Recuperação econômica em 2021 demanda clareza do governo

Líderes de grandes empresas do mercado brasileiros avaliam o cenário econômico de 2021. Para eles, vacinação e reformas são essenciais.

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Publicado em:04/01/2021 às 13:30
Atualizado em:04/01/2021 às 13:30

Com a pandemia da Covid-19, as operações e investimentos das empresas foram fortemente afetadas em todo o mundo. Para controlar a crise, os governos tiveram que expandir os seus gastos e, consequentemente, aumentarem as dívidas. 

Essas ações levaram à queda das bolsas do mercado financeiro mundial. No entanto, apesar disso, 2020 terminou com o principal índice da Bolsa de São Paulo, o Ibovespa, avançando 2,92%. 

Em entrevista ao jornal O Globo, líderes empresariais falaram sobre a recuperação da economia para este ano. Segundo eles, o governo precisa apresentar o plano de voo da equipe econômica.

"Seria uma utopia ter todas as reformas e as privatizações andando ao mesmo tempo, mas mais importante que o ritmo de realização é o governo mostrar clareza no andamento de sua agenda, sempre com a garantia de preservar os ganhos obtidos até agora, como controle da inflação, juros baixos", diz o presidente executivo da B3, Gilson Finkelsztain.

Com a taxa Selic em seu nível mais baixo (2%), o cenário é favorável para investimentos, porém, segundo Finkelsztain, o governo tem que controlar as contas. "É preciso comprometimento fiscal, preservação do teto de gastos, que não haja negligência com as despesas do governo. É essa clareza que o mercado espera".

Em relação à vacina, o presidente da B3 diz que a expectativa dos mercados e a injeção de liquidez pelos bancos centrais beneficiam o crescimento em 2021. "Isso se transforma em mais empregos, crescimento das empresas e oportunidades de negócios", completa.

 

Líderes empresariais avaliam cenário econômico em 2021
(Foto: Freepik)

 

Líderes empresariais avaliam economia em 2021

Deutsche Bank

Para Maite Leite, presidente do Deutsche Bank no Brasil, o governo deve retomar as privatizações, construir uma agenda sustentável, priorizar a luta contra corrupção e avançar os acordos internacionais bilaterais para que o Brasil possa atrair investimentos estrangeiros de longo prazo, além das reformas tributária e administrativa.

"Outros pontos que devem estar no radar para 2021 são a agenda digital, o comércio exterior e as parcerias público-privadas, que nos possibilitarão reduzir o atraso em questões estruturantes como infraestrutura, logística, energia, educação e saúde", afirma a executiva.

Em um cenário de juros baixos, a presidente acredita que o setor financeiro vai ter maior diversificação na área de investimentos, principalmente por conta de revoluções que aconteceram em 2020, como a criação do PIX.

Rico Investimentos

Laio Santos, diretor-executivo da Rico Investimentos, do Grupo XP, diz que o ano de 2021 começa com duas prioridades: a vacinação dos brasileiros e a agenda de reformas.

"A vacina é uma prioridade absoluta, assim como as reformas, que hoje parecem uma realidade distante, principalmente a tributária e a administrativa, que fariam com que a engrenagem voltasse a girar e a economia fosse alavancada", avalia.

Whirlpool Latin America

João Carlos Brega, presidente da Whirlpool Latin America - dona das marcas Cônsul e Brastemp -, acredita que as empresas voltarão a recompor seus estoques e o país terá crescimento no primeiro e no segundo trimestres. Na segunda metade do ano, ele diz que há uma grande dúvida que depende do governo e das reformas. 

"O governo acertou com o auxílio emergencial e a flexibilização das leis trabalhistas, como a MP 936, que permitiu às empresas redução da jornada de trabalho e salário, além de suspensão de contratos. Usamos e não paramos fábricas", afirma.

"Tivemos um estresse na cadeia de suprimentos por falta de matéria-prima, mas a produção não parou. Temos uma demanda dormente por produtos. Se o governo levar adiante sua agenda de reformas, teremos a volta do crescimento dos serviços e o país pode crescer 4%, 5% ou até 6% ao ano", completa.

Apesar de reconhecer o papel importante do auxílio emergencial para minimizar a perda de renda dos mais pobres, ele diz que manter o benefício é insustentável. Para o presidente, o governo precisa aprovar imediatamente a PEC Emergencial.

"Isso já acalmaria o mercado, e as expectativas para o segundo semestre em relação à inflação e ao câmbio melhorariam. Com uma taxa de 14% de desemprego, a retomada da economia não se sustenta", diz. 

 Para a atração de investimentos estrangeiros, ele defende as reformas tributária, administrativa e as privatizações. "O investidor quer vir, mas o Brasil não é a última bolacha do pacote. É preciso reduzir o tamanho do Estado, dar segurança jurídica."

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Equinor

Para Leticia Andrade, presidente interina da Equinor no Brasil, a simplificação dos tributos e a redução da burocracia poderão melhorar o ambiente de negócios em 2021. Ela também defende a aprovação da Lei do Gás Natural, que muda o marco regulatório do setor.

"Precisamos que o país continue com sua tradição de respeito aos contratos e que haja sempre previsibilidade, estabilidade jurídico-regulatória e competitividade. Isso é fundamental para investimentos de longo prazo", afirma Leticia.

Ericsson

A fim de estimular os investimentos no país nos próximos anos, Eduardo Ricotta, presidente da Ericsson para o Cone Sul da América Latina, defende uma reforma tributária que possa reduzir a carga tributária. Em alguns estados, segundo ele, a tributação do serviço de telecomunicações pode chegar a 60%.

O executivo destaca a necessidade de o país investir em educação e inovação. "O 5G vai promover a digitalização de diversos segmentos e ajudará na retomada da nossa economia. Assim, para fomentar a inovação, o Brasil deveria adotar um plano nacional para o 5G, com a garantia de acesso a baixo custo".

Para ele, é essencial que o leilão do 5G não tenha um viés arrecadatório e que priorize exigências maiores de investimento das empresas. Um dos desafios para a expansão das redes de telefonia, segundo Ricotta, é a modernização da legislação nas diversas cidades do país.

"A tecnologia avança em uma velocidade descompassada da atualização de regras. Por exemplo, em alguns estados as regras sobre antenas estão desatualizadas há 15 anos, quando ainda predominava o 2G. Hoje, estamos discutindo 5G. As regras claramente não estão acompanhando a velocidade da evolução da tecnologia".

MDC

Para Manuela Kayath, presidente da empresa de soluções energéticas MDC, as reformas administrativa e tributária e as vacinas, ao lado do equilíbrio fiscal, são importantes para dar segurança aos investidores, não apenas em 2021. 

"O Brasil precisa de um planejamento de longo prazo para atrair investimentos. Reformas e equilíbrio fiscal são fundamentais para isso", afirma a executiva.

"Estou cautelosamente otimista, apesar do cenário macro do Brasil que nos deixa mais reticentes. Mas o nosso setor de energia sustentável tem uma agenda positiva muito importante, que mudou muito o mercado. A pauta de sustentabilidade ganhou muita força neste ano, antes mesmo da pandemia e da eleição de Joe Biden (para a presidência dos EUA)", completa.

TIM

Segundo Pietro Labriola, presidente da TIM, a reforma tributária é uma das prioridade. Entretanto, o executiva destaca ainda a necessidade de uma aliança entre poder público e iniciativa privada como forma de combater a desigualdade social e o desemprego, acentuados pela crise sanitária e econômica.

"O Brasil vive há pouco mais de duas décadas um processo de reformas gradativas e contínuas, na busca pela construção de um ambiente econômico mais encorajador para o investimento. Exemplos disso são as privatizações, as sucessivas reformas da Previdência e a relativamente recente reforma trabalhista. Parece chegada a hora de não só o governo, mas a sociedade, fazer avançar a reforma tributária, para simplificar o sistema de impostos e destravar a atividade produtiva".

Labriola lembra que a pandemia impulsionou o processo de digitalização na economia, gerando oportunidades para serviços bancários, carros conectados e novos métodos de gestão do campo. "Essa peculiaridade sugere que o futuro do setor é de expansão sólida e irreversível".

"Como todos os países do mundo, o Brasil sofreu os efeitos da pandemia, com arrefecimento e até a interrupção forçada de muitas atividades produtivas. Os números agora estão mostrando que, no balanço geral, pode-se dizer que a economia brasileira mostrou uma certa resiliência e, na comparação com as de outras partes do mundo, vem dando sinais de recuperação", afirma.

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