Coronavírus: servidores públicos comentam os desafios do home office
FOLHA DIRIGIDA conversou com três servidores públicos e ouviu como está sendo desenvolver as atividades em formato de home office.
Autor:
Publicado em:07/04/2020 às 05:00
Atualizado em:07/04/2020 às 05:00
Com a pandemia do novo Coronavírus(Covid-19), os órgãos públicos decidiram resguardar a saúde de seus servidores e acionaram o trabalho remoto. Mais conhecido como home office. Com isso, as mais variadas funções tiveram que se adaptar ao novo modelo para manter as atividades e rotinas funcionando.
Mas, nem toda a adaptação é fácil. Para muitas funções, foi preciso traçar estratégias e buscar alternativas que não atrapalhassem a produtividade.
Para saber mais sobre o dia a dia do home office do servidor público, a reportagem da FOLHA DIRIGIDA conversou com três profissionais. Eles listaram como estão lidando com as atividades à distância, falando das dificuldades, mas também das vantagens.
Servidora do TJ diz que maior desafio é o horário de trabalho
De acordo com uma assistente V do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, com imagem preservada, as atividades de home office começaram a partir do dia 17 de março. Ela revela que teve muita diferença em seu modo de agir profissionalmente, já que lida com demandas internas e externas.
A profissional do TJ do Rio de Janeiro conta que sua rotina de trabalho tem sido bastante intensa e que tudo tem exigido muita disciplina, principalmente para não deixar que as distrações externas atrapalhem.
Ela cita a família querendo diálogo, atividades doméstica (cozinhar e arrumar a casa), além da tentação de assistir noticiário e manter-se atento nas redes sociais.
"Ainda assim, consigo desempenhar todas as funções do meu trabalho de forma remota. A maior dificuldade é ter que tratar questões com outros funcionários: antes bastava ir até a sala deles, agora é preciso enviar e-mail, mandar mensagem ou telefonar e esperar a pessoa responder. Muitas vezes isso atrasa o trabalho."
Sobre os desafios do home office, a assistente do tribunal considera o horário de trabalho como um principal desafio. Ela explica que é muito difícil ter um horário final de trabalho e que todas as demandas costumam se estender.
No trabalho presencial, essa assistente comenta que tinha hora para começar e terminar seu trabalho, de acordo com a sua carga horária. Mas, com todas as demandas sendo repassadas de maneira online, isso mudou.
"Preciso ficar à disposição praticamente o dia todo porque pode surgir uma urgência. É uma sensação ruim de precisar estar sempre alerta. Meu telefone nunca está no modo silencioso e sinto que não posso relaxar totalmente em momento nenhum. Para aliviar essas situações de estresse, tenho tentado assistir filmes e séries mais leves e fazer pequenas coisas que me deixam feliz, como cozinhar e conversar com os amigos."
Assistente do tribunal conta como adaptou sua rotina
A necessidade de um recurso de trabalho mais eficaz fez com que a servidora do TJ investisse em um novo computador. Ela afirma que todo o seu trabalho é feito com a ajuda de um, e o seu antigo já não estava 100%: "fiquei com medo que me deixasse na mão."
Um investimento como esse em meio a uma crise do Coronavírus pega qualquer um de surpresa. Além disso, impacta em um orçamento que não estava preparado para novidades. Ela revela que foi preciso acionar o famoso cartão de crédito para manter suas atividades sendo desenvolvidades em tempo adequado e sem correr riscos.
Essa assistente conta ainda que tenta manter a maior parte do seu dia para a rotina de trabalho e tenta ocupar os compromissos pessoais apenas na parte da noite e aos finais de semana.
Mas, revela também que há muitas vantagens nesse modelo de trabalho.
"A grande vantagem é ser poupada do deslocamento diário. Moro na Baixada Fluminense e trabalho no Centro do Rio, o que me tomava em média 4 horas diárias de viagem, então me sinto fisicamente menos cansada. Além disso, tenho conseguido almoçar melhor porque cozinho em casa todos os dias. Antes, era comum comprar comida na rua, o que nem sempre é saudável."
Profissionais da Educação contam como adaptaram suas funções
Servidoras da Prefeitura do Rio de Janeiro, mais precisamente da Secretaria Municipal de Educação (SME), revelaram à FOLHA DIRIGIDA que também iniciaram uma rotina de home office a partir do dia 16 de março.
Para quem está acostumado com um dia a dia agitado, salas de aulas lotadas de crianças e professores discutindo planejamento, o desafio do trabalho à distância foi ainda maior.
Bruna Rodrigues, 32, atua como coordenadora pedagógica e conta que tem vivido em uma constante adaptação. Ela revela que a diferença é grande, pois o trabalho home office é praticamente todo realizado de forma virtual.
Além disso, nem sempre tem o retorno de todos e precisa aguardar constantemente a resposta de mensagens ou e-mails, o que atrasa um pouco o fluxo.
Já no trabalho presencial, no dia a dia, ela comenta que era mais fácil desempenhar as atividades na escola, ter uma resposta ao vivo, é bem mais eficiente ao trabalho, segundo ela.
A coordenadora de uma das unidades da prefeitura do Rio revela que suas principais atividades no atual home office são:
Ler e responder a e-mails;
Atualizar as redes sociais da escola;
Postra aulas e atividades para os alunos que recebe dos professores
Tirar dúvidas de responsáveis;
Participa de reuniões quando solicitada.
"Existem vários estudos e pesquisas que monstram o benéfico do home office, porém não está sendo fácil desempenhar a nossa rotina nesse perfil. Para a escola, a essência são os alunos, e está sendo uma tarefa difícil fazer esse link, entre aluno e professor ou professor e aluno. A orientação que estamos recebendo é disponibilizar aulas e atividades através das redes sociais, porém lidamos com famílias com recursos limitados, ou seja, sem acesso à internet e sem impressora para imprimir os conteúdos disponibilizados. A estratégia que estou estabelecendo é que eles façam até onde é possível, e nunca tentar realizar aquilo que está fora de possibilidade", revelou Bruna.
Falta de contato direto com as crianças está entre as maiores dificuldades
Já Fernanda Oliveira, 32, que é diretora em uma das unidades escolares da SME do Rio de Janeiro, conta que não está sendo fácil adaptar a sua rotina, pois classifica seu trabalho como um ambiente vivo, articulador e ativo.
Segundo a servidora, as maiores inspirações de um profissional da Educação ocorrem no contato direto com as crianças. Mas, ela conta que está em busca de inovações e tentando se manter perto de quem passa boas energias para trazer novidades a cada dia.
"O meu maior desafio é a interação. Na minha função, buscamos inspiração a todo momento, e somos bombardeados de ideias e preciso filtrar todas elas, como: o que pode acontecer, o que seria genial acontecer, ou até mesmo, aquelas impossíveis de serem realizadas. Sinto falta dos debates, das conversas, e pra estreitar isso recorremos ao mundo virtual", revelou a diretora.
Fernanda revelou à FOLHA DIRIGIDA que, no home office, suas principais atividades são:
Checagem de e-mails;
Atualização de sistema operacional;
Busca de ideias que inovem as atividades de forma a transmitir uma mensagem acolhedora;
Tentativa de abranger o o máximo de alunos possíveis.
Houve vantagens no home office para profissionais da Educação?
No entanto, as servidoras do município do Rio afirmaram ainda que é possível também extrair algumas vantagens dessa rotina. Ambas revelam que os maiores recursos utilizados são os meios virtuais, para contados com supervisores, professores e até mesmo alunos. Toda a equipe docente se uniu nessa empreitada.
"Primeiro, busquei adaptar um lugar como se fosse o “cantinho do trabalho” e apenas naquele local permanecem as ferramentas de trabalho, como computador, planilhas, registros", contou Fernanda.
A diretora contou ainda que a principal vantagem disso tudo foi aproveitar melhor o momento em família. A rotina agitada às vezes não permite tantos encontros igual está sendo possível no home office.
"Home office hoje significa que precisamos cuidar dos que amamos, precisamos nos conscientizar que precisamos funcionar enquanto peça fundamental do sistema, sem perder a consciência que tudo isso está acontecendo ao redor do mundo", afirmou Fernanda.
Já Bruna, comenta que não tem conseguido encontrar muitas vantagens nesse modelo, uma vez que sua função pede muito contato, é o que faz a ponte entre todos. Entretanto, garante que tem buscado medidas e alternativas que possam tornar as suas atividades ainda mais eficazes.