Concurso PF: ex-delegado dá dicas e fala sobre sua trajetória
Após a publicação da autorização oficial para concurso PF, os próximos passos serão definir a banca organizadora e o cronograma da seleção.
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Publicado em:16/12/2020 às 06:34
Atualizado em:16/12/2020 às 06:34
A POLÍCIA FEDERAL ESTÁ PRESTES A ABRIR UM CONCURSO PARA 2 MIL VAGAS DE AGENTE, ESCRIVÃO, PAPILOSCOPISTA E DELEGADO. COM A EXPERIÊNCIA DE QUEM JÁ FOI DELEGADO DA PF E APROVADO EM 15 CONCURSOS, QUAIS FALHAS OS FUTUROS CANDIDATOS NÃO PODEM COMETER DURANTE A PREPARAÇÃO SE QUISEREM OBTER A APROVAÇÃO NESSA SELEÇÃO, QUE CERTAMENTE É UMA DAS MAIS DISPUTADAS DO PAÍS?
Para evitar a mais grave das falhas, deve-se superar o status de simples "candidato" e se transformar em "concorrente". Candidato é aquele que faz a inscrição porque o vizinho também fez. Ou se inscreve porque a família assim espera.
Ele não tem compromisso consigo mesmo e está mais interessado em impressionar alguém, dizendo que se inscreveu para o concurso. Então, se o fracasso vir (e é natural que venha) ele experimentará a "morte social".
Chegará em casa e não terá coragem de olhar nem para o cachorro e dizer que foi reprovado. Já os concorrentes têm um firme propósito de triunfar. Não estão interessados em impressionar ninguém. Estuda sem fazer alarde. E, se o fracasso vem, dirá de cabeça erguida que foi reprovado. Mas não desiste e segue estudando.
Estima-se que apenas 3% dos candidatos alcançam o patamar de concorrentes. Então, evite falar que é apenas candidato. Busque, com seu esforço, a condição de concorrente.
Além disso, não estude apenas o que você gosta. Faça um quadro de horários para que todos os temas previstos no concurso sejam estudados e exercitados todas as semanas. Também não desista diante da primeira dificuldade.
Acredite em si mesmo e siga estudando de modo constante e todos os dias. Outro ponto importante: o concorrente não menospreze o conteúdo fácil. Cerca de 80% de qualquer prova é composta de conteúdos fáceis. Fora isso, não caia na armadilha de tentar a prender tudo numa única noite varada em estudos.
Você não amanhecerá mais inteligente. Você amanhecerá cansado e vai tender ao horror pelos estudos. Muito melhor é estudar um pouco, mas todos os dias.
NA SUA VISÃO, O FUTURO CANDIDATOS DEVE DAR, DESDE JÁ, A MESMA ATENÇÃO À PREPARAÇÃO FÍSICA, ASSIM COMO FAZEM PARA AS PROVAS OBJETIVAS?
Fazer a preparação nos estudos e nos exercícios físicos é importantíssimo. Porque, afinal, há testes físicos a serem aplicados. Então, vá estudando e malhando todos os dias.
E você terá uma surpresa: quando temos uma rotina de estudar e malhar todos os dias, os estudos rendem mais. E você ganha em saúde, e vai se preparando para os testes físicos.
FALE UM POUCO SOBRE SUA ATUAÇÃO NA POLÍCIA FEDERAL. ATUOU EM QUAL UNIDADE DA FEDERAÇÃO? OCUPOU CARGOS ESTRATÉGICOS DENTRO DA CORPORAÇÃO?
Eu tomei posse na Polícia Federal em 1998. Passei na posição 273º. Atuei em Minas Gerais e em Brasília. Além disso, cumpri missão de vários meses no Acre, Paraná e Goiás.
Atuei na Corregedoria-Geral em Brasília. E, em Minas Gerais, presidi processos disciplinares. A melhor a contar para os meus netos, se um dia eu os tiver é esta: trabalhei uma década na Corregedoria e nenhum colega nunca virou a cara para mim.
ACREDITA QUE HOJE É MUITO MAIS DIFÍCIL CONSEGUIR A APROVAÇÃO PARA A PF DO QUE NA ÉPOCA EM QUE O SENHOR FEZ O CONCURSO?
Os concursos sempre foram difíceis. Para a minha geração, seria mais difícil agora, porque até a disciplina de Informática é exigida na prova. Mas nem por isso as coisas ficaram mais fáceis para os jovens. Concurso sempre tem grau de dificuldade. A preparação adequada o transforma em grau de facilidade.
A CARREIRA DE DELEGADO É MUITO DINÂMICA?
Sim. O dinamismo é a tônica da atividade policial. Não temos um dia igual ao outro. E é isso que torna a profissão empolgante. Ao final de uma missão, quando chegamos em casa para abraçar os familiares, não há nada melhor para sentir o gosto do dever cumprido. Só quem é ou já foi policial sabe do que estou falando.
HOUVE ALGUMA ATUAÇÃO/OPERAÇÃO, EM ESPECIAL, QUE MARCOU A SUA CARREIRA? CONTE-NOS UM POUCO SOBRE ESSA EXPERIÊNCIA?
Sim. No Acre eu dirigi a Cadeia Pública Federal, onde estava cumprindo pena o ex-deputado federal Hildebrando Pascoal. Certo dia, a Comissão de Direitos Humanos se queixou que os presos, envolvidos em crimes horríveis, estavam sendo bem tratados, com ventiladores e colchões novos.
Ao tomarem meu esclarecimento, eu comentei: "A Comissão de Direitos Humanos sempre se queixou que tratamos mal os presos. Esta é a primeira vez em que se queixa porque estamos tratando-os bem".
O QUE MUDOU NA SUA VIDA DEPOIS QUE INGRESSOU NA POLÍCIA FEDERAL COMO DELEGADO?
O que de mais importante mudou na minha vida foi a possibilidade de fazer justiça perante as ocorrências do plantão, e também nos inquéritos que me foram distribuídos. Na relação social com outras instituições, o cargo de delegado federal oportunizou ingressar no magistério do Direito, a que me dedico há duas décadas.
A PF INVESTE BASTANTE NA CAPACITAÇÃO E QUALIFICAÇÃO DOS SEUS POLICIAIS? QUANDO DELEGADO, TEVE CURSOS PAGOS PELA PF?
A Polícia Federal, por meio da Academia Nacional de Polícia, cuja estrutura é de uma verdadeira faculdade, promove muitos cursos e treinamentos. Entre outros cursos, tive oportunidade de fazer os de professor da ANP, além do Curso Superior de Polícia, que é a condição para ser promovido às classes superiores na carreira.
Esses cursos são pagos pela PF. E, quando há o deslocamento até Brasília, ou outro local onde se realiza o curso, os policiais recebem diárias pelo tempo distante da cidade onde residem.
QUAL MENSAGEM FINAL PODE DEIXAR PARA AQUELES QUE FARÃO O PRÓXIMO CONCURSO?
Para você que sonha em ser policial federal, minha mensagem é que tenha a ousadia de seguir sonhando. Acorde a cada manhã e siga sonhando, no sentido de se esforçar para transformar seu sonho em realidade.
Afinal, sem esforço os sonhos viram pesadelos. E, como disse Mario Lago, "se não existisse sonho, a humanidade não teria inventado nem a roda".
Oficialmente autorizado, o concurso PF terá oferta inicial de 1.500 vagas de nível superior. Apesar dos repetidos anúncios do presidente Jair Bolsonaro de aval para 2 mil vagas foram liberadas 1.500 imediatas.
Mas isso não significa que a Polícia Federal não possa convocar excedentes durante o prazo de validade da seleção. Isso porque, Segundo diretor-geral da Polícia Federal, Rolando Alexandre, a corporação projeta 2 mil provimentos até 2022.
E observando o histórico de chamada das seleções da PF, o concurso de 2018, por exemplo, teve oferta de 500 vagas em edital, mas foram convocados 1200 aprovados. Ou seja, mais do que o dobro das vagas.
O concurso atual terá a seguinte distribuição de vagas:
893 para agente;
400 para escrivão;
84 para papiloscopista; e
123 para delegado.
Todas as carreiras autorizadas exigem nível superior em qualquer área, com exceção do delegado, que precisa de curso superior em Direito e três anos de atividade jurídica.
Além disso, também será obrigatório para todos os candidatos o requisito da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) na categoria B ou superior. Os subsídios iniciais são de R$12.522,50, para agente, escrivão e papiloscopista, e de R$23.69 2,74 para delegado.
As contratações ocorrerão pelo regime estatutário, que assegura estabilidade no emprego. A tendência é que a estrutura do último concurso, realizado em 2018, seja mantida.
Na época, a seleção contou com prova objetiva, avaliação discursiva, exame de aptidão física, prova prática de digitação, avaliação médica, avaliação psicológica, avaliação de títulos, prova oral, investigação social e curso de formação. A prova objetiva foi composta por 120 questões, contendo disciplinas de Conhecimentos Gerais e Conhecimentos Específicos (disciplinas variavam de acordo com cada cargo).
O concurso será de âmbito nacional, ou seja, o edital não trará vagas pelas unidades da Federação. Desta forma, após o curso de formação, a PF chamará os aprovados para regiões onde houver necessidade de pessoal no ato da convocação.
Geralmente, a maior concentração ocorre na chamada Amazônia Legal, que compreende os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e Maranhão.