Transempregos divulga vagas para pessoas trans em todo país

Projeto visa ampliar a empregabilidade de pessoas LGBTQI+ em todo o Brasil

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Publicado em:09/06/2020 às 16:30
Atualizado em:09/06/2020 às 16:30

Junho é o mês em que o mundo todo se une para celebrar o Orgulho LGBTQI+. O mês foi escolhido em homenagem à Rebelião de Stonewall, realizada em 1969, em Nova York, como forma de protesto à violência policial contra homossexuais.

A luta do público LGBTQI+ para garantir condições igualitárias na sociedade perpassa por diversos aspectos, incluindo a questão da empregabilidade. Apesar de muitas empresas já olharem com mais atenção para essa causa, ainda faltam políticas públicas que garantam a essas pessoas o acesso ao mercado de trabalho.

FOLHA DIRIGIDA conversou com Maite Schneider, co-fundadora do Transempregos, portal que reúne vagas de empregos para pessoas trans de todo o Brasil. Maite falou sobre as dificuldades do acesso da comunidade LGBTQI+ a diferentes postos de trabalho no país.

Segundo ela, as empresas têm melhorado suas visões em relação à diversidade. No entanto, a principal dificuldade das companhias é entender como elas podem gerir isso:

“Muitas empresas querem encher seus espaços de diversidade sem se preocupar, de fato, em fazer uma cultura verdadeiramente inclusiva. É uma escolha péssima, porque se você amplia a diversidade, principalmente de pessoas mais vulneráveis, em um ambiente que não está preparado, você mata essa diversidade.”

Militante da causa, Maite Schneider defendeu que, ao implementar uma cultura organizacional mais inclusiva, mesmo que seja um processo mais demorado, naturalmente os colaboradores começam a entender e aceitar melhor a diversidade. A especialista ainda destacou que este deve ser um tópico presente no DNA da empresa.

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“Ainda vemos muitos falando sobre diversidade e inclusão nas áreas de Responsabilidade Social, Marketing, RH e não no resto da empresa. Parece que não é uma questão que interessa para ao restante. Diversidade tem que estar no DNA da empresa, no DNA dos funcionários”, enfatizou.

 

LGBT
Pessoas LGBTQI+ sofrem com a falta de iniciativas públicas (Foto: Pixabay)

Para pessoas Trans, conseguir uma vaga no mercado de trabalho é ainda mais difícil

Para os integrantes da comunidade LGBTQI+, especialmente as pessoas trans, conseguir uma colocação no mercado de trabalho é desafiador por uma série de questões. A primeira delas é vencer o preconceito.

Por exemplo, segundo um dado apurado pela própria Transempregos, internamente, dos quase 16 mil currículos recebidos, 40% contam com cursos de graduação, mestrado ou doutorado. E mesmo assim, essas pessoas estão fora do mercado de trabalho.

Apesar disso, para a maioria das pessoas trans a capacitação ainda é uma barreira. Muitas acabam deixando a escola por não suportar as piadas, acusações e o bullying sofrido. Consequentemente, sem a devida capacitação, se torna muito mais difícil a inserção no mercado de trabalho.

“Pessoas trans, normalmente, querem mostrar que são as melhores em tudo. Elas precisam acreditar mais em si mesmas e ir atrás do maior número de capacitações possíveis”, aconselhou Maite.

Outra questão destacada é o fato de que, muitas vezes, essas pessoas acabam assumindo postos de trabalho em empresas que nunca tiveram contato com um funcionário trans anteriormente. Por conta disso, além do trabalho para qual foi contratada, ela acaba assumindo a função de “educar” os demais colaboradores.

“Isso é extremamente cruel porque tem pessoas trans que não querem. Elas querem ir para o trabalho e executar aquela função para qual foram contratadas, mas acabam fazendo outro papel, ajudando o RH e fazendo campanhas de marketing”, percebe. 

Maite Schneider
Maite Schneider é militante da causa LGBTQI+ no Brasil
(Foto: Arquivo Pessoal)

Transempregos atua auxiliando empresas e quem está em busca de colocação profissional

O Transempregos atua, justamente, na facilitação dos acessos de pessoas trans a oportunidades de trabalho e na preparação das empresas para receber esse público. Hoje em dia, a plataforma conta com quase 16 mil currículos cadastrados. O projeto, que tem pouco mais de cinco anos, atua em três frentes de atuação:

1. Informação

Por meio da Transpempregos são realizadas palestras nas empresas, explicando quem são as pessoas trans e tirando dúvidas. O projeto integra a inciativa “Agora Vai”, uma parceria da Transempregos com outras 17 empresas, que trabalham na elaboração de cartilhas explicativas e mentorias.

2. Banco de currículos e oferta de vagas

Atualmente são 450 empresas que trabalham em parceria com a Transempregos oferecendo vagas para pessoas trans. Entre elas, Atento, CIEE, Unesco, Netflix, C&A e outras. No site do projeto, estão disponíveis ofertas de vagas e cursos de capacitação voltados para esse público.

3. Consultorias

“Tem empresas que já estão muito à frente e querem os melhores talentos perto delas independentemente de orientação e identidade de gênero. Conhecendo a missão, os valores e princípios dessas empresas, o Transempregos as ajuda a organizarem planos para além da empregabilidade, de maneira possam agregar propósito e responsabilidade social”, explica Schneider.

A meta para os próximos anos é garantir que essas companhias possam, sozinhas, implementar um ambiente inclusivo dentro de suas organizações. Maite explicou que o Transempregos foi um projeto pensado para atuar por 15 anos, de modo que a ideia é que passados mais dez anos, a iniciativa possa encerrar suas atividades:

“Não queremos que seja um projeto para a vida inteira. Por isso, ensinamos as empresas a serem mais inclusivas.” 

As oportunidades oferecidas no site são atualizadas diariamente. As vagas de empregos são enviadas pelas próprias empresas. Todos os serviços oferecidos são gratuitos. Os que não encontrarem vagas alinhadas ao seu perfil podem cadastrar seus currículos no site do projeto, para oportunidades futuras.

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Faltam políticas públicas voltadas às causas LGBTQI+ no Brasil

Para Maite, o grande problema do Brasil é a desigualdade social. E, quando se olha para as minorias (LGBTQI+, portadores de deficiência, mulheres, negros), a situação é ainda mais crítica. Nesse sentido, ainda faltam políticas públicas que tratem, especificamente do grupo LGBTQI+.

“Até hoje não temos um Censo. O IBGE não pergunta sobre identidade de gênero, sobre a orientação das pessoas, então não temos dados. Ficamos nos baseando em dados dos EUA, dados de fora do Brasil, porque não tem nada internamente”, reivindicou. 

Algumas empresas já se movimentam para realizar levantamentos próprios. Entre elas, a multinacional Atento, que por meio de uma pesquisa identificou que 1,3 mil profissionais que atuam na companhia são transexuais. Os dados são referentes ao ano de 2018.

Também faltam iniciativas públicas para ampliar o acesso dessa comunidade à universidade e a cursos de preparação: “Temos uma educação que não trata as pessoas com equidade e a distribuição de renda é outro fator que faz com que essas pessoas sejam excluídas.”

Maite relatou que muitas empresas estão enxergando além da empregabilidade e assumindo, também, o papel de prover a essas pessoas cursos de capacitação. 

“As chamadas empresas inteligentes são aquelas que pensam de que maneiras elas podem fazer com que a educação seja potencializada. Fazer com que cada pessoa descubra o melhor de si mesma e, a partir disso, se torne um ser humano cada vez mais potente e consciente da sua essência, podendo construir e edificar em qualquer área que esteja”, finaliza.