Quais os aprendizados da pandemia para o mercado de trabalho?

Especialistas apontam transformações no mercado de trabalho a partir da pandemia de Coronavírus.

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Publicado em:01/05/2020 às 06:00
Atualizado em:01/05/2020 às 06:00

Certamente, a pandemia de Coronavírus proporcionará diversos ensinamentos para todo o mundo. Mas, quais aprendizados o mercado de trabalho brasileiro pode tirar dessa crise que se instaurou em diversos setores desde o início do isolamento social?

No dia do trabalho, FOLHA DIRIGIDA conversou com especialistas para entender os impactos da Covid-19 no mercado. Além disso, eles apontam como deverá ser a nova dinâmica entre empregadores e funcionários, após a pandemia.

A principal dúvida quem vem à mente dos brasileiros sobre o assunto é: quanto tempo deve durar essa pandemia? De acordo com o master coach com ênfase em carreira, Leandro Cunha, ao observar o tempo de duração de outras pandemias já enfrentadas, estima-se que o prazo deverá ser de seis meses.

Por exemplo, uma das maiores pandemias já registradas, a Gripe Espanhola, ocorreu em 1918 e teve duração média de quatro ou cinco meses. Isso considerando que a dinâmica social na época era completamente diferente da que vivemos hoje. 

Em 1918, as pessoas tinham menos recursos de prevenção e menos acesso à informação. Além disso, o mundo passava pela 1° Guerra Mundial, o que dificultava ainda mais o acesso ao tratamento adequado.

Segundo Cunha, mesmo após esse período estimado de seis meses, alguns serviços como shows, eventos esportivos, cinemas, teatros, entre outros, ainda não devem ser liberados. Mas as atividades comerciais poderão ser retomadas.

Home Office
Home Office já foi adotado por diversas empresas durante a quarentena
(Foto: Pixabay)

Home Office será tendência mesmo após a quarentena

Uma das mudanças já perceptíveis é a adoção do Home Office pelas empresas. Muitas companhias têm aderido a esse modelo de trabalho, como uma forma de se manterem em atividade durante a crise. 

De acordo com Leandro Cunha, que também é palestrante, autor, empresário e treinador em Inteligência Emocional,o Home Office deve continuar mesmo após a crise, não só por uma tendência, mas por necessidade. O especialista ressaltou que depois do período de isolamento social ainda pode haver riscos de contaminação entre as pessoas.

Tal situação, poderia gerar prejuízos para as empresas com gastos em compras de kits de testes de Covid-19 ou o afastamento de colaboradores, provocando queda na produção, de forma que a medida mais segura será manter o Home Office.

Como empresário, Cunha defendeu que esse modelo de trabalho também é muito eficaz. Em sua empresa, os funcionários estão trabalhando em Home Office e o empreendedor pôde perceber melhoras na equipe. Segundo ele, o sentimento de colaboração, caridade e compaixão entre os profissionais aumentou. 

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Leandro Cunha
“Os colaboradores estão pensando mais no coletivo, não no individual",
Leandro Cunha, master coach com ênfase em carreira
(Foto: Arquivo Pessoal)​​​​​​
 

A produtividade também melhorou. O aumento na produção chegou a 40% desde o início do isolamento social. Vários motivos podem justificar essa evolução, como trabalhar mais perto da família e ter mais flexibilidade de horário.

Novas profissões também devem surgir diante desse novo cenário e o processo de automatização de algumas funções pode acelerar. Além disso, alguns profissionais também acabarão buscando novas oportunidades em áreas correlatas às quais atuam para não ficarem sem emprego, como no caso de atendentes, garçons, entre outros.

"Os trabalhadores podem se preparar enxergando novas oportunidades e aprendendo a ressignificar as próprias profissões. As pessoas tendem a se apegar ao que é mais fácil. Mas, elas devem pensar o que podem fazer hoje para inovar nos seus trabalhos e carreiras."

Cunha ainda destacou que uma das principais lições com a Covid-19 e o isolamento social para os profissionais é a oportunidade do autoconhecimento.

"As pessoas estão se reconectando com elas mesmas e enxergando coisas sobre si mesmas que não queriam ver. A quarentena também está contribuindo para uma reaproximação entre as pessoas e as tornando mais sensíveis e abertas às diversidades."

Notícias de empregos

Crise incentivará valorização de profissões relacionadas à tecnologia

Fábio Battaglia, CEO da Randstad Brasil, chamou a atenção para o fato de que haverá aumento no uso de recursos tecnológicos no mercado de trabalho. Tal medida propiciará interações de forma remota e intensificará a automatização de processos. Isso significa que profissões baseadas em tecnologia (automação, inteligência artificial, robotização, análise de dados) serão ainda mais valorizadas. 

O especialista alertou, ainda, que processos de recrutamento e seleção também serão cada vez mais baseados em ferramentas tecnológicas. No entanto, a interação humana, a intuição e a empatia ainda serão aspectos importantes para aumentar a taxa de êxito e propiciar melhor experiência para empresas, colaboradores e candidatos. 

Battaglia também concorda que a tendência do Home Office deve continuar. Isso porque os trabalhadores e as próprias empresas acabaram percebendo que podem se organizar melhor, sem perder tempo em deslocamentos e ainda conciliar as agendas pessoal e profissional.

"Empresas e colaboradores tiveram que rapidamente se adaptar a uma nova dinâmica de interações remotas baseada em tecnologia e tal dinâmica será normal após a pandemia."

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Especialista destaca vantagens dessas novas relações de trabalho

Uma das principais vantagens dessa forma de trabalho é a redução de custos de operação para as empresas. Já para os colaboradores, surge a possibilidade de gerenciar seu tempo de maneira mais eficiente. 

Também existem alguns desafios, como perda da proximidade com demais colegas e risco de sobreposição da jornada de trabalho com as atividades de casa, gerando mais stress para o colaborador. "Para evitar isto, é fundamental que se tenha disciplina de horários e foco no trabalho para entregar com eficiência o que se espera de cada um, de forma que o tempo 'pessoal' seja preservado e aproveitado da melhor forma", indicou Battaglia.

Fabio
"Nada substitui a empatia e a intuição do ser humano", Fabio Battaglia,
CEO da Randstad no Brasil (Foto: Randstad Brasil)
 

Diante dessa possível nova realidade nas relações de trabalho, algumas medidas podem ser adotadas para tornar os processos mais eficientes.  Empresas e colaboradores devem estabelecer acordos, objetivos e prioridades. Segundo o especialista, também é importante manter uma rotina de comunicação frequente, que permita contínuo monitoramento das entregas e rápidas correções em casos de necessidade.

Battaglia finalizou destacando as importantes observações que esse período de quarentena trouxe a todo o mercado de trabalho.

"Além de reforçar o fundamental papel da tecnologia, ficou mais clara a necessidade de adaptação ao desconhecido, a liderança à distância, a maior delegação de autonomia, a estabelecer acordos sem que haja um aperto de mão, a organizar a rotina e valorizar o tempo (tanto profissional quanto pessoal), a priorizar recursos reduzindo gastos ao essencial, dentre outros. Enfim, aprendizados que nos enriquecem e nos preparam para as eventualidades da vida", destacou.