Como ser uma empresa mais inclusiva para o público LGBTQI+?
Especialista lista dicas para empresas que desejam tornar seus ambientes mais inclusivos
Autor:
Publicado em:22/06/2020 às 06:00
Atualizado em:22/06/2020 às 06:00
A inclusão de pessoas LGBTQI+ no mercado de trabalho ainda é um desafio para as empresas brasileiras. Muitas companhias ainda não contam com uma cultura de acolhimento em seus ambientes internos, o que dificulta a integração dessas pessoas com os demais colaboradores.
No entanto, cada vez mais se intensifica a necessidade de transformação desse cenário. Segundo Keyllen Nieto, fundadora da Integra Diversidade, se as empresas que ainda não enxergam essas questões não mudarem, elas acabarão se tornando irrelevantes em um curto período de tempo.
"As pessoas LGBTQI+, ou de qualquer outro grupo minorizado, estão cada vez mais precisando e exigindo um ambiente no qual elas possam ser elas mesmas", destacou a ativista e especialista em temas LGBTQI+, juventude e gênero.
Keyllen listou algumas recomendações para as empresas que desejam tornar seus ambientes mais inclusivos para pessoas LGBTQI+. Em primeiro lugar, é importante entender que a sigla faz referência a diferentes grupos, cada um com suas próprias características. Entenda:
L: Lésbicas - mulheres que se identificam com seu gênero e tem preferência sexual por mulheres; G: Gays - homens que se identificam com seu gênero e tem preferência sexual por homens; B: Bissexuais - pessoas que têm preferência por dois ou mais gêneros; T: Trans (engloba travestis, transexuais e transgêneros) - pessoas que não se identificam com os gêneros que lhes foram atribuídos na hora do nascimento, baseados em seus órgãos sexuais; Q: Queer - pessoas que transitam entre os gêneros sem se identificar com rótulos; I: Intersexuais - pessoas não definidas distintamente como homens ou mulheres (hermafroditas); e +: outras letras, como A de assexual.
Especialista indica ações que ajudam a promover integração das equipes
(Foto: Pixabay)
Como desenvolver um ambiente inclusivo dentro da empresa?
A empresa que deseja fomentar uma cultura mais inclusiva em seu ambiente deve ter o cuidado de promover ações reais de formação, contando com o envolvimento de todas as áreas. Esse processo pode iniciar pelo RH, setor mais ligado às pessoas, mas deve incluir, também, áreas que geralmente ficam de fora dessas ações, como o setor de TI.
"Devem ser realizadas ações de promoção da diversidade dentro de uma perspectiva transversal. Se você comunica que a empresa preza por um ambiente diverso e inclusivo, ela deve ser capaz de acolher pessoas LGBTQI+ e de outras diversidades" enfatizou Keyllen.
O primeiro passo é, justamente, iniciar um trabalho interno, orientando sobre como as questões de diversidade e inclusão são importantes para a empresa. Os processos de seleção e recrutamento também devem ser repensados.
Os recrutadores devem saber usar a linguagem correta e entender quais perguntas não devem ser feitas, por exemplo. De acordo com a especialista, a linguagem inclusiva é fundamental na atração desses talentos diversos.
O conceito de linguagem inclusiva está atrelado a um vocabulário que evite afirmações preconceituosas e qualquer tipo de discriminação. O intuito é usar a linguagem como mais uma ferramenta para promoção da igualdade. Diante disso, alguns termos comumente usados devem ser evitados, como:
Termos que não deve usar
Termo correto
Opção sexual
Orientação sexual
GLS
LGBTQI+
Parceiro/casal homossexual
Casal homoafetivo
Mudança de sexo
Readequação de sexo e gênero
Outra dica é usar palavras neutras e evitar presunções, como supor que a pessoa é necessariamente casada com alguém do gênero oposto.
Keyllen chamou atenção para o fato de que muitas empresas numa tentativa de contratar pessoas mais diversas acabam desconsiderando se aquele candidato tem ou não o requerimento técnico necessário para exercer a função. Porém, tal atitude pode acabar gerando frustrações para o profissional, os recrutadores, para a equipe e a gerência.
"Acontece bastante de a empresa querer muito contratar pessoas diversas e desconsiderar as competências técnicas. Mas, acaba que se você não tiver um programa pré estabelecido de formação de competências, esse funcionário não vai dar conta das funções para as quais foi contratado", explicou.
Em casos de dúvidas sobre como proceder nesses processos de seleção, a especialista indica que as companhias busquem consultorias e sites especializados no assunto. A Integra Diversidade, por exemplo, atual na promoção dessas consultorias. Outra alternativa é o TransEmpregos, site que disponibiliza oferta de vagas para pessoas LGBTQI+ em todo o Brasil e oferece formações às empresas.
Empresa deve aprender a lidar com possíveis resistências
É comum que nesse processo de transformação existam resistências dentro do quadro de funcionários das empresas. Isso porque esse colaborador precisará enfrentar essas novas questões que estão sendo trazidas para seu ambiente de trabalho.
Ativista da causa, Keyllen Nieto destaca importância
de ações educativas (Foto: Arquivo Pessoal)
Além disso, a companhia deve entender que muitas pessoas não estão acostumadas a lidar com a diversidade no trabalho, nem no âmbito social. "Esse processo de passar a conviver com pessoas diferentes precisa ser feito sempre com cuidado, com ações afirmativas positivas e ressaltando os benefícios da diversidade", indicou Keyllen.
Outro ponto que pode ser destacado é o aprendizado pessoal e profissional que essa experiência pode proporcionar: "Quando você convive, trabalha e produz junto com pessoas diferentes de você, todos ganham em aprendizado, inclusive profissionais, aprendendo diferentes formas de ver os processos e diferentes formas de criar soluções."
Em conjunto com as ações educativas, a empresa deve estar aberta a entender os receios e resistências que algumas pessoas podem apresentar. Keyllen destacou que essas questões também precisam ser tratadas com acolhimento, mas sempre acompanhadas de medidas que possam ajudar no processo de transformação para que, no mínimo, mesmo as pessoas mais resistentes possam agir com respeito pela diferença das outras.
Uma iniciativa que pode ajudar é a formação de um comitê de diversidade, um grupo formado por representantes de diferentes tipos de diversidades (mulheres, negros, pessoas com deficiências, pessoas LGBTQI+) e aliados. A ideia é que esse comitê funcione como um promotor dessa cultura inclusiva e atue na resolução de conflitos, promovendo uma comunicação não violenta e ações educativas.
Também é importante a implantação de um canal seguro de denúncia, com a participação efetiva do setor jurídico. "É preciso entender quando as medidas educativas se esgotam e quando é preciso adotar medidas reparativas. Isso é importante dizer porque vivemos numa cultura muito politivista. Então, se acontece algo, as pessoas já querem, processar, mandar para cadeia, porém existem outras ações que podem ser promovidas", defendeu.
Por fim, as equipes gestoras também precisam ser capacitadas e entenderem os conceitos de uma liderança inclusiva. O objetivo é que esses gestores não só trabalhem na integração das pessoas LGBTQI+ com suas equipes, mas saibam mediar conversas e possíveis conflitos.
Atento tem como uma de suas missões a promoção da diversidade
A Atento, empresa de serviços de gestão do relacionamento com clientes e processos de negócios, trabalha para construir um ambiente inclusivo para seus colaboradores. As ações se estendem desde o momento da contratação até o dia a dia na empresa.
"Não aceitamos nenhum tipo de discriminação, seja de gênero, raça, sexualidade, religião, vestimenta, idade, entre outras. O importante para nós é criar um espaço onde o respeito e a valorização do diferente predomine", destacou Ana Márcia Lopes, vice-presidente de Recursos Humanos, Responsabilidade Social e Ouvidoria da Atento.
Ana Márcia explicou que, este ano, foi criado o Grupo Aliado LGBTI+ (grupo de Afinidade). O grupo conta com integrantes de diferentes áreas e cargos e a principal proposta é que estes colaboradores possam propor atividades e ações para promover ainda mais o tema diversidade na Atento.
A empresa mantém uma parceria com o Transempregos e participa de feiras de empregabilidade Trans, divulgando suas vagas. O intuito é atrair mais profissionais trans para integrar seu quadro de funcionários.
"Realizamos, ainda, o Atentos ao Futuro, uma iniciativa que faz parte do nosso Programa de Voluntariado e que possibilita a capacitação de pessoas em situação de vulnerabilidade social, com a possibilidade de participação nos processos seletivos da Atento. O que nos possibilita a integração de profissionais que, por vezes, sentem dificuldades em encontrar oportunidades no mercado" ressaltou.
Algumas iniciativas também foram adotadas nos últimos anos para tornar os espaços dentro do ambiente corporativo ainda mais inclusivo e agradável a todos. Desde 2013, por exemplo, foi estabelecido o uso dos banheiros de acordo com a identidade de gênero. Sendo assim, fica a critério do colaborador escolher aquele que quer utilizar, de acordo com a sua identificação.
Em 2014, foi criado o crachá social, documento que leva o nome com o qual o colaborador mais se identifica, não necessariamente o que consta em seu RG ou em sua certidão de nascimento. O uso do nome social foi ampliado para o endereço de e-mail corporativo e em benefícios como vale-alimentação e vale-refeição.
Os funcionários também são estimulados a utilizarem roupas associadas ao gênero com o qual mais se identificam, incentivando um cenário de liberdade e sem limitações de dress code.
Atento promove diálogos sobre valorização da diversidade
Além das iniciativas já citadas, a Atento participa ativamente do Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+. "Temos diversas campanhas internas de inclusão e conscientização para os colaboradores LGBTs. Há também campanhas de comunicação ao longo de todo o ano, em grande parte, protagonizadas pelos colaboradores."
Todos os anos, a empresa promove o mês da diversidade, cujo tema é: Somos Todos Atento, Somos Todos Diversos. Algumas ações já estão previstas para este mês e início de julho, por conta do Mês do Orgulho LGBTI+. Entre elas:
Cartilha sobre saúde mental para o público LGBTI+;
Peça informativa sobre serviço de saúde e acolhida;
Concurso de fotos;
Vídeo de depoimento; e
Programa na rádio Atento com foco na temática LGBTI+.
Ainda em homenagem ao mês do orgulho LGBTQI+, a Atento mudou sua logo nas Redes Sociais. Segundo Ana Márcia, as iniciativas e políticas de inclusão e a cultura de diversidade nasceram com a Atento, que neste ano completa 21 anos.
"Com foco em nossos colaboradores e em uma cidadania responsável, sempre estivemos à frente de políticas e legislações implementadas. Nossos desafios são a ampliação do desenvolvimento pessoal e profissional de nossos colaboradores, além de promoção da diversidade, engajamento ao voluntariado e inclusão social nas comunidades em que estamos inseridos."
A vice-presidente de Recursos Humanos da empresa ainda reforçou que a Atento sempre enxergou a diversidade como um ativo estratégico para a organização. Por meio dela, a companhia consegue desenvolver o potencial das pessoas, multiplicar as oportunidades de aprendizagem, a capacidade de inovação e melhorar significativamente sua capacidade de adaptação ao ambiente.