A aplicação das provas objetivas do concurso PMERJ para soldados foi marcada por irregularidades. Os candidatos denunciam o uso de celular em diversas unidades, além de atrasos, enquanto uma operação da própria corporação cumpriu mandados de prisão.
A falta de organização foi presenciada pela reportagem da Folha Dirigida por Qconcursos, que esteve na unidade da Estácio de Sá de Nova Iguaçu.
Por lá, as provas começaram com atraso de duas horas e não haviam fiscais suficientes para aplicação. Leia aqui mais detalhes!
No entanto, as irregularidades não pararam por aí. Inúmeros candidatos enviaram à reportagem relatos e registros do uso de celulares na unidade e em outros polos de aplicação.
(Reprodução)
Alguns vídeos de candidatos filmando o interior das salas, já com cartões de resposta em cima da mesa, também foram enviados. Prints de conversas em aplicativos de mensagens também foram enviados.
Nas imagens, os concorrentes conversam após a prova e relatam: atraso no início, ausência de detector de metais, candidatos usando seus respectivos telefones, falta de lacre para pertences ou revistas, conversas durante a aplicação, entre outras situações.
Nos grupos de aplicativos para troca de mensagens, candidatos enviaram fotos e áudios, confirmando o uso de celular após a entrega dos cartões e do malote de prova.
Em um áudio checado pela nossa reportagem o candidato diz:
"(sic) Aí pra tu ter noção, olha a foto que eu tirei. Já estava com o cartão resposta na mão, estava dentro da sala", disse.
Em um print de tela enviado à Folha Dirigida por Qconcursos, o candidato diz: "Fiz com pesquisa no telefone", e depois comemora "gabaritei". Veja a seguir!
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Um candidato que fez a prova na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) relatou que vários celulares tocaram durante a aplicação, porém não houve intervenção dos fiscais.
Muitos relatos criticaram a falta de preparo dos aplicadores. Na unidade de Nova Iguaçu, a ausência de fiscais atrapalhou a logística para a aplicação, sendo este um dos motivos do atraso.
Conforme Folha Dirigida por Qconcursos apurou, muitos avaliadores não compareceram e a organização precisou recrutar pessoas de maneira imediata, oferecendo uma quantia de R$150 pela diária de serviço.
A reportagem da Folha Dirigida por Qconcursos acompanhou o longo atraso no início das provas na Estácio de Nova Iguaçu, cujos candidatos demoraram duas horas para começar a avaliação.
Mas, pelo visto, várias unidades também contaram com atraso, segundo relatos.
"Não foi só em Nova Iguaçu não!! Meu namorado foi fazer em Campo Grande (mesmo sendo residente de Nova Iguaçu) realocaram ele para quase 1h de distância e chegando no local, era 8:48 e ainda não tinha sido liberado a entrada!!!!", disse uma candidata.
Uma outra candidata informou que, em Niterói, na La Salle, as provas só foram começar às 10h.
Os candidatos que foram alocados em universidades dentro de shoppings também sofreram com atrasos.
"No West Shopping também demorou a abrir. A prova só iniciou 10h20", disse um candidato.
"Madureira foi o caos. O shopping só deixou entrar às 9h, a prova começou às 10h. As fiscais eram totalmente despreparadas", relatou outra candidata.
Veja mais relatos de candidatos enviados por redes sociais:
"Uma verdadeira bagunça, prova na minha sala começou 11h20".
"Um verdadeiro lixo, um descaso com quem foi fazer a prova essa banca n está preparada pra isso, na minha prova veio faltando informações minhas e sem a minha foto também".
"A organização foi pior q a prova. Nessa Estácio a prova foi começar 10:30, fora q alocaram 4 ou 5 turmas numa sala só, um do lado do outro, dando muita brecha pra cola. Nem botequim é tão desorganizado".
"Organização excelente!!! Comparado com o último q eu fiz da banca cebraspe, a Ibade tá de parabéns."
"Ibade atrasou minha prova, foi começar 10 e pouca, e a prova não achei difícil não. Só matemática que estava mais complicado como sempre".
"Um lixo! Metade da sala no fundão colando com celular, fiscal saia da sala deixava geral sozinho, nego aloprando. Cagaram pra quem pagou pra estudar e se dedicar!! IBADE desorganizada em n.i.".
Em nota enviada è reportagem da Folha Dirigida por Qconcursos nesta segunda-feira, 28, a Polícia Militar do Rio de Janeiro informou que a responsabilidade pela execução do concurso é do Ibade, porém está ciente das denúncias e analise as providências que serão tomadas.
Leia na íntegra:
"A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que a responsabilidade pela execução e fiscalização do concurso para ingresso no Curso de Formação de Soldados da Polícia Militar 2023 é do Instituto Brasileiro de Apoio e Desenvolvimento Executivo (IBADE), empresa selecionada através de um processo de licitação. Informamos ainda que a Corporação está apurando as denúncias e analisa as providências que serão adotadas."
O Ibade também foi questionado, mas não retornou. Em sua página, a banca informou que "todos os candidatos que deixaram de cumprir as normas dispostas no edital serão devidamente eliminados quando da divulgação do resultado preliminar da prova escrita objetiva".
No final da tarde desta segunda, 28, a PMERJ reforçou a responsabilidade da banca e acrescentou que:
"A corporação, após ter ciência dos fatos por meio publicações de candidatos nas redes sociais e denúncias divulgadas pelos veículos de comunicação, notificou, na data desta segunda-feira (28/08), a empresa IBADE a responder dentro do prazo de 24h, às supostas irregularidades relatadas. Cabe ressaltar que após a análise do relatório que será apresentado pela empresa dentro do prazo definido no contrato de realização do concurso, a Secretaria de Estado de Polícia Militar tomará as medidas cabíveis com relação ao certame".
No último domingo, 27, enquanto as provas ainda eram aplicadas e atrasos já eram registrados, a banca enviou a seguinte nota a nossa equipe:
"O IBADE, por meio de sua assessoria, esclarece que o certame da PMERJ, que ocorre neste domingo, 27 de agosto de 2023, está sendo realizado em 122 locais de prova, sem qualquer tipo de intercorrência que possa ferir a lisura do processo seletivo.
No que concerne ao local de prova sito no Munícipio de Nova Iguaçu – Polo Estácio de Nova Iguaçu – presta-se o esclarecimento que, devido ao mau tempo, houve atraso na abertura dos portões e, consequentemente, no início das provas.
Necessário salientar que, a referida intercorrência não prejudicou os candidatos, tampouco a lisura do certame. Todos os candidatos alocados na referida unidade gozarão do mesmo tempo de prova que TODOS os demais.
Para além disso, esclarecemos que estes terão o mesmo tempo de prova que os demais candidatos, tendo sido observado.
Por fim, mister esclarecer que os portões da unidade foram fechados antes do início das provas nas demais localidades, restando improvável qualquer possibilidade de vazamento de conteúdo, ratificando-se, assim, a lisura do processo seletivo.
O IBADE permanece à disposição para o esclarecimento de outras dúvidas, porventura, existentes".
No último domingo, 27, a Polícia Militar também iniciou a "Operação Aqui Não". O objetivo foi apurar uma suposta fraude neste mesmo concurso da PMERJ, com vagas para soldados.
A PMERJ cumpriu, ao todo, 19 mandados de prisão por crimes como roubo, deserção e receptação.
Um ex-cabo da PM, expulso da corporação, foi preso em flagrante por falsidade ideológica e tentativa de fraude no concurso público. Foram registradas 20 prisões.
Por enquanto, não há nenhuma posição oficial da banca quanto a uma possível paralisação. Por isso, o cronograma do concurso segue, com gabaritos previsto para serem divulgados nesta terça, 29.
Nesta primeira etapa, foram cobradas 50 questões, com a seguinte distribuição:
Cada questão terá o valor de dois pontos. Será classificado na prova objetiva quem obtiver concomitantemente 60% dos pontos e não zerar nenhuma disciplina.
Todos que atingirem a pontuação serão convocados para as provas discursivas, que ocorrerão no dia 29 de outubro. Os participantes terão três horas para elaborar uma redação (texto dissertativo de 25 a 30 linhas).
As provas valerão de zero a 100 pontos, sendo aprovado quem obtiver o grau mínimo de 50 pontos.
As próximas etapas do concurso serão:
Os classificados ainda serão chamados para o curso de formação de soldados.
Neste concurso, a Polícia Militar do Rio de Janeiro oferece 2 mil vagas para soldados. Desse quantitativo, 200 são para sexo feminino e 1.800 para o sexo masculino.
