Páscoa: produtores indicam como lucrar frente à crise do Coronavírus

Serviços de delivery são usados diante do isolamento social

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Publicado em:07/04/2020 às 16:00
Atualizado em:07/04/2020 às 16:00

Em razão do Coronavírus e das orientações de isolamento social, a expectativa pelas altas vendas no período da Páscoa recuou. Comparado a 2019, o número de consumidores que tem a intenção de comprar chocolates caiu 38,6%, conforme pesquisa do Instituto Fecomércio RJ.

As vendas de chocolate também devem apresentar queda em comparação ao ano passado, de acordo com a Associação Paulista de Supermercados (APAS). O principal motivo é o contexto atual, no qual famílias voltam suas rendas para produtos básicos, de higiene e limpeza.

Diante disso, quais as estratégias dos produtores locais para lucrar diante dessa crise? FOLHA DIRIGIDA conversou com duas empreendedoras para descobrir as técnicas usadas para alavancar as vendas dos ovos de Páscoa.

Em Belo Horizonte, Minas Gerais, a proprietária da loja ‘Doce que seja Doce’ (@docequesejadoce), Luana Drumond, conta que teve que refazer o planejamento para a Páscoa deste ano.

Páscoa
Barra de chocolate recheada da loja 'Doce que seja Doce'
(Foto: Arquivo pessoal)

 

Pelas medidas restritivas de funcionamento do comércio, enxergou no serviço de delivery uma solução para escoar a produção.

“A Páscoa é planejada com antecedência. Eu tinha um volume de casca e de recheio congelado muito grande. Então, era melhor transformar matéria prima em dinheiro, mesmo perdendo lucro”, revela Luana.

A loja passou dez dias totalmente fechada. Por isso, a produção dos ovos e demais chocolates não será a mesma que em 2019, por exemplo. Luana estima que a Páscoa deste ano seja cerca de 30% menor de produção.

Ainda assim, a proprietária acredita na venda de todos os itens já produzidos. Eles estão disponibilizados em aplicativos de comida delivery, como o Ifood, e em serviço de entrega próprio. O problema, segundo Luana, é que essas plataformas apresentam taxas altas. O que diminui o lucro.

“A venda de todos os itens produzidos vai acontecer, sem muita dificuldade. Estamos vendendo muito bem pelo Ifood. O que muda é que as taxas são altas, cerca de 27% por produto, o que é muito próximo do que seria nosso lucro. O lucro de um restaurante gira em torno de 30%. É praticamente sair no zero a zero”, explica.

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‘O que entrar de dinheiro é lucro’, diz produtora local

Para não sair no prejuízo, a proprietária da ‘Doce que seja Doce’ optou por transformar a matéria-prima, que já tinha adquirido meses antes, em dinheiro.

“O que acontece com isso é que a gente transforma matéria prima em dinheiro. No momento, a gente tem muitas contas para pagar e o que entrar de dinheiro é lucro”.

Luana Drumond revela que o período de Páscoa equivale a quatro ou cinco meses de um movimento normal na loja. Esse condicionamento, porém, não deve se repetir este ano.  

“Não sabemos muito bem como vão ser os próximos meses. Se a Páscoa tivesse sido antes disso tudo, teria sido um cenário mais positivo para gente. Seria um dinheiro para segurar os meses incertos. É uma data que vende fácil”, diz.

Para passar pelos momentos de recessão econômica, ela concedeu férias para todos os funcionários por dias. Porém, mesmo com o possível lucro da Páscoa, não será possível manter o quadro de pessoal completo.

“Infelizmente, vamos ter que fazer umas rescisões. Não vai dar para continuar com o quadro de funcionários inteiro. Essa era nossa última opção”. A empreendedora completa: “vendemos doce. É muito supérfluo. Estamos tentando criar estratégias todos os dias, redescobrir e tirar coisas boas desse aprendizado”.

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Ovos de Páscoa delivery aumentam vendas no Rio

Em contrapartida, há quem esteja tirando proveito da crise do Coronavírus. Na Zona Oeste do Rio de Janeiro, Meiryane Ribeiro, junto a sua mãe, Rosa Emília, viu suas vendas aumentarem com o serviço de entrega de ovos de Páscoa na região.  

Proprietárias da ‘Rosa Doces Finos’ (@rosa.docesfinos), no primeiro momento, também sofreram com o impacto da pandemia. Entretanto, logo trataram de elaborar estratégias para sair desse período no azul e com lucro.

Rosa Doces Finos
Meiryane Ribeiro e Rosa Emília
(Foto: Arquivo pessoal)

“De primeiro momento sim, pensamos que este ano seria ruim para as vendas de Páscoa. Mas, com adaptações estamos conseguindo vencer essa barreira de crise”, relata Meiryane Ribeiro. A maior preocupação era atender aos clientes e mantê-las em segurança também.

“De imediato foi assustador com todos os nossos eventos remarcando datas e alguns até cancelando. Logo, paramos e pensamos, se não agirmos de outra forma, sem as vendas durante um longo período poderíamos quebrar”, conta.

A solução encontrada foi criar o delivery para melhor comodidade e segurança dos clientes. A entrega dos produtos ocorre no bairro de Campo Grande e proximidades.

“Agora, devido a grande demanda de pedidos, que foi melhor do que imaginávamos, ampliamos nossa área de entrega”, revela.

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Serviço de qualidade entregue em casa

Outra estratégia bem sucedida foi a de entrega de ovos de páscoa de presente. Isto é, uma pessoa pode encomendar um produto de presente que será entregue no local de escolha.

“Isso fez nossas vendas superarem as de 2019. O cliente compra, realiza o pagamento e nós entregamos ao presenteado em sua residência”.

Ao contrário da empresa da capital mineira, a ‘Rosa Doces Finos’ trabalha com produção caseira. Os produtos são confeccionados apenas por Meiryane Ribeiro, e sua mãe, Rosa Emília.

“Funcionários não precisamos dispensar, porque só trabalhamos nós duas. Minha mãe já está em isolamento somente trabalhando em casa já tem uns 30 dias. Para compra de itens, a única que vai a rua sou eu e bem reduzido, tiro um único dia da semana pra fazer tudo”, explica.

Para todos aqueles que estão com dificuldades para prosseguir com negócios na Páscoa, Meiryane deixa o seguinte recado:

“Desejamos a todos os empreendedores, força, fé e criatividade para podermos superar essa fase, que em breve passará”.

* Por Bruna Somma - bruna.somma@folhadirigida.com.br