Conheça a história do sargento que resgatou refugiados no Mediterrâneo

Conheça o Sargento Cristiano Reges, que atuou no resgate de mais de 200 refugiados em missão no Líbano.

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Publicado em:13/01/2020 às 18:15
Atualizado em:13/01/2020 às 18:15

Ter a chance de salvar uma vida através de seu trabalho, já imaginou? E se esse número se multiplicasse para 200 vidas. Pois desta importante missão fez parte o sargenteante da Marinha, Cristiano Reges Malicheski. 

O militar, que ao longo de suas jornadas já se deparou com as mais adversas situações, tem muitas histórias para contar e destaca o salvamento de refugiados entre elas. 

A bordo do navio Corveta Barroso, enquanto navegava  pela costa italiana, o primeiro sargento e sua equipe receberam o chamado: havia um barco de refugiados à deriva. Sendo a embarcação mais próxima, foram ao salvamento.

Há sete dias nessa situação, a condição dos refugiados era urgente e de forma completamente inesperada suas histórias se cruzaram com as dos marinheiros naquela missão. Esses agentes públicos, assim como diversos outros espalhados pelo Brasil, fizeram a diferença.

Como afirma o próprio sargento, no mar todos os dias reservam novas histórias. O desfecho dessa e de outras aventuras ao longo de 25 na Marinha do Brasil é contado pelo sargento a seguir!

Desejo pela carreira militar surgiu desde cedo

A história de Cristiano como Marinheiro começou em 1995. Para ele, o desejo de fazer parte da carreira militar já fazia parte de sua vida desde muito cedo, e considera que a Marinha foi um acaso muito prazeroso. 

Na região de Cristiano, bem no interior do Rio Grande do Sul, essa Força Armada era pouco conhecida. Ele conta que daí não só surgiu uma profissão, como um amor.

Para ele, cada dia fazendo parte da Marinha do Brasil é um novo desafio, a cada dia um horizonte novo. Durante todos esses anos de atuação, Cristiano passou por algumas histórias de superação e desafios emocionantes. 

"Na vida do Marinheiro, nenhum dia é igual ao outro, no mar, todos dias reservam novas emoções e novas histórias."

Durante missão para o Líbano, maior desafio foi a saudade da família

Segundo Cristiano, de toda a missão para o resgate de refugiados no Líbano, o maior desafio, com certeza, foi lidar com a distância, ausência e saudade da família. Em contrapartida, lidar com o desconhecido foi o maior desafio em relação ao resgate. 

"Algo que até poucos dias antes assistimos somente pela imprensa e, inesperadamente, de uma hora para outra, estávamos fazendo parte de um problema que assolava milhares de pessoas."

Ele ressalta a satisfação com esta missão de paz. "A missão para o Líbano, por se tratar de uma missão de paz, é uma realização de todo militar."

Cristiano conta que estavam navegando pela costa Italiana, com destino a Beirute, a capital do Líbano. Durante a navegação, eles foram contatados pela Guarda Costeira local.

A informação foi de que havia sido detectada uma embarcação com, aproximadamente, 200 pessoas a bordo e, até o momento, o navio mais próximo era onde estava o sargento.

Sem exitar ao chamado, eles partiram para o local somente com a informação de que havia uma embarcação "à deriva", com refugiados e que iríamos resgatá-los.

Os marinheiros chegaram ao local por volta de 19h30 (horário local), já com a definição de como seria o procedimento para abordá-los. Mas ao se deparar com aquela situação, ficou difícil até mesmo para alguém com experiência, lidar com emoções.

De acordo com Cristiano, as 200 pessoas eram adultos e crianças, famintas, cansadas, sujas, apavoradas em um pequeno barco, sem proteção às intemperes, sem sanitários ou a mínima higiene a bordo.

"Passamos todos para bordo da Corveta Barroso (navio usado na missão), um a um foram examinados, alimentados e, de certa forma, acolhidos, pois pela informação que tivemos, eles já estavam há sete dias no mar."

O que mais chamou a atenção de Cristiano durante todo o tempo que passou em contato direto com os refugiados, foi o fato de que diante dele não estavam indigentes, peregrinos ou simplesmente andarilhos, eram famílias inteiras.

Estas famílias eram compostas por profissionais como comerciantes, advogados, engenheiros, entre outros. Famílias como a de Cristiano, como muitas famílias brasileiras que tiveram que abandonar tudo o que possuíam na vida fugindo de uma guerra que não era deles, de um fanatismo religioso incompreendido até mesmo pelos próprios muçulmanos.

"Nós não sabíamos o que esperávamos do outro lado. E graças a Deus nós fomos gratificados com uma história que foi o salvamento dos refugiados no Mediterrâneo."

No total, a missão durou 22 horas desde a chegada aos refugiados, até a entrega deles às autoridades italianas no porto da cidade de Taranto. 

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"Tudo valeu a pena, mas a principal sensação foi a de gratidão"

Ao falar sobre a importância de seus atos como um sargento da marinha e consequentemente como uma agente público brasileiro, Malicheski afirma:

"Sensação de orgulho, de dever cumprido, de que tudo valeu a pena, mas a principal sensação foi a de gratidão. Gratidão àqueles refugiados que nem mesmo o nome eu sabia, mas que me deram um ensinamento que levo e levarei para vida toda, o de valorizar cada minuto que passo com minha família e de dar valor a tudo que possuo."

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Para Cristiano, essa é uma história que trouxe muitas alegrias, reflexões e uma experiência de vida maravilhosa. Além disso, muitas lembranças foram guardadas, mas a que mais o marcou, foi logo ao final da missão. 

"Uma cena que ficou gravada em mim foi ao final, quando entregamos todos os refugiados sãs e salvos à Cruz Vermelha, na Itália. As crianças que faziam parte daquele grupo de refugiados, voluntariamente, ao desembarcar do navio correram nos abraçaram e disseram “I love you” (eu te amo).