Outubro Rosa: conheça mulheres que superaram o câncer de mama

No mês de conscientização contra o câncer de mama, veja histórias de servidoras e concurseiras que passaram pelo câncer de mama.

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Publicado em:16/10/2019 às 10:44
Atualizado em:16/10/2019 às 10:44

Você já imaginou descobrir um câncer durante sua preparação para aquele concurso tão sonhado? Ou até mesmo ser uma servidora pública e ser diagnosticada com a doença?

Os dois casos são possíveis e aconteceram com Beatriz e Ana Paula. Nesse Outubro Rosa, FOLHA DIRIGIDA conversou com mulheres que já passaram pelo câncer de mama. 

Outubro Rosa é um movimento reconhecido mundialmente. Criado para alertar às mulheres sobre a importância de estarem atentas aos seus próprios corpos, o nome faz referência à cor utilizada em seu símbolo, um laço rosa.

No Brasil, a primeira iniciativa tomada foi em 2002, quando iluminaram com mesma cor o monumento Mausoléu do Soldado Constitucionalista, localizado em São Paulo.

De acordo com o Instituo Nacional do Câncer (Inca), dentre os tipos da doença o cancêr de mama é o segundo que mais afeta as brasileiras. Somente para este ano foram estimados 59.700 casos novos, com risco de 56 casos a cada 100 mil mulheres.

Ainda segundo o instituto, existe apenas uma causa para o câncer de mama, com diversos fatores ligados ao seu desenvolvimento. Tais como: 

• envelhecimento (quanto mais idade, maior o risco de ter a doença); 
• fatores relacionados à vida reprodutiva da mulher (idade da primeira menstruação, ter tido ou não filhos, ter ou não amamentado, idade em que entrou na menopausa);
• histórico familiar de câncer de mama;
• consumo de álcool;
• excesso de peso;
 atividade física insuficente; e
• exposição à radiação ionizante.

Para a prevenção, é indicado que mulheres de 50 a 69 anos realizem mamografia de rastreamento a cada dois anos. Esta avaliação pode auxiliar na identificação da doença antes de a pessoa apresentar sintomas.

Além disso, praticar atividade física e manter uma alimentação saudável, com manutenção do peso corporal adequado, são hábitos associadas a menor risco de desenvolver câncer de mama: cerca de 30% dos casos podem ser evitados quando são adotados esses hábitos. A amamentação também é considerada um fator protetor.

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Leia a seguir as histórias de Bia e Ana: 

A descoberta do câncer durante os estudos para concurso

Beatriz é uma das brasileiras que entrou para a estimativa do câncer de mama. No entanto, se reconstruiu como uma nova mulher. Ela conta que descobriu esse "tsunami" em 2015. O primeiro sintoma foi um carocinho aparente no seio esquerdo. 

Logo, ela fez um exame de imagem que apontou um irregularidade sensível ao doppler. Depois, foi realizada uma punção sem anestesia. 

"A minha primeira reação foi de negação absoluta: “Ah, que laboratório ruim! Trocou o nome dos resultados dessas lâminas!”. Na sequência, fiz uma bateria de exames e o mesmo diagnóstico foi confirmado. Então, a minha segunda reação foi: “Vou ficar careca, e agora?”, disse Bia.

Beatriz tem 32 anos e ainda sonha
em ser servidora pública
(Foto: Arquivo pessoal)

Quando descobriu o câncer, Bia já estudava para concursos e ainda tem o sonho de tornar-se servidora pública. Antes do câncer, cuidava apenas da alimentação e se exercitava. 

A preocupação da concurseira era apenas com o lado de fora e ela até considera que, na época, era superficial por isso. Apesar de tudo, ela decidiu manter os estudos, porém não conseguia render como antes.

Isso porque durante o tratamento da quimioterapia, os remédios para enjoo lhe davam muito sono. Naquele momento, ela conta que acionou o "botão sobrevivência" e precisava de energia para enfrentar as doses intravenosas.

Sendo assim, Bia focou em outras coisas e até fez a prova para o concurso TCU (Tribunal de Contas da União) 2015. No entanto, só conseguiu estudar para valer depois do término da quimio e três semanas pós cirurgia (quadrantectomia).

Posteriormente, foi publicado o concurso para Oficial de Chancelaria do Ministério das Relações Exteriores, o maior desejo de Bia.

"Eu tinha duas escolhas: descansar ou estudar para passar. Escolhi a segunda opção. O edital já tinha saído e eu estava correndo contra o tempo. Estudei umas 9 horas por dia: três horas de manhã, à tarde e à noite. Fiz uns 4 mil exercícios da FGV e muitas redações em Inglês e Português. As de Português, a professora Vivian Barros corrigia e comentava. As de Inglês, escrevi mais de 30 redações, sem dúvida."

Mesmo obtendo 58 como nota, sendo a nota de corte 60, Beatriz não desistiu de estudar para concurso e continuar nessa saga. Atualmente, voltou a estudar firme e forte esse ano (quatro anos depois), porém sem deixar a saúde de lado.

"O medo é nosso aliado"

Geralmente, o medo é o primeiro sentimento ao receber um diagnóstico não esperado, ainda mais quando algo mexe tanto emocional e fisicamente com alguém. Bia ficou com muito receio de ficar sem cabelo e receber as tão temidas agulhadas que fazem parte dos tratamentos. 

Mas ela não deixou estes fatos afetá-la:

O medo é nosso aliado e o medo é também pura ilusão da nossa cabeça. Em todas as situações, temos duas escolhas: sentir amor ou sentir medo. Eu escolhi o amor. Tenho mais medo é de viver na inércia e no piloto automático, sem conseguir apreciar essa beleza colateral. Estar viva é uma bênção.

Passar por algo assim ajudou Beatriz a enxergar beleza nas pequenas coisas. Hoje, o simples ato de passar um rímel, fazer um coque e abraçar a mãe, é algo que beira o milagre. 

O sonho de Bia ainda é ser concursada

"O mais importante para mim é minha saúde e o concurso é só uma coisa a mais. O foco é no processo. Cumprir meu planejamento de estudos à risca, sem deslize, é gratificante. Amo planilhas do Excel e acompanho meu rendimento nas questões de concurso assim: item por item do edital. O que cai mais? O que preciso voltar à teoria e revisar?"

Beatriz ainda deixou uma mensagem para todas as mulheres que passam pelo câncer de mama:

Eu diria que o primeiro passo é aceitar o diagnóstico. Sim, temos que encarar o protocolo da medicina convencional. Tem que fazer químio? Faz. Rádio também? Faz. A cirurgia hoje em dia nos deixa ainda mais bonitas, não tenham medo.

O cabelo tem fases, mas volta ao normal. Exames invasivos? Sim, tem que fazer. É o jeito. Chatíssimo. Eu diria a essas mulheres: muita força e ela está dentro de você. Vivam a emoção do tratamento, essa montanha-russa toda. Chora, coloca tudo para fora. Porque uma hora a conta chega.

Sobre o concurso: isso é realmente o SEU desejo? Se a resposta for sim, siga em frente sem descuidar da saúde. Se for não, você tem uma infinidade de caminhos possíveis para ter prosperidade na vida.

Ela complementa: o porvir é um fato. Certo? É fundamental reconhecer que não é depois da aprovação que vem a felicidade. A vida é hoje, seja feliz hoje. Claro que melhora um bocado, e eu estou viva para sentir a emoção da aprovação. Meu sonho é ver meu nome no DOU.

Carreira pública x câncer de mama

Também há o lado das mulheres que são servidoras públicas e descobriram a doença durante suas carreiras. Ana Paula é uma delas. Hoje, com 38 anos, Ana é professora concursada da UFMG, mas houve uma longa caminhada até ela chegar onde está. 

Oito anos antes Ana havia descoberto que tinha câncer de mama. Tudo começou quando a mesma percebeu um caroço em sua mama. De ínicio, não deu muita importância, assim como sua ginecologista, com quem se consultou. 

"Foi um grande susto! Inicialmente dá um nervosismos diante a situação nova. Muita gente imagina o câncer como algo degradante para o corpo. Pensei logo em perder meu cabelo. A visão que eu tinha do câncer antes de passar por ele, era muito mais trágica."

Após alguns meses, depois de realizar a primeira ultrassonografia, a docente repetiu o exame e precisou passar por uma biopsia. O resultado foi um carcinoma, constatando câncer de mama. 

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Na época, Ana Paula era funcionária pública da Prefeitura do Rio de Janeiro, atuava como professora de História. Ela acabou deixando de lado o concurso, pois passou para um doutorado. Além disso, começou a trabalhar à distância e apenas alguns dias em duas escolas. 

Mesmo com a mudança de rotina, a médica de Ana aconselhou a paciente a continuar trabalhando, para que não fugisse muito do que estava habituada a fazer. 

"Havia momentos que eu simplesmente esquecia que estava doente, porque estava ali envolvida com as coisas. Consegui defender minha tese e saí das escolas privadas. Depois disso tudo eu me tornei professora concursada na UFMG"

O medo é o primeiro sentimento

 "Senti medo, sim. Esse é o primeito sentimento, justamente porque na nossa sociedade o câncer é visto como algo que, inevitavelmente, vai te levar a morte."

Ana conta que nunca perdeu totalmente o medo, mas que o vencia a cada etapa. Ela começou com a quimioterapia, depois foi para cirurgia e logo após para a radioterapia:

"Quando eu vencia o medo da quimio, vinha o medo da cirurgia e assim por diante. Uma coisa que não posso deixar de falar em relação ao medo, é que estar com pessoas te apoiando ao seu redor faz toda a diferença. O que não é a realidade de muitas mulheres."

O câncer não dura para sempre

 Após um longo processo de tratamento e muita exaustão, em todos os sentidos, a servidora conta que se sente fisicamente bem hoje em dia.

"O que eu poderia dizer para as mulheres que passam pelo câncer de mama é que isto passa. Parece uma eternidade, um atraso de vida, mas essa fase não dura para sempre. Você consegue sair dela, muitas vezes, mais forte do que entrou. É preciso pensar que é momentâneo e que não é uma situação física eterna."

Por fim, Ana conta que saiu da doença tendo muito mais consciência do seu próprio corpo e dos seus limites, e ressalta que setir-se bem em todos os sentidos te dá forças para correr atrás do que quer, seja um doutorado, estudos ou passar em concursos públicos.

Está se preparando para concursos? Intensifique seus estudos!