Enem: senadores pedem adiamento, mas Weintraub defende calendário
Ministro da Educação alega que a crise de saúde não seguirá até a realização das provas
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Publicado em:05/05/2020 às 15:00
Atualizado em:05/05/2020 às 15:00
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, participou de uma reunião, com líderes partidários do Senado, nesta terça-feira, 5. Enquanto parlamentares defenderam o adiamento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), por mais seis meses, o titular da pasta foi contrário e manteve o calendário.
O adiamento do Enem 2020, em virtude da pandemia do novo Coronavírus no país, foi uma solicitação de alguns líderes do Senado. Por outro lado, durante a reunião, Weintraub alegou que a crise de saúde não seguirá até a época da realização das provas, prevista para novembro.
O líder do PDT, Weverton (MA), pediu um novo calendário para o exame, pelo fato de milhões de estudantes estarem prejudicados pelo isolamento obrigatório e pela suspensão das aulas.
Segundo o senador, muitos desses jovens não têm estrutura para estudar em casa e, portanto, não têm condições de se preparar para a seleção.
"O ministro quer manter o Enem para novembro. E ficou combinado que teremos nova reunião em agosto, para avaliarmos o cenário. Ele disse que o Enem não foi feito para fazer justiça social", afirmou.
A líder do Cidadania, senadora Eliziane Gama (MA), também defendeu o adiamento do Enem 2020. Para ela, manter o calendário seria aprofundar ainda mais as desigualdades educacionais e impedir que os mais pobres tenham acesso ao ensino superior.
"Impossível acreditar que estudantes carentes tenham pleno acesso a computadores e à internet", escreveu em sua conta no Twitter.
O líder do PL, senador Wellington Fagundes (MT), lançou uma enquete sobre o assunto nas redes sociais. Em entrevista à Agência Senado, o parlamentar também se mostrou favorável à marcação de nova data para o Enem.
Ele disse que a posição é a da maioria dos líderes partidários, "considerando o fato de que 30% a 40% de alunos no interior do país sequer têm acesso à internet".
Para o líder do bloco parlamentar, senador Esperidião Amin (PP-SC), a participação de Weintraub na reunião foi propositiva. Também à Agência Senado, o parlamentar ressaltou que uma decisão desse porte precisa ser tomada com mais "certezas e definições claras".
Para Esperidião Amin, o ministro está certo ao pedir aos senadores mais prudência sobre uma definição para o assunto.
"Concordo com ele que não é preciso adiar agora algo que está marcado para novembro. Nós todos sabemos que as eleições são em outubro, movimentando cerca de 110 milhões de eleitores, e que também seria precipitado decidir agora. Weintraub foi sensato por não ser assertivo", disse.
Propaganda do Enem 2020 é alvo de críticas
Na última segunda-feira, 4, o Ministério da Educação divulgou a propaganda do novo Enem 2020. O vídeo institucional traz frases de efeito, que defendem a realização do Exame Nacional do Ensino Médio este ano.
No vídeo, jovens atores dizem que "a vida não pode parar" e que "é preciso ir à luta", "se reinventar e superar". O vídeo ainda defende que os estudantes devem estudar, "de qualquer lugar, de diferentes formas".
Após ser divulgada, a campanha recebeu milhares de críticas e chegou a ter o Enem como um dos assuntos do trending topics do Twitter. Boa parte dos críticos alegam que o Ministério da Educação não está considerando o momento crítico da saúde.
Diversas pessoas apontam as dificuldades de acesso à internet e de como o ensino estruturado das escolas privadas possibilita que os alunos destas redes tenham vantagens, em relação aos estudantes da rede pública de ensino.
Confira abaixo críticas ao Enem 2020
A deputada federal, Tabata Amaral, se manifestou.
Outros repercutiram o vídeo divulgado pelo MEC, ressaltando as desigualdades sociais.
Os memes também não ficaram de fora:
Projetos do Senado podem suspender Enem
Os senadores estão avaliando dois projetos de lei quesuspendem o calendário de provas do Enem 2020. Entre os motivos apontados, segundo a Agência Senado, estão os problemas na aplicação de matérias e perda de tempo de preparação pelos alunos devido à pandemia do novo Coronavírus.
Um dos PLs é o de nº 1.277/2020, da senadora Daniella Ribeiro (PP/PB), que altera as diretrizes e bases da educação nacional para permitir que, em períodos de situação de emergência ou calamidade pública, todas as aulas possam ser ministradas por meio do Ensino a Distância (EaD).
A parlamentar também propõe a prorrogação automática das atividades escolares para ingresso às universidades, em caso de calamidade pública:
"Principalmente em relação ao Enem, já que os estudantes estão sem aulas e ainda sem previsão para o retorno. Muitos estados e municípios brasileiros não têm acesso à internet para as videoaulas da educação a distância. Nesse caso é justificável, por causa da pandemia, o adiamento das provas para um segundo momento. E aí, sim, essa discussão se daria de acordo com o andamento da Covid-19 no país", diz.
O outro projeto (137/2020) foi apresentado pelo senador Izalci Lucas (PSDB-DF), para suspender os editais do governo federal que determinam as datas para a realização das provas deste ano.
No texto, o senador considera "inoportuna" a publicação dos editais em face da emergência epidemiológica da Covid-19, que levou o Brasil a reduzir drasticamente as atividades escolares.
As inscrições para o Enem 2020 ocorrem entre os dias 11 e 22 de maio, por meio do site do Inep. O Instituto, órgão vinculado ao Ministério da Educação, definiu os dias 22 e 29 de novembro para a realização das provas digitais do Exame, que serão aplicadas pela primeira vez nesse formato.
Já as provas impressas ocorrerão nos dias 1º e 8 de novembro. O calendário do Exame Nacional do Ensino Médio foi divulgado em março.
UNE pede suspensão do calendário do Enem
A União Nacional dos Estudantes (UNE), uma das principais representantes de alunos do ensino superior do país, divulgou uma nota a favor do adiamento do calendário do Enem, para que estudantes não tenham o ingresso na universidade prejudicado pela crise da Covid-19.
Por isso, a organização organizou um abaixo-assinado no site adiaenem.com.br, com o objetivo de conseguir a suspensão. Até esta terça-feira, 5, 71.896 pessoas já haviam assinado. O objetivo inicial era chegar a 40 mil.
Confira trecho da nota:
"Diferente do que diz o Ministro (da Educação) é absurdo pensar que os estudantes estão em igualdade de condições nessa situação, e que atividades a distância poderiam solucionar o problema da suspensão das aulas. Muitos desses jovens sequer têm acesso às ferramentas necessárias para atividades virtuais, e mesmo que tivessem sabemos que o aproveitamento do ensino-aprendizagem fica fortemente em defasagem em relação às atividades presenciais.
Defendemos a suspensão do edital, e um novo debate sobre o cronograma do ENEM propondo o adiamento da aplicação das provas e buscando soluções para ajuste dos calendários em conjunto com a rede de ensino básico e de ensino superior brasileiras".