Concursos ambientais: consultoria critica fragilidade nas fiscalizações
Ainda sob pressão de empresários nacionais e internacionais, Governo Federal segue estudando realização de concurso para órgãos ambientais.
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Publicado em:11/08/2020 às 07:20
Atualizado em:11/08/2020 às 07:20
Desde o anúncio do vice-presidente da República Hamilton Mourão sobre a possibilidade de novos concursos para órgãos ambientais, como Ibama e ICMBio, a expectativa tem aumentado para essas seleções.
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Mas isso só aconteceu após pressões de empresários e investidores, nacionais e internacionais, para a adoção de políticas ambientais mais efetivas. E, entre outros aspectos, isso passa pela contratação de mais servidores para esses órgãos.
Uma das maiores consultorias do mundo em questões ambientais, Ramboll, também enviou uma carta denunciando a destruição da Floresta Amazônica e cobrando posição do Governo.
O presidente da entidade no Brasil, Eugenio Singer, critica a fragilidade da fiscalização na região, entre outros pontos como o relaxamento em exigências de proteção e as ameaças à população indígena.
Em entrevista concedida ao jornal O Globo, ele defendeu que o país precisa ter uma estratégia para se posicionar globalmente como líder nessa questão e acredita que poderá perder investimentos se não trabalhar melhor o cenário.
“O Brasil é um gigante adormecido que perde oportunidades em cada crise global.”
Órgãos ambientais têm fiscalização afetada
Sobre a questão da fiscalização frágil mencionada na carta, Singer está certo. Órgãos como o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio), trabalham com menos da metade do quadro efetivo.
O próprio vice-presidente, Mourão, chegou a admitir isso. De acordo com a Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente (Ascema), o Ibama tem aproximadamente 667 fiscais, uma média de 24 por estado.
Na prática, isso quer dizer que cada um deles teria que administrar 12.767 km², uma área oito vezes maior que a Grande São Paulo, segundo informações da Ascema. O número ideal de servidores seria em torno de 2 mil.
O resultado são as queimadas e os problemas ambientais, principalmente na região da Amazônia. Apesar disso, ainda segundo informações do jornal O Globo, apenas 19% dos recursos previstos para prevenção e controle de incêndios florestais foram usados pelo Ibama até final de julho.
Vale lembrar que a Ramboll não foi a única a chamar atenção do Governo Federal a respeito das políticas ambientais. Em julho, ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central (BC) se uniram para assinar uma carta defendendo uma retomada econômica atenta ao meio ambiente e cobraram o desmatamento zero na Amazônia e no Cerrado.
Sem concursos, fiscalização ambiental está fragilizada
(Foto: Divulgação)
Após pressões, concurso Ibama e outros estão sob análise do Governo
Entre os órgãos relacionados às políticas ambientais, a expectativa por novos concursos se aplica ao Ibama e ICMBio, ambos vinculados ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), além do Incra, vinculado ao Ministério da Agricultura, e da Funai, ao Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Em relação aos demais órgãos, informações sobre os trâmites não foram divulgadas ainda. Nos próximos meses esses Ministérios vão elaborar estudos que viabilizem as contratações efetivas.
Esses estudos, depois, serão encaminhados pelo Ministério da Economia. A pasta de Paulo Guedes será responsável por conceder ou não o aval para a abertura dos concursos públicos.
Confira as vagas previstas nos concursos ambientais
Ibama
O Ibama não informou quantas vagas solicitou ao Ministério da Economia em seu pedido de concurso este ano. No pedido feito anteriormente, em 2019, foi solicitado o aval para preencher 2 mil vagas em carreiras de níveis médio e superior, com ganhos de até R$8 mil. Confira:
CARGO
ESCOLARIDADE
REMUNERAÇÃO
VAGAS
Técnico administrativo
Nível médio
R$4.063,34
847
Analista administrativo
Nível superior
R$8.547,64
313
Analista ambiental
Nível superior
R$8.547,64
894
A carreira de técnico administrativo exige o nível médio. Já para analistas é preciso ter o nível superior. Os vencimentos são de R$4.063,34 e R$8.547,64, respectivamente. Os valores incluem o auxílio-alimentação de R$458 e, no caso de técnico, a Gratificação de Desempenho de R$1.382,40.
ICMBio
Para o ICMBio, o último pedido de concurso que se tem notícia foi protocolado em 2018 para o preenchimento de 1.179 vagas, sendo 524 para cargos de nível médio e 655 para o nível superior.
CARGO
ESCOLARIDADE
REMUNERAÇÃO
VAGAS
Técnico administrativo
Nível médio
R$4.063,34
457
Técnico ambiental
Nível médio
R$4.408,94
67
Analista administrativo
Nível superior
R$9.389,84
94
Analista ambiental
Nível superior
R$9.389,84
561
Todos os valores mencionados na remuneração já incluem os R$458 de auxílio-alimentação.
A Fundação Nacional do Índio confirmou que o pedido para o concurso Funai 2021 já foi encaminhado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), órgão ao qual é vinculada. Se autorizado, o edital poderá ser publicado no primeiro semestre do ano que vem.
Foi solicitado o aval para provimento de 826 vagas nos níveis médio e superior.
Para o nível médio, as vagas solicitadas são para o cargo de agente em indigenismo. A remuneração inicial, segundo dados de junho de 2019, é de R$5.349,07 mensais.
Já para o nível superior as vagas solicitadas são nos seguintes cargos:
Administrador
Antropólogo
Arquiteto
Arquivista
Assistente Social
Bibliotecário
Contador
Economista
Engenheiro
Engenheiro Agrônomo
Engenheiro Florestal
Estatístico
Geógrafo
Indigenista Especializado
Médico Veterinário
Pesquisador
Psicólogo
Sociólogo
Técnico em Assuntos Educacionais
Técnico em Comunicação Social e Zootecnista.
Para essas carreiras, segundo dados de junho de 2019, o ganho mensal é de R$6.420,87. A Funai não divulgou a distribuição das vagas entre os cargos.
Incra
Já o Incra, que é uma autarquia federal, não informou se enviou novo pedido de concurso este ano. No início do ano passado, o Tribunal de Contas da União (TCU) reconheceu a baixa eficácia do órgão e recomendou que fosse realizado um novo concurso.
O último pedido que se tem notícia foi de 2015, quando o órgão demandava o preenchimento de mais de 800 vagas. Os cargos que compõem o quadro da autarquia são:
técnico administrativo e técnico de reforma e desenvolvimento agrário, de nível médio; e
analista administrativo, analista de reforma e desenvolvimento agrário e engenheiro agrônomo, de nível superior.