Especialistas avaliam o mercado de trabalho pós-Coronavírus

Profissionais devem se preparar para lidar com as mudanças pós-pandemia

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Publicado em:06/04/2020 às 15:26
Atualizado em:06/04/2020 às 15:26

O novo Coronavírus já traz impactos não só para a saúde pública, como também para a economia mundial. E, diante da pandemia, uma das principais preocupações é com o mercado de trabalho e como profissionais e empresas irão passar por este momento.

Para entender os possíveis reflexos em um mercado de trabalho pós-Coronavírus, a FOLHA DIRIGIDA conversou com especialistas de Recursos Humanos, que já projetam os impactos a longo prazo. 

De acordo com o CEO da Gi Group Brasil - multinacional de Recursos Humanos -, Carlos Martins, a crise que o novo Coronavírus provocou, nunca antes foi vista na história recente.

"É uma crise mundial, inicialmente sanitária, mas que se transforma em política e econômica com proporções ainda desconhecidas. As medidas de distanciamento social paralisaram grande parte dos setores e os impactos ainda não são mensuráveis, mas precisaremos nos adaptar ao 'novo normal'", diz.

Para a diretora de Operações da Catho, Regina Botter, diante de tantas transformações e dúvidas acerca do mercado de trabalho, durante e após a
pandemia, "adaptação" deve ser a palavra-chave para esse processo.

"No entanto, ainda que neste primeiro momento pareça distante de muitos, situações de crise também levam à oportunidades. É inerente ao ser humano, quando desafiado, procurar soluções criativas. E, isso não é diferente com as empresas, que são formadas por pessoas", avalia.

Assim como ela, Carlos Martins acredita que a flexibilidade, o pensamento criativo e a capacidade de agir, com senso de urgência, farão parte do nosso cotidiano nessa nova dinâmica do mundo corporativo.

"A abertura para 'pensar fora da caixa' e propor soluções inovadoras precisa fazer parte desse momento. A Nutella só foi desenvolvida por conta da falta de cacau na Europa (após a Segunda Guerra Mundial). Esse precisa ser o novo mindset!", explica o CEO.

 

Demissão e redução salarial: como lidar?

Apesar da necessidade de se reinventar, muitos profissionais já precisam lidar com a perda de seus rendimentos devido aos impactos da pandemia. São eles trabalhadores informais e microempreendedores individuais (MEI), recém demitidos e funcionários que tiveram suas jornadas e salários reduzidos.

Para os que perderam o emprego, Carlos Martins avalia que, mesmo diante das dificuldades, esse pode ser um momento de oportunidade. Para ele, o profissional precisa pensar nas áreas que ainda estão contratando ou buscando novas soluções.

"Por exemplo, que tipo de solução você tem ou sabe que pode ajudar na crise? Essas reinvenções e foco nas necessidades do mercado podem gerar renda extra para si e para a família até o novo cenário se desenhar. Ou, quem sabe, esse novo negócio não cresce e você se torna seu próprio gestor?", explica.

Mercado de trabalho pós-Coronavírus promete desafios (Foto: Agência Brasil)
Especialistas avaliam o mercado de trabalho pós-Coronavírus
(Foto: Agência Brasil)

 

Já para Regina Botter, os profissionais à procura de emprego, neste momento, devem se manter ativos na busca por uma oportunidade. Como parte das organizações estão atuando também remotamente, os processos de seleção estão sendo feitos de forma virtual.

"Aqui na Catho, por exemplo, temos vagas internas abertas, e mantivemos as seleções, com o recrutamento, contratação e onboarding acontecendo 100% remotos. Ainda segundo dados de pesquisa da Catho, 50% dos profissionais de RH acreditam na efetividade do processo seletivo online durante a quarentena", afirma.

Para lidar com a crise, de forma geral, o CEO da Gi Group Brasil preparou algumas dicas para este momento.

A crise é transitória: tenha equilíbrio mental e físico para ultrapassar este período;

Tempo: se a ociosidade for um tema neste momento, aproveite para se capacitar com cursos online, que muitas vezes são gratuitos, e busque abusar da criatividade para contribuir de forma a adicionar valor para a empresa.

Governo divulga plataforma com 674 cursos online e gratuitos

Finanças: seja compreensível com o contexto mundial e, por vezes, tenha em mente a necessidade de redução de receitas e custos transitoriamente. Neste sentido, cabe priorizar o planejamento das finanças pessoais, verificar a nova realidade de renda que pode ter sido reduzida e ajustar os gastos a este novo cenário.

Consumo: é importante reduzir as idas aos estabelecimentos comerciais e, quando o fizer, já estar munido da lista de compras, observando produtos em promoção e vegetais e hortaliças de época que costumam ser mais baratos. Lembre-se que um período maior de trabalho a partir de casa resulta em consumo superior de água, energia, entre outros gastos.

Novos modelos de contratos

Com a Reforma Trabalhista, diversos modelos de contratos se tornaram mais habituais no mercado de trabalho. Com a pandemia da Covid-19, as mudanças tendem a ser cada vez mais constantes em um período pós-Coronavírus.

De acordo com o CEO da Gi Group Brasil, a flexibilização deve ser a palavra do mercado. Portanto, existe a possibilidade de ampliar as opções de contrato.

"O mundo está evoluindo muito rápido e, com a pandemia atual, muitas empresas tiveram que passar por uma transformação digital abrupta. Isso significa que tiveram que se reinventar, investir em tecnologia, trabalhar com a equipe remota (home office) com eficiência, motivação e engajamento, cuidando da saúde dos profissionais", explica.

Após a crise, o CEO acredita que tanto o governo quanto empresários e trabalhadores estarão mais dispostos a experimentar novas formas de trabalho, já que a experiência do momento está exigindo repensar os modelos antigos.

"Por outro lado, a informalidade é uma marca do nosso mercado de trabalho. Infelizmente, a reforma trabalhista de 2017 não foi suficiente para diminuir essa realidade. Será necessária uma mudança na legislação suficientemente robusta e clara que sustente a tomada de decisão".

Ainda segundo o gestor, ao final da crise, a dicotomia risco versus segurança jurídica é o que acabará por modular o tipo de contratação conforme a demanda empresarial.