Os desafios e benefícios do empreendedorismo feminino no Brasil
Vanessa Medeiros, head de produtos da BizCapital, fala de ações que o Brasil pode promover para incentivar o empreendedorismo feminino no país.
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Publicado em:15/03/2021 às 14:00
Atualizado em:15/03/2021 às 14:00
Um levantamento divulgado recentemente pela BizCapital, fintech de soluções financeiras para micro e pequenas empresas, traz um panorama sobre o empreendedorismo feminino no Brasil.
O estudo foi realizado a partir de duas premissas: empresas com, ao menos, uma mulher no quadro societário, e empresas onde uma mulher detém, pelo menos, 50% da sociedade do negócio.
Os dados foram obtidos por meio da base de clientes da BizCapital e afirmam que 45% das empresas brasileiras apresentam, ao menos, uma mulher sócia; enquanto 30% das empresas são controladas por mulheres que possuem mais de 50% da sociedade. Enquanto isso, apenas 4% das empresas têm duas ou mais mulheres como sócias.
Segundo o relatório apresentado, os três principais segmentos de empresas com sócias mulheres são:
Vestuário e acessórios;
Restaurantes e similares; e
Mercados em geral.
Os três principais segmentos de empresas controladas por mulheres são:
Vestuário e acessórios;
Restaurantes e similares; e
Serviços de contabilidade.
A Região Sul apresenta o maior percentual de empresas com mulheres sócias (45,8%), seguida pela Região Centro-Oeste e Sudeste, com 44,4% e 44,2%, respectivamente. As Regiões Norte e Nordeste apresentam o percentual de 37,6% para a mesma categoria.
Para o cenário de empresas controladas por mulheres, os percentuais ficam bem próximos, conforme a seguir:
Região Norte: 27,6%
Região Nordeste: 24,6%
Região Centro-Oeste: 27,6%
Região Sudeste: 27,4%
Região Sul: 26,2%
Vanessa Medeiros, head de produtos da BizCapital, comenta que o empreendedorismo feminino ajuda na diminuição da desigualdade de gênero e no rompimento de barreiras sociais estabelecidas historicamente, que ainda estão presentes nos dias atuais.
De acordo com a executiva, apesar de vivermos em uma sociedade com direitos iguais, isso não se traduz em oportunidades iguais para homens e mulheres.
"Atuando em uma fintech de crédito para empresas, consigo comprovar no nosso dia a dia que a maior parte dos nossos clientes são homens. Temos, aproximadamente, o dobro de homens empreendedores comparados às mulheres. Considerando, ainda, que vivemos em um país com aproximadamente 51% de mulheres, temos um enorme contingente que poderia contribuir para o nosso desenvolvimento, gerando empregos, inovações e um ambiente mais diverso para o empreendedorismo brasileiro."
Vanessa cita algumas ações que o Brasil precisa investir para incentivar as mulheres a empreenderem:
Reformulação da lei trabalhista para garantir licenças paternidade e maternidade de mesma duração;
Criação de programas de capacitações e trocas de experiências entre mulheres empreendedoras;
Incentivo de mulheres na política e em cargos de liderança.
O impacto da pandemia no empreendedorismo feminino
A pandemia do novo Coronavírus trouxe diversas incertezas para as empresas, para os profissionais, para o mercado de trabalho e para a economia de modo geral. Quando falamos de empreendedorismo feminino, os impactos da crise sanitária não foram diferentes.
Uma pesquisa realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) mostra que a pandemia foi responsável por reduzir a proporção de mulheres no empreendedorismo.
No terceiro trimestre de 2020, por exemplo, havia cerca de 25,6 milhões de donos de negócio no Brasil. Desse total, aproximadamente, 8,6 milhões eram mulheres (33,6%) e 17 milhões, homens (66,4%).
Vanessa comenta sobre estudos do Sebrae mostrarem que empresas lideradas por mulheres faturam, em média, menos que aquelas lideradas por homens. Um dos principais motivos para que isso aconteça é que as mulheres costumam empreender em áreas de menor inovação e valor agregado, como alimentação, beleza e estética. E justamente esses setores foram fortemente impactados pela crise.
"Para driblar esse cenário é preciso, primeiramente, um maior equilíbrio entre homens e mulheres empreendendo em diferentes setores da economia. Áreas como tecnologia e inovação mostram maior adaptabilidade e, algumas vezes, são até impulsionadas por situações adversas", ressalta.
Além das dificuldades impostas pela pandemia, a jornada dupla ou tripla de trabalho é um grande desafio para o empreendedorismo feminino no país.
No entanto, Vanessa afirma que o ponto mais latente é o fato de que as mulheres ainda são menos estimuladas a entender de assuntos como finanças, negócios e liderança. Também, são ensinadas, culturalmente, que determinadas áreas são destinadas para homens, o que acaba refletindo em suas escolhas.
"Faltam referências que nos mostrem que é possível chegar lá. Apesar de ter sido criada em um ambiente com essas características, tive a sorte de não me deixar influenciar por elas. Era uma das poucas mulheres no curso de Engenharia e, durante minha trajetória profissional, nunca tive mulheres como líderes. Hoje em dia, como líder, procuro inspirar outras mulheres e mostrar que podemos chegar lá", conclui Vanessa.