Mesmo com pacto, empresas têm apenas 6% de negros nas lideranças

Indicador elaborado em parceria com a Faculdade Zumbi dos Palmares aponta que empresas têm apenas 6% de diretores negros.

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Publicado em:20/11/2020 às 09:20
Atualizado em:20/11/2020 às 09:20

A inclusão e ascensão de pessoas negras no mercado de trabalho tem avançado, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido: a participação de negros em cargos de diretoria e nos conselhos de administração em algumas empresas é de apenas 6,6%.

O dado é do Índice de Inclusão Racial Empresarial (IIRE). O indicador foi lançado no último dia 18 de novembro e desenvolvido com o DataZumbi, instituto de pesquisas da Universidade Zumbi dos Palmares. 

A pesquisa considera 23 empresas multinacionais que firmaram um compromisso de se engajar no tema, participando da Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial. Porém, de apenas 29% dos profissionais negros, um percentual ainda menor (6,6%) ocupa cargos de diretoria e conselho. [tag_teads]

Nos últimos anos, a Iniciativa tem liderado diversas pesquisas com o objetivo de fazer um diagnóstico da situação. A entidade nota que, após anos de omissão e reprodução das desigualdades, o empresariado tem se conscientizado cada vez mais sobre igualdade racial. 

“Os resultados têm sido positivos tanto do ponto de vista de maior representatividade destes profissionais no mercado de trabalho, quanto do desempenho financeiro das empresas. No entanto, há ainda um longo caminho a ser percorrido.”

É que nos estudos liderados pela Iniciativa Empresarial pela Igualdade, as mesmas perguntas continuam sem uma resposta clara: por que a representatividade de negros nas empresas continua muito aquém da sua representatividade na população brasileira? E por que não conseguem ascender os níveis hierárquicos mais altos nas organizações?

A entidade diz que o ponto é que as pesquisas e estudos realizados até agora no Brasil têm focado unicamente na elaboração de diagnósticos. “O que não faltam são números para ilustrar as enormes injustiças e desigualdades raciais no país.”

E sim, esses dados são fundamentais, mas não têm sido suficientes para estimular soluções efetivas de combate às desigualdades raciais no mercado de trabalho brasileiro. A Iniciativa defende que é preciso alterar a lógica de incentivos e criar uma “competição positiva em torno do tema”.

Negros ainda têm mais dificuldade para chegar a cargos de liderança
Negros ainda enfrentam mais dificuldades para chegar a cargos de liderança
(Foto: Reprodução/ Canva)

P&G, Vivo e Bradesco lideram ranking de inclusão racial

As empresas que participam da iniciativa são companhias de diversos setores, como telefonia, hipermercados, fabricação de peças elétricas, consultoria, petrolífero, bebidas e bancário.

As mais bem avaliadas nesta primeira edição foram P&G, Vivo e Bradesco.  Vale destacar que os critérios de avaliação da pesquisa incluem recenseamento de funcionários, recrutamento, capacitação e ascensão profissional. 

Confira o top 5:

P&G
Vivo 
Bradesco
Ambev
Bristol-Myers Squibb e Intel

Mas a presença de pessoas negras nessas empresas aumenta percentualmente em cargos de menor responsabilidade. O percentual sobe para 18,7% nas gerências e chega a 31,6% entre os trainees e aprendizes.

O que + você precisa saber:

Engajamento ainda é desafio dentro das empresas

Das 23 participantes do IIRE, 19 afirmaram ter comitês específicos para debater a diversidade racial no ambiente corporativo. E 16 organizam eventos periodicamente para discutir o tema. Nove possuem projetos de treinamento e formação permanentes a respeito da pauta.

Porém, um ponto levantado por elas foi a dificuldade para implementar essas ações de conscientização sobre a questão racial por conta do baixo engajamento dos trabalhadores nas discussões. 

Um insight importante: quando as lideranças e diretorias das empresas se envolvem pessoalmente nesses processos, a adesão entre os colaboradores tende a ser maior. O que reforça a importância da participação dos líderes no processo de inclusão racial. 

Seis empresas disseram ter programas com metas voltadas para garantir a ascensão de pessoas negras na hierarquia da companhia. Mas o restante (40%) não tem esse tipo planejamento estruturado e afirma que uma das principais dificuldades é justamente estabelecer os objetivos quantitativos e qualitativos desses processos.

 

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