Pandemia do Coronavírus impacta milhões de trabalhadores informais

Veja como alguns informais estão fazendo para driblar a crise

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Publicado em:28/03/2020 às 06:00
Atualizado em:28/03/2020 às 06:00

Em 2019, 41,3% dos trabalhadores no país eram informais, o que significa quase 39 milhões de brasileiros, segundo o IBGE. Ou seja, quase metade da população economicamente ativa está na informalidade. 

Os números são alarmantes, principalmente se levarmos em consideração a crise da pandemia do Coronavírus que assola o Brasil e demais países. E, são esses profissionais que sentem o maior impacto em suas economias e em seus negócios. 

Para Nathalia Chaves, que trabalha com entrega de refeições em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, a crise originária do Coronavírus afetou a sua renda familiar em 50%, já que usa o dinheiro para complementar as despesas de casa. 

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Ela conta que, antes mesmo de começar a quarentena no Rio, já havia diminuído as vendas, pois, como trabalha em uma cidade que atrai muitos turistas, preferiu evitar o contato, na tentativa de não trazer a doença para sua família.

A saída para não enfrentar maiores dificuldades durante esse período foi poupar. Uma forma de economizar é ver o que realmente é prioridade, evitando gasto com besteiras. 

"Assim que tivemos a notícia do surto e de que poderia vir para o Brasil, começamos a economizar no que podíamos e 'segurar' o que já havíamos guardado. O conselho que eu dou é ver o que, de fato, precisamos. Analisar a situação e procurar meios para resolver tudo com calma", afirma.

Mesmo assim, Nathalia conta que o prejuízo financeiro será inevitável, no entanto, tem esperanças que, depois de tudo resolvido, "nós, brasileiros, ficaremos preparados para outras adversidades como essa. Temos que cuidar da nossa saúde, pois só vamos conseguir recuperar o financeiro se estivermos com saúde para voltarmos à normalidade". 

trabalhador informal
Trabalhadores informais sofrem impactos da crise do Coronavírus
(Foto: Pixabay)

Coronavírus gera incerteza e desestabilidade entre trabalhadores autônomos e informais

Para a maquiadora e esteticista Bianca Salazar, o atual cenário da economia segue desfavorável, principalmente para os autônomos e informais, devido à grande incerteza e desestabilidade que a pandemia tem gerado. 

Bianca conta que, devido aos cancelamentos e adiamentos de eventos, a renda que entraria nessas datas não irá acontecer, o que afetará seu lucro mensal, podendo ou não ser recuperada nos próximos meses. 

A profissional de beleza conta que, nesse momento de pandemia, precisou intensificar o foco nos atendimentos em domicílio e a divulgação, utilizando as mídias sociais. Trabalho que já vinha desempenhando desde antes. 

"Precisei intensificá-los e priorizar o serviço individualizado, além de adotar medidas de precaução contra o vírus que foram orientadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS)", explica.

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Mesmo que o atual cenário traga incertezas e, até mesmo o medo do que está por vir, é preciso saber aproveitar as oportunidades, enxergando o copo quase cheio, ao invés de quase vazio. 

A esteticista conta que, além de intensificar a divulgação de seu trabalho, tem oferecido consultoria online e conteúdos para serem vistos e colocados em prática pela própria cliente em casa. Com isso, busca melhorar a visibilidade e a credibilidade do seu trabalho, visando o momento em que as coisas vão se regularizarem.

"Devemos buscar inovações para se diferenciar e se destacar no mercado e ter ainda mais garra para driblar e reaver os prejuízos causados por essa pandemia. Lamentações não nos levarão a lugar algum", destaca. 

Para finalizar, Bianca dá dicas para os trabalhadores informais e autônomos que também estão passando por esse momento delicado: 

  • Fiquem atentos aos acontecimentos;
  • Não deixem de fazer um planejamento financeiro;
  • Utilizem ferramentas como o Canvas para estruturar seu modelo de negócio;
  • Utilizem a matriz Swot para identificar forças, fraquezas, oportunidades e ameaças relacionadas ao seu negócio;
  • Saiba direcionar o seu lucro para não cometer erros; e 
  • Sempre poupe para as emergências. 

Alternativas para conter os custos e reinventar o negócio

Na tentativa de minimizar os gastos, Daniel Santana, que tem uma pequena pensão onde vende e faz delivery de refeições, decidiu fechar a loja e entregar o estabelecimento alugado para fazer o trabalho na sua própria casa. A atitude aponta para o caminho da informalidade, até mesmo para os pequenos empreendedores.

A decisão de dele veio após as vendas caírem 40% devido à "guerra interna" entre se proteger ou trabalhar para continuar a vida, como ele mesmo definiu. A diminuição do rendimento se deu pelo fato de que a maior parte da clientela está em casa e pode fazer a própria comida.

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"Se trabalharmos em casa, não teremos as despesas de energia elétrica e aluguel. Além disso, também decidimos não pagar o nosso maior fornecedor agora, para segurarmos o caixa até a crise passar", conta.

Para minimizar o efeito da crise em seu negócio, Daniel relata que, como está trabalhando somente com entrega, as redes sociais se tornaram a sua maior ferramenta de divulgação. E aconselha que essa medida seja adotada por demais trabalhadores informais.

"Nós andamos pelas ruas anotando todos os números de telefones que estão em placas e cartazes para assim enviar nosso cardápio e fazer novos clientes todos os dias. Além disso, buscamos números de telefones em bazares e grupos de venda no Facebook", finaliza.