Concurso PF 2020: "O segredo para a aprovação é ter disciplina"

Aprovado na seleção de agente de polícia e agente administrativo no concurso PF conta detalhes da preparação e rotina na corporação.

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Publicado em:06/07/2020 às 09:00
Atualizado em:06/07/2020 às 09:00

Se para muitos ‘tempo é dinheiro’, para Diego Vieira, tempo sempre representou estudo. Focado em ser aprovado em concurso, ele aproveitava todo e qualquer intervalo que tinha em sua rotina de vida para ‘investir’ em sua preparação.

Até mesmo o deslocamento casa-trabalho-casa, dentro de um ônibus, era utilizado em prol da realizaçãode seu sonho de ingressar no serviço público e conquistar a estabilidade.

 

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“No trânsito, conseguia pelo menos mais uma hora líquida no dia”, lembra Diego Vieira, que, pelo período de pouco mais de um ano, deixou de lado alguns prazeres da vida para realizar o sonho de ser servidor público.


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Hoje, após olhar para trás, o policial federal garante que todo esforço valeu a pena.
 

“Minha vida mudou muito após ter entrado na PF. Hoje em dia, possuo uma tranquilidade e uma estabilidade financeira que nunca pensei que fosse alcançar. Inclusive, me tornei um homem mais calmo, mais sensato. Acho que até nisso a PF me ajudou e me ajuda muito.”

Concurso Polícia Federal 2020 (Foto: Divulgação PF)
Concurso PF: expectativa de 349 vagas para agente administrativo
(Foto: Divulgação PF)


Confira a entrevista na íntegra:


FOLHA DIRIGIDA - Você foi duplamente aprovado para a Policia Federal. Primeiro, como agente administrativo e, depois, como agente policial. Qual o segredo do sucesso dessa conquista?

Diego Vieira - Acho que o maior segredo para a aprovação em concurso é sempre manter a disciplina, vejo isso como um ponto muito importante. Para mim é mais relevante do que a ‘inteligência’ da pessoa.
 

Além disso, outro ponto crucial é acreditar em si. Todos nós somos capazes de alcançar o que almejamos. Vou dividir a minha rotina de estudos em dois pontos: para o concurso de agente administrativo e para o de agente de polícia.


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Para o concurso de administrativo foram seis meses de estudo. Comecei a estudar quando ainda morava no Rio de Janeiro. Eu trabalhava ao longo do dia/noite em um bar na Cobal, no Humaitá, e estudava por aproximadamente quatro horas líquidas nos tempos vagos que tinha.

Fiquei nesse ritmo durante uns três meses e, após esse período, voltei para a minha cidade, Juiz de Fora (MG), e comecei a trabalhar no restaurante dos meus pais. Lá o ritmo era muito mais tranquilo, pois trabalhava apenas quatro horas por dia.
 

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Com isso, consegui aumentar meu tempo de estudo para oito horas líquidas diárias. Eu nunca fiz curso presencial, durante todo esse tempo eu comprava materiais na internet, tanto em vídeo, quanto em PDF e estudava sozinho.
 

Uma coisa que levo para tudo na vida é disciplina, e no estudo não é diferente. Mesmo estudando apenas na minha residência, sempre consegui concluir minhas metas, não deixava nada me distrair. Uma estratégia que utilizava bastante em meus estudos era ‘cansar’ de fazer exercícios. Nos finais de semana, eu revisava toda a matéria da semana com exercícios comentados.


Eu não costumava perder muito tempo com planejamento. Sempre usei a estratégia de cumprir as horas de estudo diárias e fazia uma divisão básica para não ficar muito tempo sem ver uma matéria, mas nada ‘engessado’.

Ao longo do estudo você vai percebendo as matérias que têm mais dificuldade e as com mais facilidade. Assim, você faz as adaptações necessárias para melhorar o desempenho.
 

FOLHA DIRIGIDA - E como foi a preparação para o concurso de agente policial?

Diego Vieira - Para o concurso de agente de polícia eu estudei mais quatro meses e meio, além desses seis que me fizeram passar para administrativo. Usei basicamente a mesma estratégia.
 

A única diferença de método foi que utilizei mais PDFs e pouquíssimas vezes vi vídeos nessa preparação. Um ponto chave que me ajudou muito foi que, apesar de estar trabalhando mais horas diárias, o chefe da Delegacia e o chefe do meu setor eram pessoas muito boas e queriam ver as outras crescendo.


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Acho importante ressaltar os nomes deles: Delegado Silvio Cesar Fernandes Dias e agente Gilberto Pereira Machado. Infelizmente Silvio não está mais entre nós.
 

Acho importante ressaltar esse fato porque na nossa vida passam pessoas para somar e que nos ajudam de uma forma tão grande que, às vezes, nem elas têm noção disso. Sou muito grato aos dois. Digo que me ajudaram porque, além de me incentivarem a estudar, tinha um ‘acordo’ com eles: depois de cumprir toda minha demanda de trabalho, podia ficar estudando e aproveitando o tempo vago.


Isso foi muito importante para mim, porque normalmente acordava às 6h e só chegava em casa novamente pelas 19h30. Nesse período, conseguia estudar umas duas horas líquidas em casa, mais o que estudava na Delegacia.
 

Também aproveitava bastante o tempo que ficava no ônibus, na ida e na volta. No trânsito, conseguia pelo menos mais uma hora líquida no dia. Como o trabalho era apenas de segunda a sexta, aproveitava o final de semana e estudava pelo menos 20 horas líquidas contando sábado e domingo. A maior parte desse tempo era com resolução de exercícios. Fiquei nesse ritmo durante esses quatro meses e meio e, graças a Deus ,logrei êxito em ser aprovado como policial federal.


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FOLHA DIRIGIDA - Na sua visão, quais são as falhas que um interessado em ingressar na PF, seja como agente administrativo ou em uma carreira policial, não pode cometer?

Diego Vieira - Não podem deixar de lado a disciplina, desistir no primeiro problema que aparecer e não resistir às tentações de sair para diversão. Acho que o foco é primordial. Se você quer passar em um concurso público de alto nível, estude em alto nível e seja honesto com você.
 

Não finja que está dando o seu máximo se realmente não estiver fazendo isso. Quando estava estudando para ambos os concursos, sempre mantive o foco e isso foi muito importante, pois apesar de não ter tanto tempo de preparação, foram meses intensos que valeram por anos. Digo isso porque muitas pessoas afirmam que estudam para concurso, mas você sempre as vê em festas, ‘sociais’ e ‘baladas’. Acho que não existe espaço para isso na hora da preparação.


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Por essa disciplina que tanto falo, minha classificação final de administrativo foi segundo lugar em Minas Gerais e no de agente policial foi próxima da posição 100, em âmbito nacional.
 

Além disso, um ponto que vejo em comum entre muitas pessoas que não são aprovadas é que elas começam a estudar apenas depois da autorização governamental ou, pior ainda, depois que o edital é publicado. Acho esse um erro muito ‘gritante’, porque é uma grande perda de tempo, que pode ser o divisor de águas entre passar ou não.


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FOLHA DIRIGIDA - Você atuou como agente administrativo durante quanto tempo? Como é o dia a dia da função? Quais atividades você desempenhava?

Diego Vieira - Eu atuei como agente administrativo apenas um ano. Tomei posse em agosto de 2014 e em agosto de 2015 fui para o curso de formação de agente policial.
 

A jornada de trabalho do servidor administrativo é de 40 horas semanais e, diferente da função policial, nunca precisei trabalhar nos finais de semana.


Como fiquei bem classificado no concurso, consegui a vaga de Juiz de Fora (MG), minha cidade natal. Realizava trabalhos voltados para o recebimento de documentos, protocolo, registro de viagens nos sistemas internos e assessorava o chefe da Delegacia.

Vejo o serviço administrativo muito importante também para o trabalho policial, pois normalmente existem muitos servidores policiais desviados de função e, com isso, o poder investigativo é muito prejudicado.
 

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FOLHA DIRIGIDA - Você já tinha a vontade de ser um agente policial ou esse desejo surgiu depois que se tornou um agente administrativo e pôde conhecer de mais perto o trabalho na PF?

Diego Vieira - Nunca tive vontade de ser policial, mas quando entrei na PF ouvi muitas histórias e me interessei bastante pelo trabalho. Pensei comigo: preciso estudar

Diego Vieira aprovado no concurso PF
Diego Vieira é policial federal
(Foto: Arquivo pessoal)

para passar por essas experiências que os policiais contam com ‘brilho nos olhos’.
 

FOLHA DIRIGIDA - Fale um pouco das atividades de um agente policial. Como é sua rotina de trabalho?

Diego Vieira - As atividades de um policial variam bastante de setor para setor. O bom do meu é que não existe rotina. Vários meses no ano chego a fazer mais de 50/60 horas extras e, durante muitos períodos, existem trabalhos a serem realizados nos finais de semana.
 

Quem lê isso pode achar que é muito cansativo, porém é um trabalho muito instigante que a hora passa e você nem percebe. Dependendo da investigação, toda a equipe fica estimulada e não quer parar até resolver e montar o quebra-cabeça. Não me vejo fazendo outra coisa hoje em dia.


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FOLHA DIRIGIDA - Embora você seja de Juiz de Fora, acabou sendo lotado no Mato Grosso do Sul. É fundamental que o interessado em ingressar na PF esteja preparado psicologicamente para trabalhar em uma cidade/estado diferente de onde mora?

Diego Vieira - Com certeza. É preciso estar preparado para mudanças, isso é inevitável. Acho que devemos ver sempre o lado bom das coisas e ter em mente que a pessoa vai conhecer novas pessoas, novas culturas e diversos lugares.
 

A PF é excelente para isso. Já estou no Mato Grosso do Sul faz quatro anos e seis meses e me adaptei bastante ao estado. Conheci muitos lugares legais nesse período e ainda quero ficar mais um tempo aqui por causa do tipo de serviço que desenvolvemos. O clima de trabalho na Delegacia de Ponta Porã (MS) é excelente e eu prezo muito por isso.


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FOLHA DIRIGIDA - Além de se preparar antecipadamente para as provas objetivas, você também realizou uma preparação física em paralelo aos estudos? Na sua visão, é fundamental ter essa preocupação desde já? As provas físicas do concurso realmente são muito puxadas?

Diego Vieira - Fiz uma preparação física específica para o concurso, ao mesmo tempo em que estudava a parte teórica. Eu sempre gostei de musculação e corrida, então acho que isso é um ponto que me ajudou bastante.
 

O que tive que treinar bastante foi natação. Era meu ponto fraco, mas com dedicação, todos nós temos a capacidade de cumprir nossos objetivos. Acho importante a preparação física ser feita desde já, principalmente para ver quais são os pontos que precisam ser melhorados e trabalhados de forma mais intensa.


Não diria que as provas físicas são muito puxadas, mas se a pessoa não treinar da maneira correta, dificilmente será aprovada. Por isso, é importante fazer exercícios físicos todos os dias e simulações da prova física também são interessantes.
 

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FOLHA DIRIGIDA - Como funciona o curso de formação na Academia de Polícia? Mesmo após o curso, a PF investe na capacitação e qualificação dos seus servidores?

Diego Vieira - Normalmente, o curso de formação dura em torno de quatro meses e meio e é em regime de internato. Quando fiz, normalmente éramos liberados apenas no sábado à tarde e deveríamos retornar no domingo ou segunda de manhã.
 

Quanto ao aprendizado, são ministradas diversas aulas teóricas de matérias de interesse policial e são realizadas muitas práticas: operacionais e treinamentos de tiro.  Quando fui para a Academia Nacional de Polícia, optei por receber minha remuneração de administrativo, pois dava praticamente o mesmo valor recebido pelos outros candidatos (50% da remuneração de agente da época).


A PF investe bastante na capacitação dos servidores, quem tem interesse consegue fazer diversos cursos interessantes, mas as coisas não caem no colo, tem que correr atrás e mostrar que quer.
 

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FOLHA DIRIGIDA - Na sua visão, quais são as grandes vantagens de se tornar um servidor da PF? O que mudou na sua vida depois de ingressar na corporação?

Diego Vieira - Para mim, a principal vantagem de ser servidor da PF é saber que você pode fazer um trabalho significante para ajudar o país. Todos têm quer ter em mente que o servidor público deve servir ao público, como o próprio nome diz.

E isso significa realizar atos para ajudar a população da nossa nação. Digo bastante que a remuneração recebida não é porque a pessoa passou na prova. Após entrar, o trabalho deve ser realizado da melhor forma possível para que você possa falar que merece aquele montante.
 

Outra vantagem que vejo na PF é estar cercado por pessoas que querem fazer o bem. Como em todo lugar, nada é 100%, mas temos pessoas excepcionais na corporação e isso faz muita diferença na saúde mental e nos resultados obtidos.

Minha vida mudou muito após ter entrado na PF. Hoje em dia, possuo uma tranquilidade e uma estabilidade financeira que nunca pensei que fosse alcançar. Inclusive, me tornei um homem mais calmo, mais sensato. Acho que até nisso a PF me ajudou e me ajuda muito.
 

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FOLHA DIRIGIDA - O que representa para você ser um policial federal?

Diego Vieira - Para mim é um orgulho ser Policial Federal. É sensacional ombrear com meus amigos e prestar um serviço de interesse para a nossa população.
 

É meio difícil explicar o que representa essa profissão, mas todos têm que ter em mente que a PF é um lugar sensacional, com pessoas excepcionais e que querem fazer a diferença. Precisamos e muito de mais pessoas para somar e que vivenciem a vida policial. Sou muito grato por fazer parte dessa instituição.