Tecnoestresse: doença moderna é realidade entre muitos profissionais

Especialista explica o que é o tecnoestresse, doença que vem impactando diversos profissionais e se intensificou durante pandemia do novo Coronavírus.

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Publicado em:19/10/2020 às 13:10
Atualizado em:19/10/2020 às 13:10

Você já ouviu falar de “Tecnoestresse”? O termo, que faz referência a um estado psicológico negativo relacionado ao uso de tecnologias, está ganhando cada vez mais popularidade.

O uso da tecnologia, que já vinha aumentando nos últimos anos, disparou após o início da pandemia do novo Coronavírus. Durante o período de isolamento social, muitas atividades passaram a ser realizadas online, inclusive tarefas de trabalho. 

O aumento repentino no uso da tecnologia no dia a dia tem afetado alguns usuários de maneira negativa. Entre os principais sintomas apresentados por quem faz o uso contínuo de tecnologia em sua rotina estão: ansiedade, descrença, fadiga e ineficácia.

A psicóloga Ana Carolina Peuker, CEO e fundadora da healthtech Bee Touch, empresa pioneira na mensuração digital de risco e avaliações psicológicas, esclareceu as principais dúvidas sobre o assunto. 

enlightenedA tecnologia da Bee Touch auxilia a gestão de risco psicológico em empresas e, com o uso de ferramentas ágeis e eficientes, a startup usa data science, aliando inteligência, precisão e qualidade na análise de resultados a fim de criar ambientes de trabalho psicologicamente seguros.

O que é tecnoestresse? 

Segundo Ana Carolina, a tecnoestresse pode ser considerada uma doença moderna. A psicóloga alertou que o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) no trabalho deixam as pessoas mais vulneráveis ao estresse psicológico, o chamado tecnoestresse.

“O conceito de tecnoestresse está diretamente relacionado aos efeitos psicossociais negativos decorrentes do uso de TICs, como problemas de sono, exaustão mental, ansiedade, entre outros. As TICs foram amplamente incorporadas em vários setores da economia e fazem parte da nossa vida diária. Contudo, têm pessoas que se sentem muito tensas diante desta necessidade”, destacou a psicóloga.

Um dos motivos para o surgimento de sentimentos negativos, como fadiga e sensação de incompetência, é o fato desses recursos exigirem dos usuários um processo de adaptação. Isso inclui novas habilidades comportamentais e de manuseio.

 

Mulher trabalhando
Tecnotresse está ligada ao uso das Tecnologias da Informação e Comunicação
(TICs) no trabalho (Foto: Divulgação)

Quais cuidados as empresas e os profissionais devem tomar para evitar o tecnoestresse?

Na opinião da especialista, a pandemia favoreceu o aumento do estresse causado pelo uso excessivo de tecnologia. 

“Hoje, o trabalho remoto se tornou uma realidade, mesmo para aqueles que não a utilizavam em seu dia a dia laboral. Além disso, há uma maior exposição às redes. 

Com o distanciamento social, as pessoas precisaram recorrer mais às TICs para permanecerem em contato com seus amigos e familiares e se atualizarem em relação às notícias. Toda essa necessidade de adaptação provocada pela tecnologia gera consequências físicas e psicológicas”, alertou.

Ana Carolina ainda ressaltou que muitos problemas psicológicos têm surgido com mais intensidade ultimamente. Entre eles, a dependência de internet, problemas de sono e de humor.

“Devemos assumir que o mundo mudou e que as mudanças serão permanentes. Hoje, o mundo é híbrido: físico e digital. Portanto, o tecnoestresse já é uma realidade para muitos”, diz.

As empresas podem auxiliar seus colaboradores debatendo o tema e os capacitando para a identificação precoce deste tipo de estresse, além de promover medidas de prevenção.

“O tema da saúde mental é pouco debatido, mas tem um impacto sistêmico na organização, afetando as pessoas e os resultados organizacionais”, reforçou.

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Como diagnosticar e tratar a tecnoestresse?

Um dos sintomas possíveis de identificar é a fadiga (mental e cognitiva), ocasionada pelo uso contínuo de TICs. Outro fator que pode ser observado é o estado ansioso frente ao uso da tecnologia e o sentimento de incompetência.

“Muitas pessoas tem apresentado, por exemplo, fobia de abrir a câmera em videoconferências, o que parece estar atrelado a uma dimensão do tecnoestresse relacionada a sentimentos negativos sobre sua própria capacidade.”

A psicóloga ainda alertou que é importante identificar no ambiente organizacional o perfil de risco para o desenvolvimento do tecnoestresse. “Esse rastreio é fundamental para que sejam delineadas intervenções preventivas. Os treinamentos e capacitações devem abranger, além dos aspectos técnicos, as implicações psicológicas do uso de TICs.”

A Bee Touch, por exemplo, faz o rastreio do risco psicossocial através de tecnologia. Por meio dos dados apurados, é possível estratificar o risco em saúde mental e identificar aqueles colaboradores que podem estar em risco.

Os gestores ainda podem acompanhar em tempo real análises populacionais e tomarem decisões mais assertivas, baseada nas informações. Segundo a psicóloga, somente com o diagnóstico e monitoramento em saúde mental adequados é possível definir um plano de ação que atenda as demandas identificadas de forma efetiva.

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Quais ações as empresas precisam desenvolver para criar esse ambiente de trabalho psicologicamente seguro?

Ana Carolina destacou que um ambiente de trabalho psicologicamente seguro envolve a adequada avaliação dos fatores de risco psicossociais. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT) estes riscos decorrem da interação do trabalho, ambiente e de sua organização contrapostos com as capacidades pessoais do colaborador, suas necessidades, sua cultura e estilo de vida privada. 

“Quando estes riscos não são devidamente avaliados, passam despercebidos pelas pessoas, podendo ser vistos apenas como "cansaço" ou "esgotamento" — em certos casos, há estigma e preconceito — e esses fatores acabam sendo negligenciados”, aponta a especialista.

Segundo a psicóloga, a partir de uma avaliação bem conduzida, é possível identificar esses fatores, suas causas e tratá-los de forma precoce para que não acarretem problemas maiores para as pessoas, como a síndrome de Burnout e o de suicídio.

Ana Carolina defende que as empresas precisam implementar uma gestão dos riscos psicossociais. Assim, é possível rastrear as potenciais consequências físicas e psicológicas nos colaboradores e estabelecer um plano de ação adequado às características da sua população. 

“Além disso, a organização pode desenvolver políticas e medidas preventivas em relação à saúde mental. Isso repercute na diminuição dos riscos de acidentes de trabalho, na redução dos índices de sinistralidade, absenteísmo, afastamentos e melhoria da produtividade e beneficia a qualidade de vida dos colaboradores.”

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