Dia do pedagogo: uma nova rotina com obstáculos durante a pandemia
Nesse dia 20 de maio é comemorado o dia do pedagogo. Confira quatro histórias de profissionais e como lidam com os desafios na pandemia.
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Publicado em:20/05/2020 às 07:00
Atualizado em:20/05/2020 às 07:00
Lecionar é uma dádiva que todo o profissional da Educação recebe. É uma missão de vida que vai além de um curso técnico ou de graduação. O processo educacional transforma o pedagogo em uma das profissões mais valiosas e essenciais para uma sociedade - que deve ser vista com muito prestígio por todos.
São os pedagogos os responsáveis por muitas atribuições dentro de uma escola e são eles que proporcionam o crescimento e desenvolvimento crítico dos alunos. Você muito provavelmente já lidou com vários durante a sua trajetória e com certeza é extremamente grato pela contribuição deles.
Neste dia 20 de maio é comemorado o Dia do Pedagogo. Durante a pandemia, esses profissionais estão tendo que enfrentar muitas dificuldades para manter um processo educacional funcionando e não perder a relação tão prazerosa que é a: escola-aluno.
Os desafios em meio a uma nova rotina são muitos. Desafios estes de sistema, tecnológico, familiar e muito mais. No entanto, eles não desistem nunca. Os pedagogos buscam a cada dia diversificar e inovar o seu cotidiano, sacrificando o seu tempo pessoal, para poder receber em troca o sorriso das crianças/adolescentes.
Por que dia 20 de maio? Essa data foi escolhida após o decreto da Lei nº 7.264 de 20 de maio de 2020, de Eduardo Gomes, que iniciou essa celebração no país, cujo objetivo é:
"promover a discussão do papel da família e das escolas no desenvolvimento das crianças, delimitando as responsabilidades de cada um."
A reportagem da FOLHA DIRIGIDA conversou com quatro profissionais que são formados em Pedagogia e comemoram essa data tão especial. Eles contam como está sendo lidar com esse período de pandemia e revelam os motivos por terem escolhido embarcar nessa profissão.
Apropriação do digital e a relação com o aluno desafiam a rotina de Jéssica
Jessica Moura, 31, e orientadora educacional. Há nove anos atuando no ramo da Educação, a pedagoga conta que não nasceu com o sonho de fazer Pedagogia, mas se apaixonou pela profissão durante o ensino médio.
"Nunca havia lecionado antes. Fiz o ensino médio no Colégio Pedro II e lá me encantei, em especial, pela História. No caminho percebi que queria o campo da Educação. Para o vestibular minhas opções eram: História ou Pedagogia. Passei para Pedagogia, mas fui com uma estratégia definida: se descobrisse que a Pedagogia não era exatamente o que eu queria, não exitaria em migrar para o curso de História. Pois é. Nada disso aconteceu, rs. De fato, percebi a cada semestre que passava que estava no lugar certo, no curso certo."
Para Jessica, a nova rotina do pedagogo durante a pandemia tem sido desafiadora. A unidade escolar em que atua atende a um público específico, composto de forma expressiva por trabalhadores: durante o dia trabalham e a noite frequentam as aulas do curso técnico.
Por esse motivo, ela explica que é preciso entender que a sua atuação deverá considerar as necessidades desse sujeito integral - que acima de tudo é ser humano: é pai, é aluno e que é cidadão com necessidades múltiplas.
"Sempre tive contato muito próximo com os alunos de minha Unidade. No geral, com o passar dos semestres, acabamos estreitando nossos laços de respeito e amizade e, com essa pandemia, fazer contato com eles, mantê-los motivados para darem continuidade ao curso tem sido a questão chave de nosso trabalho. Sabemos que inúmeros aspectos configuram a realidade desses alunos e alguns, nesse momento atípico estão passando por situações turbulentas, como necessidades, morte, doença e até mesmo fome."
Jessica conta que, partindo desse princípio, procurou estabelecer uma mobilização que ela classificou no estilo "formiguinha", procurando saber como esse aluno estava mediante esse cenário.
"As redes sociais tem sido grandes aliadas nesse momento difícil. Os professores sempre muito parceiros, estão na linha de frente e sempre nos repassam situações e possibilidades para que nossa atuação seja mais pontual e eficaz com os alunos. O que permanece é sempre o desejo de ajudar o outro."
Segundo Jéssica, os benefícios de ser pedagogo é poder mudar o mundo através da Educação: "Acredito piamente no poder transformador da Educação. E não acho que seja uma visão romantizada, para mim é uma visão realista sobre o que a Educação pode fazer no mundo. Educação muda pessoas e pessoas mudam o mundo. E fazer parte desse processo de “fazer” Educação é um privilégio."
Frase escolhida por Jessica para o Dia do Pedagogo
''O grande desafio é atingir a todos'', diz Alessandra
Alessandra Regina de Oliveira, 38, e Coordenadora Pedagógica na Rede de Ensino Municipal do Rio de Janeiro. Está em atuação desde 2004 na profissão e revela que a escolha de ser professora foi espontânea - e essa vontade surgiu ainda quando criança.
"Seguir escolhendo ser Pedagoga foi natural. Me lembro que desde muito nova, sinalizava a minha preocupação com o outro. Lembro da frase "vai, salvadora do mundo!", dita por meus familiares (em alguns momentos de incentivo e outros de gozação!) diante algumas posturas minhas."
Para Alessandra, a rotina do pedagogo nesse período de isolamento tem sido desafiadora, principalmente por tudo o que está acontecendo ser novo e não ter nenhum repertório para saber como agir em meio às situações do cotidiano. [tag_teads]
Ela comenta sobre o fato da pandemia impor o distanciamento e que nesse período foi preciso adotar outros comportamentos, após terem sido obrigados a desconstruir "os muros da escola".
"O uso da tecnologia, das mídias na escola não começa agora, mas um tipo de relação não pode dispensar outro! Como faz falta o "ao vivo", o sentir o outro! E atuar à distância me faz refletir sobre a superficialidade. Mas me sinto com a responsabilidade de incentivar a coragem! Palavras de afirmação, ter a capacidade de ouvir o outro, saber como está, demonstrar empatia, se mostrar disposto a ajudar de alguma forma, acredito ser fundamental para alimentar os vínculos. Temos que ressignificar o dia a dia para nos adaptar a essa nova rotina."
A pedagoga revela que nessa rotina à distância e completamente virtual ela inicia e termina o dia na internet. O acesso aos grupos de WhatsApp aumentou, com a necessidade de orientar e realizar comunicados importantes da rede de ensino para a unidade escolar em que atua.
Ela realiza o atendimento a professores, alunos e responsáveis e conta que o acesso a página do Facebook ficou ainda mais constante. Esse foi um dos mecanismos adotado para estreitar o laço entre os alunos e comunidade.
"Realizamos postagens de aulas e retornos às questões colocadas. Diversas reuniões virtuais também fazem parte deste novo contexto. Reuniões com toda a equipe escolar, com a equipe de direção e coordenação, com cada segmento e com as equipes de nossa Gerência de Educação, para pensarmos juntos em como dar conta dessa nossa nova realidade.
De acordo com Alessandra, os benefícios de ser pedagogo é poder atuar, agir com intencionalidade, mobilizar pessoas, criar vínculos, estabelecer a participação, crescer como ser humano, desenvolvendo cada vez mais o olhar atento, são os maiores benefícios que ganha em ser pedagoga. "Sentir que eu posso ser útil estando em ação para fazermos coletivamente a educação, me deixa muito feliz".
Frase escolhida por Alessandra para o Dia do Pedagogo
Para Sheila, atuar com ensino é desafio de um processo que é de todos
Sheila Venancia da Silva Vieira, 43, e professora na Educação Especial das Redes públicas municipal e estadual do Rio de Janeiro. Legítima filha da escola pública, ela revela que nunca teve dúvidas acerca da Pedagogia.
No entanto, a sua trajetória quase a levou para outra área. Sheila conta que passou para prestar o curso de nível médio/técnico em Eletrônica, mas desistiu para tentar a seleção para o Curso Normal.
"Com perseverança, cheguei até os Estudos Adicionais, que me conferiam a Licenciatura Curta. Meu estágio curricular, durante o Curso de Formação de Professores, foi cumprido em escolas públicas municipais. Estas experiências confirmaram o meu desejo e compromisso em lecionar de forma diferenciada. Apoiando os alunos na construção dos seus conhecimentos. Prestei vestibular para todas as Faculdades Públicas do RJ, ao mesmo tempo em que participei de concursos para me tornar professora na educação pública. Passei em todos os processos seletivos que participei. Pude escolher em quais redes de ensino atuaria."
Foi a partir daí que a pedagoga conta que surgiu um dos maiores desafios da sua vida: dois vínculos empregatícios e a graduação. "Escolhi fazer Pedagogia na UERJ. A melhor escolha! A visão crítica e a qualidade científica do meu curso são alicerces que trago comigo no coração e nas práticas."
Sobre os desafios em meio à pandemia, a profissional conta que a atuação 'tem sido ressignificada, na coletividade."
Sheila explica que os ambientes e as relações se reconfiguraram e que os instrumentos e metodologias de ensino se prontificaram a se adaptas as tantas mudanças que surgiram.
"Esse cenário imprimiu no mundo, novas relações, hábitos e atitudes. Em tempo recorde, as estratégias educacionais se reorganizaram por uma necessidade primordial: manter e fazer-valer os benefícios que os vínculos com a aprendizagem favorecem. As famílias, a tecnologia, o tempo-espaço, os alunos e os professores estão construindo essa nova estrada, na qual, ao mesmo tempo, também caminham, a despeito da certeza de que o próximo trecho ainda está sendo construído. É o ápice da ação do Pedagogo: edificar pontes entre a realidade que se apresenta e o ponto onde planejamos chegar. Viver as perspectivas da relação ensino-aprendizagem. As respostas já estão chegando... Os estudantes e docentes, as Equipe de Pedagógicas, as famílias estão, cada um ao seu modo, reagindo à um cenário adverso e com coragem!"
A pedagoga comenta que os maiores desafios estão concentrados na insegurança do que ainda está por vir: o pós pandemia.
Para Sheila, estão entre os benefícios de ser pedagogo a oportunidade de participar e poder contribuir com a ampliação de possibilidades que cada estudante nos permite, é uma responsabilidade e um encantamento singular. "Estender às mãos para apoiar a construção do nosso futuro."
Frase escolhida por Sheila para o Dia do Pedagogo
'O pedagogo e todas as outras profissões precisaram se reinventar', diz Leandro
Leandro Chasse Pinheiro, 39, e supervisor educacional. Formado em Pedagogia pela Universidade Federal Fluminense desde 2005, revela que escolheu essa área por opção e foi muito consciente da escolha. Ele explica que optou por uma área do conhecimento que possibilitaria entender o campo educacional em sua complexidade.
"A educação e as questões educacionais sempre estiveram presentes em minha caminhada. Ainda no ensino médio, já trabalhava com reforço escolar junto aos alunos com dificuldades de aprendizagem. Desde então, tomava conhecimento das questões educacionais, seja em relação ao aprendizado dos alunos, seja em relação aos aspectos pedagógicos das escolas nas quais estudavam."
Leandro comenta sobre o processo que o país está enfrentando derivado da pandemia do Coronavírus e classifica que tudo é muito novo, mas, não só para os pedagogos, mas para todos os trabalhadores. Segundo ele, veio para anunciar um tempo pelo qual a geração jamais pensou em passar.
Para o pedagogo, o processo de se reinventar é constante, pois as adaptações estão em curso. O profissional disserta que está buscando, incessantemente, formas de garantir o direito de aprendizagem aos alunos:
"seja por intermédio das novas tecnologias, seja por outras formas de mediação, conscientes de que não existirão soluções perfeitas em tempos tão complexos como este que vivemos."
Segundo Leandro, o maior desafio é garantir que todos os alunos serão alcançados de alguma forma. Ele cita, ainda, a desigualdade social - que não permite o acesso igualitário a todos os educandos.
Elencando os desafios da profissão atualmente, Leandro destaca:
Entender a dinâmica deste tempo, para que possamos adequar a política educacional de maneira a causar menor prejuízo possível a professores, alunos e demais profissionais da educação;
Ter uma visão hermenêutica das ações de resistência de professores e alunos, entendendo que também são cidadãos atingidos direta ou indiretamente pela Pandemia;
Garantir que todos os discentes, sobretudo aqueles mais vulneráveis socialmente, sejam alcançados pelas ações educacionais em curso.
Pensar as ações educacionais para o período já intitulado Pós-Pandemia;
Para ele, os benefícios de ser pedagogo são poder participar da formação humana de cada indivíduo que passa por nós, fazer a diferença na vida de cada um dos alunos e, mais adiante, ouvir -desses indivíduos - que são significativos em suas vidas.
"Essa contribuição que o pedagogo dá à sociedade, na medida em que participa da formação dos sujeitos, de alguma forma preparando-os para serem cidadãos participativos, críticos e atuantes nesta mesma sociedade, transformando-a, confere a nós – pedagogos – uma sensação incrível."
Frase escolhida por Leandro para o Dia do Pedagogo