Chamados de 'nem-nem', a população de jovens fora do mercado e das instituições educacionais cresceu durante a pandemia e atingiu contingente recorde.
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Publicado em:22/10/2020 às 17:45
Atualizado em:22/10/2020 às 17:45
Com a pandemia, houve aumento no número dos chamados "nem-nem", que são os jovens que estão fora do mercado de trabalho e das instituições educacionais. As informação são de um levantamento feito pela FGV Social.
Entre as pessoas de 20 a 24 anos que estão nessa situação, o contingente passou de 28,6%, no último trimestre de 2019, para 35,2%. Esse é o maior patamar já visto, além de ser o maior avanço registrado em um intervalo tão curto (seis meses).
Já na faixa etária de 25 a 29 anos, a população de 'nem-nem' subiu de 25,5% para 33%. Segundo o economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social, a situação é preocupante, pois está ligada à desigualdade educacional e à dificuldade de inserção dos recém-formados no mercado.
"O problema está no mercado de trabalho, principalmente para os que estão se formando. Junta-se a crescente desigualdade educacional com a dificuldade dos jovens formados de se inserir no mercado de trabalho", alerta Neri.
Apesar da paralisação das aulas, o avanço dessa população não se deu por redução na frequência escolar. Inclusive, a escolarização aumentou durante o período, porém não o suficiente para compensar o desemprego.
O economista afirma que os jovens conseguiram lidar melhor com o estudo digital, principalmente os mais velhos. Entre 20 e 24 anos, a frequência foi de 26,1% para 29,1%. Já entre 25 a 29 anos, subiu de 13,1% para 14,2%.
"Se não tem emprego, o jovem continua a estudar. Já os adolescentes têm um bom manejo de internet e se saiu melhor que a faixa etária entre 6 a 15 anos no ensino virtual. Em termos de frequência escolar, o ensino juvenil foi menos afetado que o do grupo de crianças", afirma Neri.
Na pandemia, cresce número de jovens que não estudam e nem trabalham
(Foto: Freepik)
Quais são os efeitos da pandemia no mercado de trabalho?
Segundo dados da FGV Social, no primeiro trimestre da pandemia, a renda individual do trabalhador brasileiro - incluindo informais e desempregados - apresentou queda média de 20,1%. Em contrapartida, a desigualdade, medida pelo índice de Gini, subiu 2,82%.
Criado pelo matemático italiano Conrado Gini, o índice de Gini é um instrumento que mede o grau de concentração de renda.
Na metade da população mais pobre, a queda de renda foi de 27,9%, enquanto entre os 10% mais ricos essa retração foi de 17,5%. Analisando por grupos sociais, os indígenas foram os mais afetados, com perda de 28,6%. Em seguida, estão os analfabetos (-27.4%) e os jovens entre 20 e 24 anos (-26%). T
Em relação às unidades federativas e suas capitais, todas apresentaram quedas de renda do trabalho. As localidades mais afetadas foram Pernambuco e Recife.
A queda de renda média do brasileiro foi de 20,1% e o principal impulsionador desse resultado foi a redução da jornada de trabalho. Porém, sem essa medida, era estimado que a taxa de ocupação caísse 22,8%. Com ela, a taxa caiu 9,9%.