Conheça a professora que mudou de vida com a rede pública de ensino

Conheça a professora Marcela Rezende, que mudou de vida ao deixar a rede de ensino privada, tornando-se servidora pública.

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Publicado em:31/01/2020 às 14:35
Atualizado em:31/01/2020 às 14:35

Já pensou em alcançar a independência financeira passando em um concurso público? Já imaginou mudar de vida a partir dos seus estudos? Estes questionamentos também faziam parte da vida de Marcela Rezende, professora de escola municipal do Rio de Janeiro.

Hoje ela leciona na rede pública municipal, mas antes, Marcela passou por muitas dificuldades no trabalho, incluindo contratos informais, que não a garantiam nenhum tipo de direito ou benefício.

Neste Casos de Sucesso conheça um pouco da história de vida da docente, que sofreu uma reviravolta, para melhor, quando começou a atuar no serviço público. Mesmo com todas as adversidades, Marcela conquistou sua independência fazendo o que ama. 

Marcela fez a prova do concurso sem muitas esperanças

A motivação de Marcela para realizar o concurso para professora surgiu por uma amiga. Na época, a professora tinha acabado de se casar e precisava de um emprego para se manter estável financeiramente.

Sua amiga garantiu que todo mundo que passava na prova do município, mesmo que demorasse, acabava sendo chamado na fila de espera. Sendo assim, ela se inscreveu no concurso em 2008, dois anos após ter se formado na faculdade. 

Marcela estudou em casa, por meio de apostilas compradas em uma banca de jornal. 

"Já tinha feito umas três outras provas de professor para ver como eram, antes de terminar a faculdade. Nenhuma delas eu cheguei a procurar o resultado, pois pensava que nem querer ver se fosse chamada sem estar ainda formada".

Com essa mesma perspectiva, Marcela fez a prova: "Fui sem criar muitas esperanças e, quando passei, deixei guardadinha no fundo da gaveta aquela ideia de ser chamada que minha amiga tinha falado".

No ano em que prestou o concurso, ela trabalhava na rede privada de ensino. No entanto, o município do Rio já pagava mais que o piso salarial de professor que ela recebia.

Dois anos depois, no mês de junho, em clima de festa junina, lá estava Marcela com um prato de canjica na mão, conhecendo a escola em que iria começar a atuar como professora da rede municipal.

Antes de receber a convocação, ela fez prova para os concursos de Nova Iguaçu-RJ e Queimados-RJ, mas em nenhum dos dois ela chegou a olhar os resultados. Depois que passou para o município do Rio de Janeiro nunca mais tentou outro. 

Salário e estabilidade fizeram Marcela escolher a rede pública

A estabilidade e um salário acima daquele oferecido pela rede privada de ensino fizeram Marcela escolher por lecionar no ensino público. Logo no começo da atuação no município, ela chegou permanecer nos dois segmentos.

Marcela Rezende, professora na rede municipal de ensino (Foto: Arquivo Pessoal)

Depois disso, valeu mais a pena ficar somente na escola pública, onde ela tinha autonomia na hora de exercer ser trabalho, além dos ganhos.

A rede privada fazia parte da vida de Marcela desde o início a carreira, em 2004. Porém, nenhuma das escolas que trabalhou, assinou a carteira da professora.

"Comecei como auxiliar de turma. Em algumas escolas fui contratada como estagiária, mesmo assumindo turma. Em outras, fui professora substituta e na última tinha um "contrato de boca", pois era uma escola muito pequena que não tinha muitos alunos."

Antes de entrar no município a docente trabalhava com educação infantil, que Marcela considera ser sua eterna paixão. Quando entrou para o município precisou abandonar a educação infantil e se dedicar ao ensino fundamental.

 

Rede pública X rede privada de ensino

A melhor parte de atuar na rede pública é ter autonomia em sala de aula e a parceria que Marcela tem com as demais professoras. Para ela, estas são as melhores partes da escola municipal.

Além disso, ela tem a oportunidade de trocar vivências e experiências com toda a clientela da rede pública. Isso acaba mostrando a realidade do país, fazendo com que ela queira ajudar cada vez mais as crianças que estão ali em busca de uma mudança de realidade.

Uma das maiores diferenças entre a rede pública e privada, para Marcela, é a quantidade de alunos por sala de aula. Antes, as turmas eram compostas de 9 a 14 alunos. Agora, são cerca de 25 a 35 alunos.

"Não há um momento de descanso. Às vezes você precisa pedir ajuda a outro funcionário pra "passar o olho" nas crianças pra poder escapar para ir ao banheiro."

Outro ponto que difere as duas é a a falta de verbas para a melhoria nas escolas, o que entristece Marcela, porque este fator limita os recursos já existentes nos colégios.

"Temos Datashow nas salas de aula, mas os computadores e cabos são da época que eu entrei na escola (2010), os aparelhos já não funcionam, nem têm velocidade. Além disso, há o fato de que não há internet que nos ajude a utilizar vídeos nas aulas (muitas vezes usamos nossos próprios celulares como roteadores)."

"Ser professor hoje em dia é difícil, sim. Mas o que não é difícil hoje em dia?"

Ser professor é uma luta diária, quando se está em sala de aula cada dia é muito diferente do outro. Marcela atua em duas turmas e cada uma tem suas peculiaridades. Nos dois turnos em que atua, pela manhã e de tarde, há situações novas todos os dias. 

"Ser professor hoje em dia é difícil, sim. Mas o que não é difícil hoje em dia?"

"Tem dias que a gente pensa em desistir, tem criança que você acha que vai te fazer enlouquecer. No dia seguinte, esta mesma criança pode ser a que para na sua frente e te dá um abraço, porque estava com muita saudade de você. Esse abraço te dá uma energia que nenhum outro emprego no mundo vai te dar. Acho que vem daí a força que a gente tem pra continuar."