Pipo Saúde: equidade, diversidade e vagas dedicadas a minorias
Como a startup de saúde conseguiu realizar contratações mais diversas e alcançar a equidade de gênero, hoje, com 54% do time formado por mulheres.
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Publicado em:07/10/2020 às 11:00
Atualizado em:07/10/2020 às 11:00
A pandemia do Coronavírus tem sido um dos grandes motivos para o aumento do desemprego no país. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego no trimestre encerrado em julho foi de 13,8%, sendo a maior desde 2012.
Os desempregados se dividem entre pretos (17,8%), pardos (15,4%) e brancos (10,4%). O desemprego entre os negros foi o que mais subiu em comparação ao primeiro trimestre de 2020, sendo de 2,6 pontos percentuais.
A falta de emprego para pessoas negras fez com que várias empresas tomassem atitudes para tornar o seu processo de contratação mais diverso. É o caso da Pipo Saúde, startup de gestão de benefícios, que nasceu com o objetivo de otimizar e facilitar a relação do RH de empresas com planos e benefícios de saúde, que tem como objetivo ter em seu quadro maior número de mulheres, negros e LGBTQIA+.
“Apesar de termos formalmente abolido a escravidão no Brasil, os frutos que as pessoas negras colhem desta fase da nossa história ainda os prejudicam bastante em termos de oportunidades. Isso faz com que seja mais difícil desde a chance de estudar em boas instituições, até ingressar em vagas no mercado de trabalho”, afirma Marcela Ziliotto, diretora de RH da Pipo Saúde.
Marcela Ziliotto acredita que essa desigualdade se dê devido a uma herança histórica. Outro grupo também muito prejudicado é o das pessoas trans. Segundo um levantamento da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), 90% da população transexual do Brasil já precisou recorrer à prostituição como fonte de renda.
“O Brasil ser o país que mais mata pessoas trans no mundo é um reflexo óbvio disso. Infelizmente ainda vivemos em uma sociedade patriarcal e com um preconceito estrutural muito forte em relação a tudo que não representa a ‘tradicional família brasileira’”, reflete.
Pipo Saúde tem, atualmente, equipe composta por 54% mulheres e
46% homens (Foto: Divulgação)
Como tornar o mercado de trabalho mais diverso?
A diretora de RH acredita que está nas mãos de empresas, como a Pipo, garantir a equalização de oportunidades e apoio para estas pessoas ingressarem e se desenvolverem no mercado de trabalho. Para isso, é preciso haver esforços como:
Ações afirmativas sociais e estruturais;
Esforço para estudar o tema;
Entender os vieses problemáticos e trabalhar para que não impactem nas oportunidades oferecidas pelas empresas;
Vagas exclusivas para minorias sociais como negros, mulheres e pessoas trans.
Essas vagas exclusivas são fundamentais. Esses grupos minoritários tiveram menor acesso à educação do que o candidato com o perfil padrão - homem, cis, hétero, branco - e mais barreiras financeiras, por exemplo. “ A ideia de ter vagas exclusivas para essas populações é evitar a comparação entre elas e pessoas que tiveram maiores oportunidades no passado”, justifica.
A Pipo já colhe os resultados dos esforços para maior diversidade cultural. Se no início os Pipolh@s, como são chamados os colaboradores, se dividiam entre 70% de homens e 30% de mulheres, atualmente são 46% homens, 54% mulheres.
Além de ampliar as contratações para esses grupos, a Pipo também igualou o período das licenças paternidade e maternidade, e se tornou uma empresa primariamente remota, o que significa que não existe mais limitações geográficas para as contratações. Também é oferecido um valor inicial para a montagem do escritório em casa e ajuda de custo mensal.
Como mudar a cultura organizacional das empresas?
Não basta apenas contratar essas pessoas. Também é necessário criar um ambiente de trabalho com uma cultura inclusiva. Algumas ações que são usadas na Pipo, mas que outras empresas também podem aplicar, são:
Encontros internos para discutir livros, filmes e ações de diversidade;
Trazer convidados especializados no assunto;
Desconstruir vieses estruturais;
Liderança da empresa com esforços ativos no assunto, que invista tempo, dinheiro e energia;
Preparação para receber essas pessoas com iniciativas voltadas para conhecimento, ambiente, rituais, grupos de apoio e aprendizado.
Um ambiente diverso é mais positivo para todos. “Pessoas com origens, crenças, etnias, orientações sexuais e classes sociais diferentes trazem para a organização ideias e visões de mundo nada parecidas umas com as outras”, afirma Marcela Ziliotto.
A diretora de RH, finaliza: “Precisamos começar a valorizar capacidades e olhares diferentes do que estamos acostumados.”