Eleições 2020: Martha Rocha quer valorizar o servidor público

Conheça as propostas de Martha Rocha, candidata à prefeitura do Rio de Janeiro pelo PDT, nas Eleições 2020.

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Publicado em:12/10/2020 às 09:00
Atualizado em:12/10/2020 às 09:00

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Candidata à Prefeitura do Rio de Janeiro pelo PDT, Martha Rocha, falou em entrevista à Folha Dirigida sobre suas propostas para o setor de concursos públicos em diversas áreas como:Segurança, Saúde, Educação e Fiscal; e sobre a  valorização dos servidores.

Além de tópicos relacionados à empregabilidade. Confira a entrevista na íntegra.

Folha Dirigida: Por que a senhora quer ser prefeita da cidade do Rio de Janeiro? Quais são os seus diferenciais em relação aos demais candidatos?

Martha Rocha: Eu tenho 61 anos, eu sempre juro que eu vou pagar de conta anos 60, mas acabo declarando a minha idade correta. Desses 61 anos, eu passei 31 anos na Polícia Civil, onde eu encerrei minha carreira como chefe da Polícia Civil. Depois de ser chefe da Polícia Civil, como você já disse, eu fui eleita duas vezes como Deputada Estadual e, agora, estou no meu segundo mandato.

No primeiro mandato eu presidi a comissão de Segurança Pública. Agora, no segundo mandato, eu estou presidindo a comissão de Saúde e estava até recentemente presidindo a comissão Covid, que é essa comissão especial que apura o desvio de dinheiro público na área da Saúde no estado do Rio de Janeiro. 

Eu digo que quero ser prefeita da cidade, porque eu entendo que eu posso conjugar a experiência na gestão com a capacidade de entender e de atuar na política. Não se deve ter em relação à política qualquer entendimento que ela deve ser extinta das relações sociais. A política é a maneira pela qual a sociedade evoluiu e consegue fazer as transformações.

O que eu posso perceber, e vejo isso muito na rua, eu moro no mesmo apartamento há 19 anos, eu moro na Tijuca e a minha é vida nesse entorno. Eu percebo que as pessoas estão entristecidas com a cidade. A imagem que a gente tem da cidade, que embora seja um belo cartão postal do Brasil, é uma imagem de abandono, é uma imagem de desordem.

Então eu verifico que nesse exato momento é muito decisivo o que você vai fazer para resgatar essa cidade. Que essa cidade possa cumprir o seu papel das políticas públicas, mas que também seja uma cidade boa para morar, boa para estudar e também uma cidade boa para fazer negócio.

Eu acho que é esse o grande desafio do próximo prefeito ou da próxima prefeita, que é trabalhar melhor a questão da gestão entendendo o grande desafio das finanças da cidade. Porque em 2019 nós terminamos o ano com R$4 bilhões de reais sem cobertura. Eu diria com um rombo de R$4 bilhões.

Então, o desafio que está colocado aí é um desafio grande que vai precisar do gestor não só a capacidade de gestão, mas também de articulação, de trazer a sociedade para participar das decisões, de trazer formas de controle e transparência para essa decisão. Não será uma tarefa fácil para quem estiver sentado na cadeira de prefeito em 2021.

Folha Dirigida: Manter uma relação de harmonia com os governos federal e estadual é de suma importância para os municípios, sobretudo para captar investimentos para a cidade. Caso eleita, como a senhora pretende se relacionar com o governador em exercício, Cláudio Castro, e com o presidente Jair Bolsonaro?

Martha Rocha: Eu quero que a população da cidade perceba que a cidade do Rio de Janeiro é uma referência no nosso país. Se é bom para o Rio, é bom para o Brasil; se não é bom não para o Rio, não pode ser bom para o Brasil. E nesse sentido eu não tenho a menor dificuldade de me dirigir ao Governo do Estado e à Presidência da república, porque eu acho que a vida é feita de construções de pontes.

Se olharmos para o cenário da política hoje, você vai ver que o presidente da República construiu sua vida política na cidade do Rio de Janeiro. O presidente da Câmara dos Deputados construiu a sua vida política na Cidade do Rio de Janeiro. Hoje o presidente do Supremo Tribunal Federal é oriundo do Rio de Janeiro, foi aqui que construiu a sua carreira de magistrado.

Eu confio muito no bom senso eu confio muito também no poder do cidadão. O cidadão vai estar do nosso lado para lembrar essas três autoridades e ao governador do estado que é preciso colocar na agenda de interesses desses poderes a cidade do Rio de Janeiro. 

Então, eu não tenho problema, eu não vou discutir na campanha as questões nacionais, as questões nacionais vão ser discutidas as questões m 2022. Nesse momento nós vamos discutir as questões da cidade do Rio de Janeiro.

E eu serei é a primeira pessoa, se eleita, a funcionar como uma espécie de embaixadora da cidade do Rio de Janeiro, para lembrar as pessoas, acho que é um pouco trabalho da prefeitura é esse, dar visibilidade para nossa cidade e de lembrar esses dirigentes, que são autoridades políticas, da importância da cidade do Rio de Janeiro e que por tudo aquilo que os cariocas concederam a eles, eles devem à cidade do Rio de Janeiro um olhar diferenciado e devem contribuir para ajudar a cidade do Rio de Janeiro a sair dessa crise.

Folha Dirigida: A pandemia fez com que milhares de brasileiros perdessem seu emprego, e os trabalhadores do Rio de Janeiro foram um dos mais afetados em todo o país. Caso eleita, quais ações pretende desenvolver para gerar renda para a população e contribuir para a criação de novos postos de trabalho na cidade do Rio de Janeiro?

Martha Rocha: Em primeiro lugar, nós temos que ter um plano de desenvolvimento para a cidade do Rio de Janeiro. E quando falamos em desenvolvimento, é voltar a te dizer aqui que essa tem que ser uma cidade que seja boa para fazer negócios. Um dos nossos projetos é a questão do polo industrial da Saúde.

Hoje nós temos nessa cidade diversos institutos de pesquisa. Nós temos a Fundação Oswaldo Cruz, o Famanguinhos. Nós temos ali no polo industrial de Santa Cruz já o início da discussão do polo com o Famanguinhos. Então, trabalhar com esse polo industrial da saúde, que é algo que é factível, acho que é muito importante.

Nós temos que trabalhar com a economia criativa. O Rio de janeiro, por exemplo, pode ser uma cidade muito boa para instalar startups. Temos que trabalhar com a isenção fiscal, se assim for o caso, mas desde que ela reverta para postos de trabalhos. Então, se você vai autorizar a instalação de uma planta industrial, por exemplo, na Zona Oeste, pegando ali o que já existe em Santa Cruz, é preciso que os empregos que possam vir dessa planta industrial, que pode ter, de repente, um benefício da prefeitura na redução de imposto, isso tem que se reverter, por exemplo, em postos de trabalho para aquela região.

Nós temos dois ativos indispensáveis na nossa cidade. Primeiro a alegria do seu povo que é alegre, acolhedor e trabalhador. Depois são as belezas naturais. As pessoas pouco sabem, mas nós temos a Serra do Mendanha, que tem lá um vulcão, e poucas pessoas sabem disso. Então, investir no turismo ecológico, investir nesse turismo mais reduzido que a pandemia vai nos obrigar a ter, trabalhar a questão da industrialização do Rio de Janeiro, fortalecer as cooperativas e os pequenos empreendimentos. Não tenho dúvidas de que vamos conseguir trazer de volta para a cidade do Rio de Janeiro essa imagem.

Eu digo que ninguém foi para São Paulo porque quis. Todo mundo que foi para São Paulo está doido de vontade de voltar. Acho que a prefeitura tem que construir esse ambiente para que essas empresas retornem e outras empresas cheguem à nossa cidade.

Folha Dirigida: Alguns setores foram mais impactados com a pandemia. Um deles foi o turismo. Diante disso, quais são as suas propostas para a recuperação do Turismo no Rio, um dos setores que mais gera emprego e que está sendo extremamente afetado pela pandemia?

Martha Rocha: Eu tive a oportunidade de visitar um hotel há dois dias em Copacabana e você vê o quanto os hotéis se organizaram para cumprir de forma rigorosa todos os protocolos necessários para enfrentar o Covid-19. A nossa função aqui é fortalecer o setor de turismo, nós temos que permitir que a cidade possa construir um calendário de janeiro a janeiro.

Essa cidade, depois do carioca, o que mais tem é o nosso querido povo nordestino. Por que essa cidade não tem um evento de festa junina, que um dia possa competir com Campina Grande? 

Eu assisti um debate no Reage Rio e ali o Medina fez uma observação que eu nunca me esqueci. Ele disse que o Rock In Rio na cidade de Lisboa ele apresenta cinco certidões para realizar o evento. O Rock In Rio na cidade do Rio de Janeiro, ele tem que apresentar 40 certidões. Então, temos que desburocratizar, tornar a cidade viável.

Aquele que está trazendo investimento para a cidade, não pode ser submetido a uma peregrinação de carimbos, de protocolos de entrada. Temos que ter ali no gabinete do prefeito uma estrutura para trazer esses investimentos. Eu tenho absoluta certeza que com organização, com entendimento do que representa a cidade do Rio de Janeiro, nós podemos, e devemos, fortalecer o turismo, que não vai ser mais aquele turismo que saímos aqui do Rio, ficamos 12 horas em um avião para chegar numa cidade e assistir um show na Broadway.

Eu acho que o turismo vai ser diferente. Vai ser o turismo curto, vai ser o turismo voltado para a população nacional. O nosso grande desafio não é buscar, claro que o turista estrangeiro é importante, mas é trazer de volta o brasileiro que ama a cidade do Rio
de Janeiro.

Folha Dirigida: Os jovens, sobretudo, de menor escolaridade e baixa renda, costumam ser os mais afetados quando se fala em boas oportunidades de emprego. O que a senhora acredita que deve ser feito para alterar essa realidade? No seu plano de governo, há projetos voltados para ampliar a empregabilidade entre os jovens e, ainda, permitir que eles se desenvolvam profissionalmente?

Martha Rocha: A pandemia nos mostrou de uma forma muito cruel, as diferenças entre os jovens da escola pública e da escola privada. Uma pesquisa do Conselho Nacional de Juventude afirmou que 30% dos jovens que estavam inscritos no Enem, provavelmente não fariam esse exame quando ele for realizado. Por que? Porque o jovem tem a convicção de que não está preparado. E não passar no exame é um desgaste emocional tão grande, que talvez seja melhor tentar no ano seguinte. E essa diferença de desigualdade talvez seja o retrato mais duro da desigualdade social.

Então, para o nosso jovem eu costumo dizer que nenhuma criança fica para trás e todo jovem vale a pena. Na nossa concepção esse jovem tem que estar olhando para o futuro.

Você já imaginou nós conseguirmos fazer da cidade do Rio de Janeiro uma célula de investimentos em games? Isso tem a cara do jovem. Hoje o jovem pega seu celular, que nem tem aquele pacote de dados tão bacana, hoje a televisão é o Youtube, o jornal é o Facebook, então nós temos que jogar para essa modernidade.

Pensar em investir no jovem em atividades de cultura na fotografia, na coreografia, na edição, fazer o fortalecimento do polo audiovisual. Nós temos sim condições de trazer para essa atividade do trabalho para o jovem esse olhar da modernidade. 

Eu queria te dar um exemplo. Eu fui presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher. E lá no conselho nós tínhamos um programa de atendimento a mulheres vitimas de violência que procurava empoderar economicamente essas mulheres, para que elas pudessem sair daquela cadeia de violência. Eu não estou querendo dizer com isso, obviamente, que só as mulheres pobres é que apanham, não é isso.

Mas, havia ainda no caso de muitas mulheres uma dependência econômica. Então, o que a gente pretendia era tirar essa mulher dessa dependência econômica.

Esse projeto quando eu cheguei no conselho já existia. A minha ideia foi que eu percebi que essas mulheres tinham curso de artesanato, curso de panificação, não que isso não seja importante, mas a primeira coisa que eu fiz foi colocar essas mulheres em um curso de informática.

Então, quer fazer artesanato, pode fazer, mas tem que fazer informática. Ou seja, para preparar essa mulher e hoje preparar esse jovem para o desafio desse nosso século, que não vai ser a violência. O grande desafio vai ser o trabalho.

Folha Dirigida: Quais ações a senhora pretende desenvolver para valorizar os servidores públicos da cidade do Rio de Janeiro? No seu governo, eles terão um papel de protagonista?

Martha Rocha: Quando eu fui chefe da Polícia Civil, a chefia de polícia gastava mais comprando alimentação para os presos do que o ticket refeição do policial. Quando eu fui chefe da Polícia Civil, eu fiz seis processos de promoção. Eu coloquei em dia todas as promoções.

Eu sou uma servidora pública com 31 anos de vida dentro do serviço público. Se tem uma pessoa que tem a obrigação de apoiar e valorizar o servidor público, essa pessoa se chama Martha Rocha. Eu quero muito que todo servidor saiba que eu respeito muito a atividade de servidor público. Nos grandes escândalos, nós não encontramos o serviço público, os grandes escândalos estão nas Organizações Sociais. Então, nós temos que ter muito orgulho dos servidores públicos.

Agora eu também preciso dizer que ninguém conte da minha parte com nenhuma propaganda enganosa. Porque se eu disser agora que no meu primeiro mês eu vou conceder esse ou aquele benefício, sem arrumar a casa, que precisa ser arrumada até para garantir pagamento de salário em dia, para garantir que as pensionistas recebam sua pensão, que os aposentados recebam sua aposentadoria. Mas, o servidor público da cidade do Rio de Janeiro pode ter a absoluta certeza que eu olho para eles como valorosos servidores públicos.

Folha Dirigida: A pandemia certamente afetará a economia do país, com a queda de arrecadação. É possível, no atual momento, já traçar um cenário para o Rio de Janeiro, pós-pandemia, sabendo que o município do Rio se encontra em um momento de dificuldades, operando há dois anos acima do limite imposto pela Lei de Responsabilidade Fiscal?

Martha Rocha: Não, nós não temos um panorama, até porque os dados disponíveis da prefeitura não são transparentes. Uma das metas do nosso programa é garantir transparência e controle social. E, para isso, nós precisamos trabalhar com dados abertos.

Os governos modernos que lutam pela prevenção à corrupção, porque a corrupção tem que ser combatida, ninguém tem dúvidas disso. Mas há um momento anterior a isso, que é romper esse paradigma de gasto excessivo, de desvio, que lamentavelmente aparecem muitos casos da instituições públicas.

Então, para trabalhar nesse âmbito da prevenção, primeiro nós temos que ter um compromisso político de quem está no comando, que vai enfrentar e vai trabalhar para criar ferramentas de prevenção à corrupção. E, depois, trabalhar com dados abertos, transparência e controle.

O que eu posso te dizer é que estamos estabelecendo um plano emergencial econômico para as finanças do Rio de Janeiro. Nesse plano emergencial é mais ou menos assim, chegar e tomar algumas medidas duras. E as medidas difíceis devem ser tomadas imediatamente. Então, é revisão de contratos, o que for de restos a pagar trabalhar/dialogar no sentido da redução do valor. 

Do lado do devedor, chamar esse devedor para discutir a sua dívida e, de repente, abater o valor da dívida no que se refere a juros e multas para receber esse dinheiro, buscar os grandes devedores, rever as isenções fiscais, reduzir o custeio da máquina pública — precisamos reduzir, no mínimo, em 20% —, reduzir secretarias e cargos em comissão.

Eu acho que tem muitas coisas que vamos ter que fazer, mas que ao final vai dar a possibilidade de fazermos o uso desse dinheiro como tem que ser, no investimento em Políticas Públicas.

Folha Dirigida: O que precisa ser feito para que o Rio de Janeiro possa superar as atuais dificuldades econômicas, de forma que possa aumentar sua arrecadação, reduzir despesas e assim sair do limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal?

Martha Rocha: Eu acho que temos que trabalhar sob duas óticas. Sob a ótica da gestão, fazendo medidas de controle e medidas de otimização, por exemplo, uma central única de compras. Por que a Secretaria de Educação compra papel, a de Saúde compra papel, a Secretaria de Transporte compra papel, se podemos ter vários materiais em uma licitação maior, que o volume da licitação diminui o preço?

Acho que estabelecer uma central de compras, estabelecer no gabinete da prefeitura o monitoramento contínuo dessas aquisições e não permitir que alguém faça algum tipo de solicitação que não vai comprar. Isso também acontece. A equipe da licitação prepara uma licitação, faz o empenho, mas não compra, fica aguardando a oportunidade. Se não vai comprar naquele momento, por mais que um processo licitatório seja um processo demorado, mas tem que ter previsão.

Eu tenho que saber quanto eu gasto de papel, quanto eu gasto de caneta, quanto eu gasto de toner. Eu tenho que ter, até em respeito ao meio ambiente, redução de energia, de consumo de luz, água, papel. Hoje a boa técnica administrativa recomenda que tenhamos no sistema da prefeitura os dados todos catalogados. Não é para ter pasta de arquivo com cópia de ofício.

Então, todas essas coisas precisam ser revistas. E estabelecer, também, que eu acho que isso é importante se dizer, uma política de resultados/metas. Tudo hoje, em termos de gestão, pode ser medido. Então, podemos estabelecer sim uma política de metas para até valorizar aqueles que apresentam resultados.

Folha Dirigida: Há uma década não é feito concurso para fiscal de rendas da Prefeitura do Rio. Sabe-se que há apenas 202 fiscais na ativa, quando a lei estabelece 400. Além disso, 30% do atual quantitativo está para se aposentar. Na sua visão, contratar fiscais é um investimento e não uma despesa para os governos? Sua meta é fazer isso ainda no seu primeiro ano de mandato?

Martha Rocha: Eu não tenho a menor dúvida que contratar fiscais, ou seja, contratar a partir de concurso público, obviamente, eu não tenho a menor dúvida que aumentar o número de fiscais em exercício, é um investimento que vai ser importante para estruturar a capacidade de aumentar a receita da prefeitura.

Só que neste momento, eu não quero dizer aqui que vamos fazer o concurso em um  ano. Eu quero que as pessoas entendam exatamente isso: que eu valorizo o serviço público, que eu quero fortalecer o serviço público, mas eu preciso entender como estará a prefeitura em 2021, se assim desejar o povo da cidade do Rio de Janeiro.

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Folha Dirigida: Quais são os projetos que pretende implementar na área de Educação?

Martha Rocha: Educação para mim é compromisso de vida. Educação é um compromisso, inclusive, do meu partido, que na década de 80 fez o mais importante projeto educacional, que foi o Ciep. Então, é de nosso interesse resgatar a concepção, o conceito do Ciep, com aquele conceito de um lugar onde a criança estuda, brinca e também tem uma interlocução com o esporte e a cultura. Esse é o nosso desejo.

O nosso desejo é reduzir a data de entrada das crianças na creche. Hoje as crianças entram na creche a partir do sexto mês de idade e a licença das mães termina no quarto mês. Então, para nós é interessante que isso reduza, que essa data venha a partir do quarto mês de vida.

Nós temos que tentar flexibilizar o horário das creches, porque hoje muitas mães trabalham no horário noturno. Trabalhar a questão da alfabetização na idade certa, melhorar os indicadores do Ideb, que para cidade do Rio de Janeiro não são os melhores indicadores para uma comunidade escolar composta por mais de 600 mil alunos, mais de 1.500 escolas, é a maior rede de ensino pública da América Latina.

Se nós fossemos comparar isso com a população de um município, a comunidade escolar da cidade do Rio de Janeiro estaria entre os 50 maiores municípios em população. Os desafios estão colocados aí. Educação para mim é compromisso de vida. Eu sou fruto da escola pública e tudo que eu sou e tudo que eu tenho, eu devo à escola pública.

Folha Dirigida: Tem pretensão de imprimir uma política de concursos públicos periódicos para a área de Educação, tanto para o magistério como para carreiras da área de apoio, tais como agente educador e secretário escolar?

Martha Rocha: Em primeiro lugar, eu quero dizer que, para mim, os profissionais da área de apoio fazem parte dessa grande estrutura da rede de ensino. O que eu quero dizer com isso é que eu valorizo a merendeira, eu valorizo o inspetor, com todo respeito ao professor, todos esses profissionais de apoio integram a atribuição que a escola tem que ter em relação aos alunos.

O inspetor quando está lá tomando conta ou orientando os alunos, ele está participando do processo de educação daquele aluno, de formação pedagógica daquele aluno. Então, primeiro eu queria dizer que tenho um profundo respeito e vejo esses servidores como uma peça importante dessa formação pedagógica que queremos dar às nossas crianças e aos nossos jovens.

E, se houver possibilidade, obviamente que sim, desde que continuemos respeitando os limites da lei de responsabilidade fiscal. 

Folha Dirigida: Para agente de preparo de alimentos da Comlurb, não é feito concurso desde 2011, já para merendeira da Secretaria Municipal de Educação, não há novo concurso há quase duas décadas. A senhora considera fundamental abrir concursos para essas duas carreiras?

Martha Rocha: Eu quero me solidarizar com as merendeiras que foram à justiça exatamente para contrariar a decisão da prefeitura delas estarem ali nas escolas. Claro que a merenda é super importante, mas a visão míope de que tem na gestão da prefeitura não percebeu que essas merendeiras compõem o grupo de risco da Covid-19. 

Foi por isso que elas foram à justiça para pedir que elas não tivessem que ficar nas escolas preparando a merenda, por pertencerem ao grupo de risco. Eu tenho o profundo respeito por esse grupo e se eu puder, se houver a possibilidade do caixa financeiro, se conseguirmos ver a questão da Lei de Responsabilidade Fiscal, com certeza.

Folha Dirigida:  Ainda em relação à Comlurb, desde 2014 não se abre concurso para gari. E entre 3 e 4 mil garis já reúnem condições de se aposentar. Diante desse cenário, esse é um dos concursos que ganharão prioridade em sua gestão?

Martha Rocha: Sem dúvida nenhuma. Eu acho que ninguém tem dúvida da importância dos garis. Ninguém tem dúvida do que os garis representam para a cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, no dia seguinte ao réveillon que passamos pela praia, onde a noite toda teve festa, alegria, comemoração e antes da hora do almoço boa parte da praia já está totalmente limpa. Então esse trabalho é um trabalho valoroso, indispensável. E é óbvio que vamos fazer tudo para atender a essas demandas.

Folha Dirigida: Quais são seus projetos para a Guarda Municipal do Rio de Janeiro? Ampliar o efetivo, por meio de abertura de concurso, é um dos seus objetivos, sobretudo porque a corporação tem um elevado número de servidores com idade para se aposentar?

Martha Rocha: Eu acho que podemos assumir um compromisso com todas essas classes, seja a guarda, seja o magistério, seja a Comlurb, desde que a gente entenda a importância de ajustar as nossas finanças para ter um fôlego econômico e financeiro para fazer aquilo que é necessário.

Eu sei bem a importância da guarda, eu fui titular da delegacia do turista no Leblon, fui titular da delegacia de Copacabana, fui titular da delegacia do Campinho e em todas essas delegacias nós sempre tivemos muitos flagrantes apresentados pelos guardas municipais. Eu acho que os guardas municipais contribuem para esse ambiente de paz que precisamos na nossa cidade. Não há dúvidas que vamos trabalhar sob essa perspectiva.

Folha Dirigida: Na área de Saúde, sai governo e entra governo, e a população do Rio continua a sofrer com um atendimento deficitário, ocasionado sobretudo pelo déficit de pessoal e falta de estrutura nos hospitais. Pretende desenvolver uma  política de concursos periódicos para a Secretaria Municipal de Saúde e para a RioSaúde?

Martha Rocha: No caso da cidade do Rio de Janeiro um movimento aconteceu e ele mostra, exatamente, os equívocos na administração. Nós saímos de 28 mil servidores públicos na saúde para 23 mil. Então, nós vemos que teve a redução de cinco mil servidores, cinco mil funcionários públicos. Em compensação, nos terceirizados, nós saímos de 3 mil para 30 mil. 

Então, a política das organizações sociais, que vendia a ideia da celeridade, da eficiência, essa política também foi danosa nessa questão, porque foi uma maneira de se burlar a Lei de Responsabilidade Fiscal. Então, temos que rever essa política da Organização Social, de passar essas atividades para a Fundação Rio Saúde. Com isso esperamos, verdadeiramente, organizar a casa e abrir os concursos necessários.

Folha Dirigida: Ao longo dos últimos anos, a gestão dos hospitais por meio de OSs tem se mostrado deficiente (atrasos em contratos, atraso no pagamento de salários dos funcionários, hospitais sem insumos básicos, entre outros problemas), sem falar em foco de corrupção. Se eleita vai abandonar de vez as OSs? Qual será o papel da RioSaúde em seu governo?

Martha Rocha: Em primeiro lugar, não podemos abandonar de vez, porque você não pode, simplesmente, como vimos no município da Baixada Fluminense que a Organização Social bateu a porta e foi embora. Mas eu acho que a modelagem da Saúde onde estão em maior número as Organizações Sociais, ela tem que ser substituída pela Fundação RioSaúde.
 
Eu defendo essa tese e depois que eu passei pela comissão Covid-19, que fui conhecer melhor os dados, você pode imaginar o que aconteceu no estado com os hospitais de campanha. Os hospitais de campanha, eram nove, os dois que funcionaram foram feitos pela iniciativa privada. Os outros sete foram destinados ao instituto Iabas, o mesmo instituo que tem contrato com a Prefeitura do Rio, que recebeu R$4 milhões e que nunca fez uma prestação de conta. Estamos falando aí de prevenção à corrupção e falando de má gestão.

Folha Dirigida: A PreviRio vem sendo esquecida pelos governos. Há quase duas décadas (desde 2002), a instituição não abre concurso e, atualmente, segundo os conselheiros do órgão, depende de servidores cedidos para funcionar. Reoxigenar o quadro de pessoal da PreviRio, por meio de concurso, está nos seus planos? Como enxerga o fato de um órgão tão importante para a prefeitura estar sofrendo esse esvaziamento de seu quadro de pessoal?

Martha Rocha: Na verdade, o prefeito que sentar na cadeira em 2021 vai ter que fazer as suas escolhas. Primeiro, ele vai ter que ter um bom diagnóstico. Depois ele vai ter que fazer uma análise técnica desse diagnóstico. E, por último, fazer suas escolhas, pautando essas escolhas com a reserva orçamentária. Esse exercício, qualquer que  seja o prefeito ou prefeita, vai ter que fazer esse exercício.

As suas perguntas mostram um quadro bem preocupante. Temos problemas na saúde, no apoio da educação, na previdência, na fiscalização, na Comlurb. Então, vai ter que acontecer o que? Um bom diagnóstico, uma análise técnica e, feito isso, fazer a correspondência na rubrica orçamentária para atender todas essas demandas quando assim for possível.

Folha Dirigida: Há muito tempo a Prefeitura do Rio de Janeiro não abre concursos para fiscal de obras, fiscal de posturas e agente da defesa civil. Inclusive, algumas situações ocorridas evidenciam a importância dessas carreiras, como o desabamento de dois prédios no Condomínio Figueiras do Itanhangá, na comunidade da Muzema, em Jacarepaguá, no ano passado. Na sua visão, essas são carreiras que precisam da contratação de novos servidores públicos por meio de concursos?

Martha Rocha: Eu quero te responder isso não de uma forma genérica, mas de uma forma completa. Se houver designação pelo voto do carioca e o desejo de que eu seja prefeita dessa cidade, a primeira coisa que eu vou fazer é um diagnóstico. Analisar esses dados e apresentar medidas de recuperação financeira da cidade e medidas adequadas para otimizar a administração.

Seja o fiscal de renda, seja o gari, seja a merendeira, todas essas pessoas vão ter na prefeita a possibilidade de levar sua demanda para que analisemos e verifiquemos se é possível atender ou não. Aquele gabinete vai estar sempre aberto para o servidor público, não precisa marcar com secretário.

Folha Dirigida: Em quais outras áreas a senhora considera indispensável a abertura de concursos, a curto ou médio prazos, para a Prefeitura do Rio de Janeiro?

Martha rocha: Nós só podemos te dizer isso quando tivermos a noção exata de como está a composição dos órgãos da Administração. Mas eu quero destacar que, para mim, existem duas políticas estruturantes: Saúde e Educação. A cidade só vai bem se a saúde estiver bem e se a educação estiver bem. Então, fossemos estabelecer uma escala, essas seriam as prioridades. Mas, às vezes, você tem uma oportunidade em outro setor de resolver aquele problema mais rápido. 

Eu não quero ser chata e ficar repetindo, mas acho que não dá para fazer achismo ou propaganda enganosa. O que temos que ter aqui é o servidor saber: essa prefeita construiu sua trajetória profissional no serviço público e que vamos, sem dúvidas, valorizar o servidor público.

Folha Dirigida: Em campanha eleitoral, os candidatos a chefe do Poder Executivo fazem mil e uma promessas. No entanto, ao tomarem posse, alegam que o cenário econômico financeiro era muito pior do que se imaginava e que, em virtude disso, muitas de suas promessas de campanha e ações de investimento não poderão ser realizadas a curto ou médio espaço de tempo. Qual garantia a senhora pode dar que não usará desse expediente caso seja eleita?

Martha Rocha: A única garantia que eu posso te dar, não vou nem falar da minha palavra, porque eu acho que é um pouco mais que isso, eu vou pedir para as pessoas olharem para mim história e verificar que todos os lugares por onde eu passei. O voto é importante? Claro que ele é importante, mas o voto não pode ser conquistado a qualquer preço, a preço da mentira.

Acho que tem outra coisa que nessas entrevistas você deveria inserir, que é o compromisso do novo prefeito ou do atual prefeito, seja lá quem for, de não destruir aquilo que de bom foi construído pelo seu antecessor. O que é bom tem que continuar. Por que eu conto essa história? Eu conto essa história por causa do Ciep, porque o maior engodo eleitoral, a maior fraude foi a eleição de Moreira Franco, para governador do Estado do Rio de Janeiro. Ele disse que resolveria a segurança em seis meses, não resolveu, e destruiu o projeto dos Cieps. Ele não só não resolveu, como fez questão de destruir o projeto do Ciep.

Isso era o final da década de 80. Se nós tivéssemos mantido o projeto do CIEP, sem dúvida nenhuma, nós teríamos hoje uma realidade das nossas crianças e da nossa cidade totalmente diferente. Se o projeto for um projeto que traga bons resultados para a população da cidade do Rio de Janeiro, acho que deve ser respeitado.

Eu não estou falando de continuidade, eu estou falando de respeito ao cidadão, porque todo projeto nós usamos o dinheiro do cidadão que é recolhido através dos impostos. Então, respeitar o cidadão e manter a continuidade dos projetos que tragam realizações e benefícios ao povo carioca.