É difícil inserir profissionais negros no mercado financeiro?
Iniciativas incentivam, capacitam e conectam profissionais negros ao setor financeiro. Em contrapartida, bancos investem em promoção da diversidade.
Autor:
Publicado em:23/10/2020 às 19:37
Atualizado em:23/10/2020 às 19:37
Recentemente, uma fala da cofundadora do Nubank, Cristina Junqueira, acabou tendo uma repercussão negativa. Em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, a executiva disse ser "difícil" contratar líderes negros, devido a alta exigência para esses cargos do banco.
Sobre a contratação de minorias, ela ainda disse que não poderia "nivelar por baixo" e que esses profissionais não conseguiriam trabalhar com os outros times da empresa. Após críticas, Junqueira publicou um vídeo pedindo desculpas.
"Queria pedir desculpas, [porque] acho que não me expressei da melhor maneira. É super importante a gente ter uma comunicação clara. Queria agradecer todo o feedback que está vindo, a repercussão que isso está tendo porque todo mundo tem o que aprender", disse.
No entanto, esse episódio coloca luz em uma questão: existe dificuldade em inserir negros no mercado de trabalho, especialmente no setor financeiro? Como 54% da população brasileira é negra, a falta de pessoas não é uma justificativa.
Existem algumas iniciativas que visam mudar esse quadro e uma delas é a Financial Black Network, que foi criada em 2019 pelos estudantes Isabella Silva, Larissa Rodrigues e Jonathan Fernandes.
A Financial é uma rede do mercado financeiro brasileiro e o seu objetivo é incentivar networking entre estudantes e profissionais negros. A iniciativa conta com o apoio de grandes instituições financeiras que querem ajudar na construção de um mercado mais diverso.
"Nossa meta é auxiliar com ações objetivas a preparação de jovens negros para o mercado financeiro nos níveis de entrada", diz descrição da FBN.
Bancos investem no combate à desigualdade racial
Líder mundial de serviços financeiros, JPMorgan Chase investe em iniciativas para promoção da equidade racial e o combate da desigualdade. Segundo o New York Times, o banco anunciou, neste ano, US$30 bilhões para empréstimos e outros investimentos para as comunidades negras e latinas dos EUA.
“Nós podemos fazer mais e melhor para quebrar os sistemas que propagaram o racismo e a desigualdade econômica”, disse Jamie Dimon, diretor executivo da instituição.
No Brasil, o Itaú é uma das empresas que integram a Coalização Empresarial pela Equidade Racial e de Gênero. Em 2017, o banco fez um compromisso público, por meio de uma carta, com a promoção da diversidade.
"Trabalhamos para que a representatividade racial seja uma realidade. O objetivo é aumentar a representatividade em todos os níveis de cargo, fazendo com que todos os colaboradores sejam desenvolvidos e tenham as mesmas oportunidades", afirma o Itaú.
Após a fala da VP, o Nubank explicou que promove ações de diversidade racial que se baseiam em três pilares: "trabalhar lideranças, aumentar a contratação de grupos sub-representados e investir em formação de talentos".
Segundo publicação feita pela fintech, neste ano, foi montado um time para rever os processos de contratação, de forma que possam ser mais inclusivos e representativos.
"Sabemos que formar mais talentos é importante, mas entendemos também que é preciso mudar a nossa forma de recrutar. Por isso, em 2020, durante a pandemia, montamos um time dedicado a rever os nossos processos de contratação e garantir que eles sejam mais inclusivos e representativos para diversos recortes", relatou o Nubank.
Conforme dito pelo Nubank, para poder aumentar a diversidade nas equipes, é preciso compreender o racismo estrutural e, dessa forma, agir intencionalmente para desarmar as armadilhas presentes durante os processos de avaliação.
Qual o caminho para diminuir as desigualdades?
O fim da desigualdade racial ainda está longe de se tornar realidade, mas o caminho para mudar esse quadro é através das oportunidades. Durante o evento Cidadão Global 2020, a atriz Viola Davis explicou sobre a importância de se criar oportunidades para que as pessoas atinjam seus objetivos:
"Se não há oportunidades, você é invisível. Não importa o quanto você trabalha, o quanto você é talentoso. Todas as pessoas com grandes potenciais vão para o túmulo. Se não criamos espaço para todos trazerem seu potencial interior, ideias, talentos e inteligência, não vamos saber que as pessoas existem. Uma pessoa que ganhou cinco Oscars teve os papéis que tornaram isso possível. Sem eles, estaria apenas nadando no oceano", disse a atriz.