Suêd Haidar (PMB): "funcionário público vive magoado” pela desvalorização

Com um programa de governo estruturado na resiliência, humanismo e governança, se eleita, Suêd Haidar pretende dialogar com o setor público

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Publicado em:16/10/2020 às 09:00
Atualizado em:16/10/2020 às 09:00

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Em entrevista exclusiva à Folha Dirigida, a candidata à Prefeitura do Rio de Janeiro pelo PMB, Suêd Haidar, falou sobre a importância de valorizar o servidor público, da realização de concursos para por fim à corrupção, da necessidade de se ter uma governança transparente na cidade, além de apresentar propostas de concursos para as áreas de Segurança, Educação, Fiscal e Saúde. 

Confira na íntegra! 

Folha Dirigida: Por que a senhora deseja ser prefeita da cidade do Rio de Janeiro. Quais são os seus diferenciais em relação aos demais candidatos?

Suêd Haidar: Minha única diferença, eu posso te afirmar que é não estar no mesmo grupo que mantém a corrupção na cidade maravilhosa, que é o Rio de Janeiro. Quero ser prefeita da cidade do Rio de Janeiro para fazer uma gestão humanizada, uma gestão de compliance. Uma gestão que o Rio de Janeiro há alguns anos, há décadas, não teve e que deixaram a desejar.

E uma gestão que, pela primeira vez, uma mulher vai assumir a gestão da Cidade Maravilhosa, que é o nosso querido Rio de Janeiro. Tudo nós podemos fazer diferente: é só não entrar na rede da corrupção.

Folha Dirigida: Manter uma relação de harmonia com os governos federal e estadual é de suma importância para os municípios, sobretudo para captar investimentos para a cidade. Caso eleita, como pretende relacionar-se com o governador em exercício, Cláudio Castro, e o presidente Jair Bolsonaro?

Suêd Haidar: Não se faz gestão sem diálogo. Eu vou dialogar com o presidente da República, eu vou dialogar com o governador do Estado, eu vou dialogar com o setor privado. 
Vou chamar para compor nossa conselho a Firjan, o Senac como todos os outros para ter essa abertura do diálogo com o comércio. Vou dialogar com as instituições internacionais, com os governos internacionais. E gestão é dialogo. 

Folha Dirigida: Quais ações a senhora pretende desenvolver para valorizar os servidores públicos da cidade do Rio de Janeiro? No seu governo, eles terão um papel de protagonista?

Suêd Haidar: Só merecem, né. Hoje, o funcionário público vive magoado, com o coração dolorido. Por que? A máquina da corrupção passou em cima do direito do gestor, do saber do servidor. O funcionário público estudou, se preparou, se qualificou, passou por tantas privações para chegar aonde ele chegou. Aí chega a gestão, com a máquina da corrupção – porque quando eles ganham já fatiaram, já venderam o governo todo – para quê? 

Não pode trocar o secretário de saúde porque pertence a um determinado setor, pessoa que comprou lá atrás para financiar a campanha do senhor Crivella. E é por isso que não vendi e não vendo. Iremos tratar nosso funcionário público com muito respeito. Primeiro: formar uma escola de profissionais, inclusive da área da Educação. 

Dar condições dos nossos profissionais, funcionário público ter prazer de amanhecer na sua unidade, no setor que seja e atender a ponta, que é o usuário, com maior satisfação, porque ele está sendo reconhecido, valorizado, qualificado, requalificado, ele está tendo diálogo com seu gestor. E é dessa forma que nós iremos tratar o nosso funcionário público: com respeito! Porque além de ser funcionário público, ele é ser humano.

Folha Dirigida: É certo que a pandemia que atinge o mundo afetará a economia do país, com a queda de arrecadação. É possível, no atual momento, já traçar um cenário para o Rio de Janeiro, pós-pandemia, sabendo que o município do Rio se encontra em um momento de dificuldades, operando há dois anos acima do limite imposto pela Lei de Responsabilidade Fiscal?

Suêd Haidar: No primeiro dia de governo, vamos chamar todos os pares. A questão da arrecadação é muito séria. E como que nós vamos arrecadar para distribuir? É dando oportunidade. Trazer de volta as nossas empresas que saíram corridas daqui, em função das altas taxas que não respeitaram o brasileiros. As taxas estão absurdas, abusivas. As fiscalizações falsas. As blitzen falsas. E entram nas nossas lojas cobrando as propinas, porque tem que levar a gorjetinha para os secretários. 

E aqui vai dar certo, porque a nossa gestão será de compliance. Uma gestão anticorrupção. O mercado tem que acreditar. Ele vai voltar a ter o negócio dele e, assim, nós podemos servir a nossa população e servir o nosso mercado. Nós não vamos compactuar com esse sistema que está aí.

Folha Dirigida: O que precisa ser feito para que o Rio de Janeiro possa superar as atuais dificuldades econômicas, de forma que possa aumentar sua arrecadação, reduzir despesas e assim sair do limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal?

Suêd Haidar: A gente tem condições de rever a questão das taxas abusivas e do ISS. Não tem outro mistério. E querer fazer a coisa acontecer de verdade. 

Folha Dirigida: Há uma década não é feito concurso para fiscal de rendas da Prefeitura do Rio. Sabe-se que há apenas 202 fiscais na ativa, quando a lei estabelece 400. Pior: 30% do atual quantitativo estão para se aposentar. Na sua visão, contratar fiscais é um investimento e não uma despesa para os governos? Se for eleita, vai abrir concurso público para fiscais? 

Suêd Haidar: Contratar fiscais pode até ser um investimento. Mas, fiscal de renda, ele tem que ser concursado, preparado, sim. Sabe por que está há dez anos sem liberar concurso público para fiscal de renda? Porque vai comandar o setor de fiscalização da Prefeitura do Rio de Janeiro, geralmente, é o sistema, sãos os filhos, o parente, o deputado, o vereador que vai para lá para poder montar o esquema da gaiolinha de ouro.

E, aqui nós vamos tratar a gestão para o povo, com o povo e com resiliência.

Folha Dirigida: A senhora vai realizar concurso público para fiscal de renda já no primeiro ano de governo?

Suêd Haidar: Vamos realizar. Sem realizar concurso para fiscal de renda a gente não erradica esse sistema da corrupção, que está enraizado dentro daquela casa. E é por isso que, quando esse sistema não funciona para a sociedade, você vê lá na ponta, que isso reflete até no pequeno camelô. Então, você tem que preparar, qualificar as pessoas. Servidor público é que tem que tomar conta da fiscalização da cidade do Rio de Janeiro, como em qualquer cidade do nosso país. 

Folha Dirigida: Quais os principais projetos que pretende implementar na área da Educação?

Suêd Haidar: Vamos começar pelos nossos meninos. Educação tem que vir desde a primeira infância. E no meu governo, criança vai entrar na creche às 6h35 e sair às 19h35. Isto aí será a primeira rubrica da nossa querida Educação. Nós temos que desafogar, desobstruir esse bolsão de miséria é tendo esse compromisso. E isso daí só quem entende é mulher, como eu, que fundei várias creches nos anos 1980. 

Levantamos essa bandeira que está aí hoje. Fomos pioneiras na luta de nossas creches comunitárias, dentro das comunidades, das áreas periféricas, dos loteamentos.
Aos nossos professores, nós não podemos falar da Educação se não tratarmos bem os nossos professores, em primeiro lugar. Nós temos que construir uma escola de formação de professores. 

Na nossa gestão, os professores, os diretores, os faxineiros, os auxiliares não irão mais apanhar na cara de ninguém. Sabe por quê? Porque quem faz essa agressão é a gestão pública, é a má formação. Ir na raiz e cortar esse grande mal. 

Folha Dirigida: Pretende imprimir uma política de concursos públicos períodos para a área de Educação, tanto para o magistério como para carreiras da área de apoio, tais como agente educador e secretário escolar?

Suêd Haidar: Nossa gestão vai fazer um diagnóstico da realidade orçamentária para realinhar as contas públicas e, assim, tomar decisões para suprir necessidades de efetivo no governo. Mas defendo recuperar o papel do Estado e a valorização dos serviços públicos com o maior número de servidores estatutários.

Folha Dirigida: Para agente de preparo de alimentos da Comlurb, não é feito concurso desde 2011, já para merendeira da SME, há quase duas décadas. Considera fundamental abrir concursos para essas duas carreiras?

Suêd Haidar: Na Comlurb existe uma demanda em curso que é tornar estatutários os celetistas. Eu vou ouvir a categoria, dialogar com o Conselho de Governança Cidadã que vou criar com as categorias socioprofissionais e, assim após este exercício, tomar decisão. Quanto às merendeiras vou diagnosticar a demanda, a categoria, a situação do governo e seguirei com eles na decisão. 

Folha Dirigida: Ainda em relação à Comlurb, desde 2014 não se abre concurso para gari. E o pior é que entre 3 e 4 mil garis já reúnem condições de se aposentar. Esse é um dos concursos que ganharão prioridade em sua gestão?

Suêd: Preciso equilibrar as contas, verificar as condições de atendimento do efetivo atual e daí considerar as demandas da categoria para poder pensar em chamar concurso público. 

Folha Dirigida: Quais são seus projetos para a Guarda Municipal do Rio de Janeiro?

Suêd Haidar: Primeiro de qualificar melhor a guarda, reordenar suas funções específicas de atendimento à sociedade e garantir uma guarda amiga e protetora dos cidadãos.
Ampliar o efetivo, por meio da abertura de concurso, é um dos objetivos, sobretudo porque a corporação tem um elevado número de servidores com idade para se aposentar. Vou realinhar as contas e buscarei o equilíbrio.

Se o efetivo para atendimento da sociedade necessitar e tivermos condições de realizar concurso e contratar, faremos o que for o melhor para a categoria e a gestão.

Folha Dirigida: Na área de Saúde, sai governo e entra governo, e a população do Rio continua a sofrer com um atendimento deficitário, ocasionado, sobretudo, pelo déficit de pessoal, falta de estrutura nos hospitais? 

Suêd Haidar: Um diagnóstico profundo tem que ser feito no SUS. A parceria público-privada (PPP) é presente no governo e precisa ser tratada com atenção e responsabilidade, não substituindo o papel do governo por OS. Mas, entendo que as UPAS e as Clínicas da família precisam ser reestruturadas e cumprir sua missão no governo e um concurso para o setor de saúde é necessário.

Folha Dirigida: Ao longo dos últimos anos, a gestão dos hospitais por meio de OSs tem se mostrado deficiente (atrasos em contratos, atraso no pagamento de salários dos funcionários, hospitais sem insumos básicos e etc), sem falar em foco de corrupção. Se eleita vai abandonar de vez as OSs? Qual será o papel da RioSaúde em seu governo?

Suêd Haidar: Primeiro vou auditar todos os contratos. Criarei uma lista vermelha das empresas envolvidas em corrupção e desqualificação em alguma, implantarei o governo Digital e o Programa de Compliance, buscarei atender a demanda na saúde por concurso e realizarei PPP em caso de auxílio no setor. 

Folha Dirigida: A Previ-Rio vem sendo esquecida pelos governos. Há quase duas décadas (desde 2002), a instituição não abre concurso e, atualmente, segundo os conselheiros do órgão, depende de servidores cedidos para funcionar. Reoxigenar o quadro de pessoal da PreviRio, por meio de concurso, está nos seus planos? Como enxerga o fato de um órgão tão importante para a prefeitura estar sofrendo esse esvaziamento de seu quadro de pessoal?

Suêd Haidar: Falta de Governança e interesse em não governar com transparência. 

Folha Dirigida: Há muito tempo a Prefeitura do Rio de Janeiro não abre concursos para fiscal de obras, fiscal de posturas e agente da defesa civil. Na sua visão, essas são carreiras que precisam ser contratados novos servidores públicos por meio de concursos?

Suêd: Com certeza. Só concurso e fiscalização para combater a corrupção no setor.

Folha Dirigida: Em quais outras áreas a senhora considera indispensável a abertura de concursos, a curto ou médio prazos, para a Prefeitura do Rio de Janeiro?

Suêd Haidar: Após diagnóstico e equilíbrio das contas públicas, todas as áreas do governo que podemos realizar concurso e que sejam dependentes de decisões técnicas.

Folha Dirigida: Em campanha eleitoral, os políticos candidatos a chefe do Poder Executivo fazem mil e uma promessas. No entanto, ao tomarem posse, via de regra, alegam que o cenário econômico financeiro era muito pior do que se imaginava e que, em virtude disso, muitas de suas promessas de campanha e ações de investimento não poderão ser realizadas a curto e/ou médio espaço de tempo. Qual garantia a senhora pode dar que não usará desse expediente caso seja eleita?

Suêd Haidar: Meu governo tem três eixos estruturais: resiliência, humanismo e governança. E dois propósitos: garantir a participação popular através do Conselho Científico de Governança Cidadã e combater a corrupção pelo Governo Digital e o Programa de Compliance.