Mulheres na Ciência: premiação incentiva pesquisadoras

Mulheres ainda são minoria na pesquisa e representam 40% de pesquisadores com doutorado no Brasil. Conheça a história da cientista Vivian Costa.

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Publicado em:11/09/2020 às 16:00
Atualizado em:11/09/2020 às 16:00

Mulheres ainda são minoria no campo da pesquisa. De acordo com dados da Plataforma Lattes levantados pela Open Box da Ciência, elas representam 40% de 77,8 mil pesquisadores com doutorado no Brasil, mais especificamente 31.394 doutoras.

“Ter mais mulheres na Ciência significa ter mais representatividade e, consequentemente, mais estímulo à formação de novas gerações”, declara a pesquisadora Vivian Costa, professora adjunta do Departamento de Morfologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A microbiologista pesquisa soluções para tratar e identificar doenças virais, inclusive o Coronavírus. Ela foi uma das sete ganhadoras do programa “Para Mulheres na Ciência”, iniciativa fruto de parceria entre a L’Oréal Brasil, a Unesco do Brasil e a Academia de Ciências do Brasil (ABC).

Há 15 anos, a premiação contempla jovens pesquisadoras das áreas de Ciências da Vida, Ciências Físicas, Ciências Química e Matemática.

A trajetória de Vivian Costa começou na faculdade de Fisioterapia, aos 17 anos. A vontade de ingressar na área da Saúde surgiu por conta da ajuda que dava a mãe e a tia com os cuidados do avô, que havia sofrido um AVE (Acidente Vascular Encefálico ou derrame).

Mas, logo no início da faculdade ela percebeu que a clínica não era sua área, o que a levou a revezar a graduação com a Pesquisa na UFMG. Sua principal linha de pesquisa é a Dengue, que já a fez ganhar prêmios de melhor dissertação e tese dentro da própria universidade, além do doutorado e pós-doutorado em Cingapura.

 

A cientista Vivian Costa iniciou a trajetória na faculdade de Fisioterapia, mas logo percebeu que a pesquisa era sua vocação
A cientista Vivian Costa iniciou a trajetória na faculdade de Fisioterapia,
mas logo percebeu que Pesquisa era sua vocação (Arquivo Pessoal)

Quando voltou ao Brasil, em 2015, chegou no auge da epidemia de microcefalia. Como o vírus da Zika era muito parecido com o da Dengue, propôs ao seu orientador de pós-doutorado desenvolver modelos experimentais in vitro e in vivo que permitissem o estudo dessa nova doença.

Depois de aprovada para a vaga de professora adjunta em 2017, devido a sua pesquisa do Zika, pode estender a sua pesquisa aos vírus Chikunguya, Mayaro, Febre Amarela e, atualmente, COVID-19.

A pesquisa de Vivian Costa envolve o estudo da inflamação no contexto de doenças infecciosas virais. Abrange áreas da Microbiologia, Biologia celular e Imunologia, com ênfase em imunologia celular, virologia e interação microrganismo-hospedeiro, atuando, especialmente, em imunopatologia da infecção dos seguintes vírus:

  • Dengue
  • Zika
  • Chikungunya
  • Marayo
  • Febre amarela
  • Vírus da hepatite murina (MHV)
  • SARS-Cov2

A professora também pesquisa artrites virais e autoimunes; com ênfase no desenvolvimento de modelos in vitro (em células) e experimentais (incluindo o modelo humanizado, tecnologia trazida de Cingapura durante o primeiro estágio pós-doutoral) para estudo da patogênese e teste de novas terapias contra essas doenças.

Para Vivian Costa, o prêmio representa uma validação de que está no caminho certo, buscando desenvolver pesquisa de qualidade mesmo diante das dificuldades financeiras e estruturais impostas aos Institutos e estudantes da universidade.

“Ele me enche de orgulho e ânimo para continuar trabalhando duro e incentivando ainda mais as novas gerações a se tornarem cientistas e formadores de opinião. A Ciência é a base de todas as respostas e precisa ser incentivada sempre”, afirma.

Vivian Costa diz nunca ter sofrido preconceito por ser uma mulher pesquisadora, e se sente privilegiada por sempre ter sido tratada com respeito em um mundo onde a desigualdade entre os gêneros ainda seja comum.

Ainda assim, ela vê a sua experiência como uma exceção à regra. Algo que a impactou foi que, das sete premiadas, ela é a única que é mãe, de um bebê de 11 meses.

Incentivo às futuras gerações de cientistas mulheres

Desde que foi premiada, Vivian Costa recebeu diversos e-mails com parabéns de ex-alunos da graduação. A felicidade dos estudantes a fez perceber que ela pode sim ser uma inspiração.

“Senti de perto o quanto iniciativas como essas são fundamentais para influenciar e incentivar novas gerações”, diz a pesquisadora.

Para a cientista, prêmios como esse demonstram que mulheres também permeiam por essas áreas e que representatividade importa.

“Como em qualquer profissão acredito que devemos trabalhar duro, traçar metas bem definidas a curto, médio e longo prazo”, explica. “Esse caminho, no entanto, necessita ser guiado por profissionais experientes, incluindo mulheres, a fim de promover o direcionamento correto desses estudantes.”

Nas áreas de Ciências Biológicas e Ciências da Vida, segundo a cientista, há mais mulheres atuando do que homens. No entanto, quando se fala em convidados para dar palestras, por exemplo, são convidados muito mais pesquisadores homens do que mulheres, cerca de cinco vezes mais.

Para ela, isso representa um preconceito em enxergar mulheres em posições altas. Vivian Costa acredita que deva haver igualdade em qualquer área, independentemente de gênero, raça ou classe social.

É importante entender (e destacar) que mulheres podem sim se desenvolver em qualquer lugar, especialmente no âmbito da Ciência.

 

 

Como a pesquisa pode contribuir no enfrentamento à pandemia da COVID-19 no Brasil

Quando compararam dados de pacientes com Dengue grave e COVID-19, por exemplo, foi observado que essas pessoas compartilham componentes fisiopatológicos em comum. Isso significa que foi possível aplicar o conhecimento obtido em pesquisas com outras doenças virais já estudadas no laboratório e em fases mais avançadas no estudo da COVID-19.

São usadas estratégias como reposicionamento de fármacos - avaliar a aplicabilidade de uma droga já aprovada para um tipo de doença na COVID-19 -, e utilização de técnicas implementadas para outras infecções virais.

Essas técnicas permitem a obtenção de resultados mais rápidos, que podem contribuir diretamente para as respostas emergenciais que a pandemia requer. 

Para a cientista Vivian Costa, tem sido prazeroso e importante poder ajudar nessa corrida contra o tempo.

“A pesquisa que faço não é imediata. Trata-se de pesquisa básica, que leva tempo. No entanto, não é menos importante que a pesquisa clínica. Acredito que cada um deve exercer sua contribuição, pois. no final, todo o resultado decorre de um conjunto de resultados”, justifica.

O prêmio traz visibilidade e permite que mais pessoas conheçam o trabalho da pesquisa. Isso permite a geração de novas interações e consequente melhora do trabalho desenvolvido.

De maneira direta ou não, isso reflete na geração de soluções para a pandemia, sejam elas a curto, médio ou longo prazo. E ainda que não vá ser usado agora, esse conhecimento com certeza poderá ser aplicado em outras pandemias ou na tentativa de evitar a ocorrência de novas pandemias.