizmente teve recuperação fiscal.
FD: A Polícia Civil tem o costume de chamar muitos excedentes nos concursos?
MV: Eu não estou lembrando de um concurso que não tenha chamado os excedentes. O meu de inspetor, por exemplo, chamou excedentes. Eu passei entre os 1.200 primeiros, mas depois chamaram mais 1000. O único concurso que não chama excedentes, normalmente, é o de delegado.
FD: Como funciona a carga horária e os plantões dos novos policiais?
MV: A exceção é não trabalhar no plantão. Quase que 95% dos policiais são aproveitados no começo no plantão. É onde você aprende e tem um contato efetivamente com o crime. Mas isso não é uma regra absoluta. Existem algumas delegacias que você aproveita o policial mais novo no trabalho do expediente.
FD: E a lotação dos aprovados no concurso PC RJ, como funciona?
MV: A pessoa faz concurso para o estado do Rio de Janeiro, mas óbvio que dentro das escolhas e a colocação na academia de polícia, isso não é absoluto. Se leva em consideração o princípio da razoabilidade. Se a pessoa mora no interior e tem vaga no interior, ela vai trabalhar no interior.
FD: O senhor pode explicar um pouco sobre a Academia de Polícia (Acadepol)? É uma etapa do concurso PC RJ,
MV: É na Acadepol que efetivamente você aprende os primeiros passos na Polícia Civil. Você tem que levar muito a sério a academia porque ainda não é policial. Você é aluno. Diferente do Paraná, em que o aprovado toma posse primeiro para depois fazer a academia, aqui não. No Rio de Janeiro, você é aluno.
Então, muita gente passa e acha assim ‘já passei. Não, não, ainda tem a terceira fase que é academia de polícia e é puxada. Aula de tiro, aula de investigação, aula de tudo. Na verdade a Acadepol é uma família, mas para chegar à Acadepol tem que estudar muito.
FD: A intervenção militar no Rio de Janeiro, em sua opinião, foi importante para Polícia Civil?
MV: Foi muito positivo aquele momento da intervenção. A parte operacional aprendeu muito, trocamos muitas informações. Melhorou também a parte estruturante, a intervenção foi muito importante para as duas polícias. Tanto que o Corolla, a glock, enfim, outros benefícios que a Policia Civil hoje usufrui vieram da intervenção federal.
FD: Qual a importância da entrada regular de novos policiais para o Rio de Janeiro?
MV: A polícia militar e a Polícia Civil do estado do Rio de Janeiro são as duas polícias que são co-irmãs, que cada um tem atribuição diferente prevista na constituição federal. A atribuição da Polícia Civil, em sua essência, é a investigação.
Sem parte tecnológica, pericia, parte técnica não tem obviamente investigação. Agora a gente pode ter tudo isso, mas se não tiver policial, não tem investigação também. Neste momento, a carência é muito grande. Então o que eu posso dizer é que se a gente tivesse concurso em dia e os policiais entrando de forma permanente a nossa capacidade de investigação pelo menos seria o dobro.
Porque o que nos falta, muita das vezes, é o policial para estar na delegacia fazendo o seu trabalho. Por isso que a gente está batendo tanto nessa tecla do concurso público. A necessidade de se contratar um policial civil no Rio de Janeiro é urgente.
É óbvio que esse concurso vai sair. Eu levo fé no que a Polícia Civil está falando, no primeiro semestre de 2021. Lembrando que o primeiro semestre vai de janeiro a junho, pode ser junho? Pode, mas pode ser em fevereiro, se é para o primeiro semestre. Então óbvio que vai sair. É uma questão de tempo,
FD: Qual mensagem você deixa a todos que estão se preparando para o concurso da Polícia Civil do Rio de Janeiro?
MV: Se você quiser entrar na gloriosa, uma instituição bicentenária, uma instituição que tem o dever de proteger a sociedade, toma um café e vamos estudar.