Concurso PMERJ Saúde: vagas para psiquiatras. Entenda a importância!
Segundo dados, área da psiquiatria é cada vez mais importante para a saúde mental dos policiais. Concurso PMERJ Saúde está autorizado.
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Publicado em:18/12/2019 às 07:52
Atualizado em:18/12/2019 às 07:52
Áreas da psiquiatria e cirurgia são as que mais demandam profissionais
Segundo Cordeiro, a Polícia Militar do Rio de Janeiro conta, atualmente, com 50 unidades operacionais e cerca de 41.397 PMs na ativa. Para o presidente da Assinap, o ideal seria ter, pelo menos, um psiquiatra para cada unidade operacional.
“Muitas vezes o policial militar está nas ruas em serviço, troca tiros e volta para dentro do batalhão com a cabeça voltada para aquele episódio que aconteceu. A única coisa que ele faz é trocar de roupa e ir para casa. Mas, cada vez que acontece um episódio desse —trocas de tiros ou ver um colega morrer ao lado dele — o policial teria que passar por uma avaliação com um psicólogo ou psiquiatra antes de ir para sua residência”, defendeu.
Miguel Cordeiro ainda apontou a complexidade do problema. Ao passar por episódios traumáticos todos os dias, sem o devido acompanhamento psicológico, os policias podem acabar transtornados com o acúmulo dessas experiências.
Consequentemente, o agravamento do quadro psicológico faz com que esses profissionais sejam encaminhados diretamente à psiquiatria, simplesmente por não terem recebido um atendimento prévio.
Para Cordeiro, são justamente estas profissões que apresentam maior necessidade dentro dos quadros da área de Saúde da PMERJ: psicólogos e psiquiatras. “Pelo serviço que o policial exerce, essa é uma prioridade.”
Outra função cuja demanda é alta é a de cirurgiões. Cordeiro destacou que os policiais, de todo o estado, deveriam ter acesso a plantões de 24 horas. No entanto, as equipes médicas costumam ficar concentradas na Capital. As emergências, por exemplo, só estão disponíveis em Niterói.
“Esses tipos de cirurgias [às quais os PMs costumam ser submetidos] devem ser feitas imediatamente, então não podemos ter o privilégio só na capital do Rio de Janeiro”, ressaltou.
Como situações contínuas de estresse podem afetar os policiais?
A importância do cuidado com a saúde mental dos policiais militares do Estado do Rio de Janeiro é entendida como essencial pelo médico e psicólogo, Rodolfo Teles de Melo. O profissional da área da Saúde explica como o cérebro humano funciona em situações de medo e estresse.
“O cérebro humano possui mecanismos químicos (neurotransmissores cerebrais, dopamina, noradrenalina...) e hormonais, que agem para preparar o corpo, principalmente, para uma situação de estresse e medo. Esses são os mecanismos de luta ou fuga. Então, quando a pessoa está diante de algo que sua mente identifique como ameaça, o cérebro prepara o corpo para essa resposta.”
Como isso pode ajudar a compreender a situação dos policiais militares e o alto número de afastamentos de suas atividades diárias?
Para Melo é simples, pois todas as profissões onde há um elevado constituinte de risco, medo e estresse fazem com que esse mecanismo de luta ou fuga seja acionado continuamente. O psicólogo ainda destaca a profissão de policial militar exercida no Estado do Rio de Janeiro.
“Sem dúvida nenhuma, os policiais militares e, em especial, do Rio de Janeiro estão entre os principais em usar esse mecanismo, porque é realmente uma situação de medo e estresse o tempo inteiro.”
Para explicar melhor, Melo diz que é como se esse mecanismo atuasse como uma resposta do organismo a essas situações estressantes. Diante disso, ocorre um colapso, que leva essa pessoa a um esgotamento psíquico.
A partir disso, começam a surgir sintomas como, por exemplo, ansiedade e depressão. O que leva o policial a ter problemas no trabalho e consequentemente ser afastado das atividades.
“Toda pessoa que está diante de um mecanismo de luta ou fuga ou sobre um elevado estresse, e que faz isso por muito tempo e em várias situações, passa por um esgotamento e algumas pessoas podem ter respostas fora dos padrões”, alertou o psicólogo.
O médico justifica que profissionais que sofrem com transtornos de ansiosos como a depressão ou até mesmo em casos mais graves como a bipolaridade podem ter as atividades diárias mais simples comprometidas.
Por isso, o acompanhamento clínico é necessário para a manutenção do equilíbrio desses profissionais como, por exemplo, os policiais militares do Rio de Janeiro.
“É claro que o treinamento tende a minimizar isso [transtornos], é claro que pessoas que trabalham nessa área participam de entrevistas psicológicas para tentar prever estes tipos de comportamentos, mas qualquer ser humano, por melhor que tenha sido selecionado, se ele está sob uma situação de estresse muito grande, com certeza ele pode ter respostas inesperadas”, disse Rodolfo Melo.
Vale ressaltar que tais situações abordadas anteriormente caracterizam um ônus da profissão policial que coloca as pessoas sob um estresse muito grande.
No entanto, o psicólogo concorda que, em um primeiro momento, a própria PM poderia investir em acompanhamento continuado para minimizar o efeito dessas experiências traumáticas na saúde dos policiais.
PMERJ precisa mudar cultura interna sobre saúde mental
Um policial militar do Estado do Rio de Janeiro, que preferiu não se identificar, comentou sobre a rotina diária na Corporação quando o assunto em pauta é tratamento psicológico.
Segundo ele, existe dentro da PMERJ uma cultura de resiliência, cujo objetivo é estimular que os policiais sejam sempre fortes e resistentes. Quando a pessoa demonstra que está com algum problema psicológico ou estressada é visto como um sinal de fraqueza.
O relato demonstra que não é apenas a rotina de trabalho que pode propiciar aos policiais militares o surgimento de transtornos mentais. A própria cultura dentro da organização sobre o tema “Saúde Mental” não estimula a procura por ajuda médica.
“Existe, não só na Polícia Militar, mas na sociedade como um todo um preconceito quando se fala de doenças mentais. É como se a doença mental fosse associada a uma frescura, à mentira, à manha ou algo nessa direção”, ressaltou Rodolfo Melo.
Outro fator que afasta os PMs da procura por ajuda médica são os prejuízos financeiros e na progressão de carreira. Com o afastamento para tratamentos médicos, o salário dos policiais costumam reduzir, por conta do não pagamento de adicionais e gratificações, por exemplo.
Ainda de acordo com os relatos do PM, uma ou duas vezes no ano os policiais passam por uma avaliação, como se fosse um check-up geral. No exame, os agentes passam por médicos como clínico geral, nutricionista, psicólogo, entre outros.
Atualmente, existe entre os PMs o "combinado" de se expor o mínimo possível ao psicólogo. Isso porque se os psicólogos ficarem sabendo sobre o que acontece diariamente e como esses profissionais se sentem podem acabar sendo encaminhados ao psiquiatra e serem afastados de suas funções.
“Se a instituição identificar que a perda financeira dela, a perda de qualidade e de resultados será muito menor quando se investe nessa prevenção desse policial, será possível minimizar um pouco isso," reforçou Rodolfo Melo.