Empreendedores negros e menos escolarizados sofrem mais na pandemia

Restrições de atendimento, de circulação e acesso ao crédito afetam resultados

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Publicado em:07/07/2020 às 13:15
Atualizado em:07/07/2020 às 13:15

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Sebrae em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), de 29 de maio a 2 de junho, os empreendedores negros foram mais impactados pela pandemia do novo Coronavírus. Mais de 7,3 mil donos de pequenos negócios foram ouvidos.

Também foram mais afetadas as pessoas com escolaridade mais baixa. Mas a maioria delas também pertence ao grupo de pretos e pardos. 

Esses donos de negócios, com ensino médio ou menor escolaridade, demonstraram encontrar maior dificuldade em manter a operação de modo virtual e implementar ferramentas digitais de venda. Que foram essenciais durante o período de distanciamento social. 

Eles estão situados, em maior proporção, nos municípios que sofreram mais restrições de circulação, seja com lockdown ou fechamento parcial. Os empresários negros ainda possuem negócios mais novos em relação aos brancos. 

Essa foi a 4ª edição da pesquisa “O impacto da pandemia de Coronavírus nos pequenos negócios”. Foram entrevistados 7.403 empresários, sendo que, entre os empreendedores negros, a maior proporção (70%) é de Microempreendedores Individuais (MEI).

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Negros formam grupo jovem, majoritariamente feminino e com menor escolaridade

O grupo de empresários negros ouvido pelo Sebrae e pela FGV é, em sua maioria, mais jovem, formado por mulheres e com escolaridade de ensino médio ou inferior, nível menor em relação aos entrevistados brancos. 

Os negros também possuem negócios mais novos, com média de seis anos. Neste contexto, os empreendimentos mantidos por negros sofreram mais impacto na pandemia. 

A maioria (45%) não conseguiu funcionar, principalmente por atender somente de forma presencial. Ao contrário dos 40% dos empreendedores brancos que conseguiram continuar com os negócios com o auxílio de ferramentas digitais. 

Confira mais alguns dados obtidos na pesquisa:

  • 70% dos negócios conduzidos por negros estão localizados em municípios que tiveram fechamento parcial ou total dos estabelecimentos, enquanto 60% dos negócios liderados por brancos atuam em locais com restrições;
  • 39% dos empreendedores brancos possuem negócios onde houve maior reabertura, ao contrário dos negros, que são apenas 29%;
  • 46% dos negócios liderados por negros tiveram que interromper temporariamente o funcionamento, enquanto 41% dos negócios mantidos por brancos tiveram interrupção temporária.

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Empresária
Grupo de empreendedores majoritariamente negro, feminino e com baixa
escolaridade foi o mais impactado na pandemia, diz pesquisa (Foto: Reprodução)

 

Redução de faturamento também foi diferente entre os grupos

De acordo com o presidente do Sebrae, Carlos Melles, a redução do faturamento foi semelhante para brancos e negros, com 87% na queda mensal. Mas os empresários negros já possuíam um faturamento médio 39% inferior ao do dos brancos. Ele ainda destaca a dificuldade de acesso ao crédito.

“A dificuldade de acesso a crédito é um grande obstáculo enfrentado pelos pequenos negócios no momento, atingindo com mais força os empreendedores negros que, além de mais endividados (69%), tiveram mais recusa dos bancos.”

Enquanto 55% dos empreendedores brancos tiveram acesso ao crédito negado, entre os negros esse número é de 61%. Isso mesmo com o valor solicitado por negros, de R$28 mil, sendo 26% menor em relação ao solicitado por brancos.

Também é maior a proporção de negros com empréstimos (69%). Entre os que têm dívidas, dois em cada três estão em atraso (relação maior que a dos brancos).

Ambos os grupos pediram empréstimo em bancos em proporção semelhante, mas os negros tiveram maior recusa. O valor solicitado por empreendedores negros (R$28 mil) é 26% mais baixo do que o solicitado pelos brancos (R$37 mil).